Deputada Dani Balbi (PCdoB-RJ) discursou durante a Parada LGBT+ de 2023. (foto acervo pessoal)

As cores do arco-íris dão o tom à orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (19). É a 28ª edição da Parada LGBTI+, a mais antiga do país. Além de celebrar a diversidade, organizadores do Grupo Arco-Íris e participantes pedem o combate a retrocessos que ameaçam direitos de lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e interssexuais, com o lema “O Amor, a Cidadania e a Luta LGBTI+ Jamais Vão Recuar”.

Um dos retrocessos que os organizadores e apoiadores da parada apontam é o Projeto de Lei 580/2009 no Congresso Nacional que prevê proibir casamento entre pessoas do mesmo sexo, direito garantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2011. Os organizadores esperam que a Parada não seja apenas uma marcha, mas também um manifesto contra qualquer retrocesso nos direitos conquistados pela comunidade ao longo dos anos. 

A deputada Dani Balbi (PCdoB), primeira transsexual da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), defendeu maior participação das pessoas LGBTI+ na política.

“Se o segmento LGTBI+ não está ocupando os parlamentos municipais, estaduais e federal, há um déficit de representatividade. É muito importante que, cada vez mais, ocupemos esse espaço para materializar as políticas públicas para buscar uma sociedade mais equânime”, disse. “Ainda morremos bastante, temos uma série de direitos desrespeitados, dificuldades em relação ao mercado de trabalho, ao ensino”, pontuou.

Em suas redes, ela considerou o evento histórico, pelos milhares que ocuparam as ruas de Copacabana. “Que momento lindo poder dar a mão para aqueles que caminham comigo e, juntos, colorirmos a Praia de Copacabana num único objetivo: transformar nosso estado em um espaço que respeite a liberdade e a diversidade.”

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

No Brasil, de acordo com o primeiro levantamento oficial feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há pelo menos 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais que se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. Ainda não foram feitos levantamentos nacionais oficiais do restante da população LGBTQIAP+.

Para Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris e coordenador-geral da marcha, o evento mostra que pode-se “fazer luta com muita garra, mas também alegria e celebração. A gente pode celebrar com o punho em riste. Nós temos nossa própria dinâmica enquanto movimento social”.

“Muito emocionado. Momento de orgulho pra comunidade LGBT ocupar as ruas, dizer que a discriminação não pode continuar acontecendo (…) É tão lindo ver tanta gente na rua, só pedindo paz, amor, respeito. É muito pouco para as pessoas continuarem discriminando tantas outras por causa da sua sexualidade. Esse mar de gente em Copa só quer paz”, disse o presidente do Grupo Arco-Íris, Cláudio Nascimento.

Os organizadores e apoiadores ressaltaram ainda que a pauta do evento não é uma luta exclusiva para a comunidade LGBTI+. “Não precisa ser LGBTI+ para defender direitos LGBTI+”, disse Carlos Tufvesson, coordenador executivo da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio. “Eu não preciso ser negro para ser contra o racismo”, comparou.

“Em mais de 20 anos de militância, nunca imaginei que fossem tirar direitos nossos. Mais do que nunca, a gente tem que entender que esses direitos não estão 100% assegurados”, disse Tufvesson, em referência ao PL 580.

Um dos trios elétricos na orla representa a temática da defesa de direitos de negros, indígenas e religiões de matriz africana, que também sofrem discriminação.

Para animar os participantes, houve oito trios elétricos na Avenida Atlântica. As cantoras Lexa e Valéria Barcellos foram as convidadas a se apresentar ao lado de mais de 50 artistas da comunidade LGBTI+.

“Na minha família, meu irmão é gay. Vejo o preconceito dentro da nossa família. A gente tem que defender o amor, essa é a maior mensagem. Para isso, a gente traz a música e a leveza”, afirmou Lexa.

A partir desta edição, Valéria terá a responsabilidade de ser a voz do Hino Nacional durante as paradas.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Cidadania e saúde

Além da celebração da diversidade, do combate à LGBTIfobia e aos retrocessos, o evento é um espaço para o cuidado da saúde da população.

A prefeitura do Rio montou um estande para oferecer vacinação, testagem de sífilis e hepatites, e informações sobre PrEP e PEP. A Fiocruz também faz acompanhamento. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é um método preventivo que consiste no uso diário de um comprimido antirretroviral por pessoas que não vivem com o HIV, mas que estão expostas à infecção. A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é uma medida preventiva de urgência que atende indivíduos já expostos ao vírus por diferentes motivos.

Parceiros como o Tribunal de Justiça, Defensoria Pública e Ministério Público estão em trailers na Avenida Atlântica prestando serviços de cidadania. O posto avançado faz atendimentos de possíveis situações de LGBTIfobia ou outros delitos nas áreas criminal, cível, violência doméstica, entre outros.

Turismo

O tradicional desfile na orla de Copacabana é o terceiro evento que mais atrai turistas para o Rio de Janeiro, atrás apenas do Carnaval e do Réveillon. Apesar disso, a previsão de ocorrer em 29 de setembro teve que ser adiada devido à falta de patrocínio no evento.

O Grupo Arco-Íris alega que enfrenta grande dificuldade de captar patrocínio para a realização da festa que costuma levar milhares de pessoas à Avenida Atlântica. Apesar de a data da celebração ter sido anunciada com mais de um ano de antecedência, para atender às determinações organizacionais dos órgãos públicos, do setor de turismo e de possíveis patrocinadores, a doação de recursos foi insuficiente para realizar a Parada no prazo determinado.

Segundo Cláudio Nascimento, mais de 80 empresas foram contatadas. Nascimento afirmou que mesmo com o investimento da Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Coordenação da Diversidade Sexual da Secretaria da Casa Civil, a organização não conseguiu recursos mínimos necessários para montar o evento.

Freixo e Claudio Nascimento durante a entrevista coletiva em que o Governo Federal se juntou aos governos locais para fazer a Parada acontecer. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

“Essa parada faz o dono do hotel ganhar, o vendedor de mate ganhar, o motorista do Uber. É uma cadeia democrática. A gente está dinamizando uma economia”, disse o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo. A edição deste ano tem apoio da empresa do governo federal, que garantiu que o evento ocorresse.

“Essa é uma agenda mundial. E o Brasil neste ano, nós pela Embratur, representando o governo brasileiro, a gente voltou pra uma plataforma mundial de organizações que tem exatamente a parada LGBT. Porque não é um momento isolado. A parada LGBTI é um símbolo, é uma demonstração de civilização, de modernidade, de relacionamento, de projeto de sociedade, que tem a ver com liberdade, que tem a ver com a possibilidade das pessoas serem respeitadas nas suas opções e isso tem uma relação com a economia também”, disse Freixo.

“A parada não é uma coisa que termina em um dia. É um processo civilizatório. A gente quer que o mundo visite um Brasil que não é racista, não é machista, onde as trans não são assassinadas. Esse é o país que estamos construindo”, declarou.

Cezar Xavier com informações da Agência Brasil