Pacientes obrigados a sair do hospital invadido pelas hordas israelenses | Foto: AN

Sob a mira de armas, o exército de ocupação israelense forçou no sábado (18) centenas de pacientes e a maior parte das equipes médicas a evacuarem o hospital Al Shifa, o maior e mais moderno de Gaza, tomado na quarta-feira, depois de cinco dias de ataques e cerco.

Na quinta-feira, o exército ocupante havia realizado uma encenação no Al Shifa, exibindo meia dúzia de armas plantadas, na pretensão de “provar” que o hospital era o comando central do Hamas, uma coisa tão mal feita, que mereceu reparos desde a BBC até o Jerusalém Post, que classificou a coisa toda de “anticlímax”.

Os pacientes palestinos, o pessoal médico e os abrigados no Al Shifa foram obrigadas a levantar bandeiras brancas enquanto caminhavam entre uma fila com tanques e soldados israelenses de ambos os lados, denunciou à Al Jazeera Munir Al Barsh, diretor-geral do Ministério da Saúde palestino.

“Os familiares foram forçados a carregar seus filhos feridos ou os próprios pais”, ele acrescentou. Quem pôde, foi levado de cadeira de rodas ou leito com rodinhas. “São cenas horríveis, sem precedentes.”

Ismail al-Thawabta, porta-voz do escritório de mídia palestino em Gaza, disse que o exército israelense expulsou mais de 500 feridos e pacientes sob a mira de armas. “O Hospital Al-Shifa se transformou em um campo de detenção, um centro de interrogatório, um quartel militar e vala comum”.

Um correspondente da agência de notícias do Qatar assinalou que as forças israelenses não forneceram às pessoas que evacuavam à força nenhum meio de transporte, combustível para ambulâncias ou carros para transferir pacientes. “Portanto, esperavam que as pessoas fugissem a pé”, disse Youmna El Sayed.

HUMILHAÇÃO

O diretor-geral dos hospitais de Gaza, Mohammed Zaqout, disse à Al Jazeera que a direção do Al Shifa recebeu a ordem do exército israelense de “evacuar dentro de uma hora” às 8h [hora local], por uma rota onde – ele sublinhou – “corpos carbonizados” estavam espalhados pela rua.

Al Barsh relatou que o exército israelense exigiu que os que saíam acenassem com um lenço branco e andassem em uma única fila. “Eles foram humilhados por soldados ao longo de toda a estrada”.

Segundo os médicos do Al Shifa forçados a deixar o hospital, a tropa de ocupação ordenou que as pessoas caminhassem pela rua Al Rashid, não pela rota habitual que as pessoas que vão para o sul devem tomar – a rua Salah al-Din.

Zaqout repudiou as alegações do comando israelense de que “não ordenara” a evacuação, o que rechaçou “categoricamente”. “Estou dizendo a vocês, fomos forçados a sair sob a mira de uma arma.”

Só ficaram no hospital “pacientes que não podem se mover, amputados e aqueles com condições críticas”, além de um punhado de médicos e auxiliares, disse Muhammad Abu Salmiya, diretor do Hospital al-Shifa.

Por volta do meio-dia, restavam 120 pacientes gravemente doentes no hospital, incluindo bebês prematuros. “O hospital, agora, é uma casa fantasma no sentido literal da palavra”, disse ele.

A AFP confirmou que um de seus jornalistas, no hospital, ouviu a ordem de evacuação pelos autofalantes. Al Barsh estava entre os forçados a sair e caminhou pelo menos dois quilômetros. Ele disse que estava indo para o Hospital da Indonésia para continuar seu trabalho.

“A evacuação de Al Shifa aprofunda a catástrofe humanitária e ambiental que Gaza enfrenta”, denunciou, desde Ramallah, a Autoridade Palestina. As ações de Israel representam “outra faceta hedionda dos crimes de limpeza étnica e genocídio cometidos pelas forças de ocupação contra os palestinos”.

Porta-voz do Hamas, em Beirute, Osama Hamdan, chamou a evacuação forçada do maior hospital de Gaza de “mais um episódio de uma série de crimes israelenses” contra palestinos. O Hamas também responsabilizou o governo Biden e outros cúmplices de Israel pelos crimes cometidos no Al Shifa. “Rejeitamos veementemente o plano de deslocamento do inimigo, e centenas de milhares de nosso povo ainda estão no norte da Faixa de Gaza”.

Ismail al-Thawabta, diretor-geral do escritório de mídia do governo em Gaza, disse que o exército israelense expulsou mais de 500 feridos e pacientes sob a mira de armas. “O Hospital Al-Shifa se transformou em um campo de detenção, um centro de interrogatório, um quartel militar e vala comum”, disse ele.

31 BEBÊS PREMATUROS JÁ NO SUL

Trinta e um bebês palestinos prematuros foram evacuados do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu como uma “zona de morte”. Os bebês foram levados para um hospital na cidade de Rafah, no sul do território, perto da fronteira com o Egito.

Segundo registrara o correspondente da Al Jazeera El Sayed, originalmente eram 39 bebês que ficaram sem incubadoras, por causa da falta de eletricidade e oxigênio. “Quatro morreram na noite de sexta-feira e cinco estão gravemente doentes agora”.

A invasão do hospital foi repudiada pelo secretário da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, que se disse “horrorizado”. “É inaceitável tornar o Al Shifa em campo de batalha”, ele sublinhou. Nas instalações do Al Shifa estavam abrigados cerca de 7 mil palestinos expulsos de seus lares.

“É um crime de guerra. Um crime de guerra completo”, disse o diretor do Al Shifa, Muhammed Abu Salmiya,.

Como relatou um funcionário do hospital, assim que invadiram o complexo hospitalar com tanques, os israelenses exigiram que todos os indivíduos com mais de 16 anos se rendessem e fossem revistados. “As forças israelenses levaram os homens detidos nus e com os olhos vendados”, relatou um funcionário do hospital. Os israelenses, ele acrescentou, “não trouxeram ajuda ou suprimentos, só trouxeram terror e morte.”

Mesmo antes da invasão, sob o cerco militar, o corte de combustível, eletricidade, remédios, comida e água, a situação no Al Shifa era terrível, com operações tendo de ser feitas sem anestesia e o cheiro da morte tomando conta do hospital.

Na terça-feira, havia sido preciso cavar uma vala comum no pátio enterrar mais de uma centena de corpos mortos.

O cirurgião Ahmed El Mohallalati relatou por telefone que um dos grandes tanques [israelense] entrou pelo portão principal leste e “estacionou na frente da emergência do Al Shifa”. “Um momento totalmente assustador para as famílias, os civis abrigados no hospital com seus filhos, a equipe que está cuidando de seus pacientes e para os próprios pacientes”, disse.

O Al Shifa não foi o único hospital em que a lei internacional foi abertamente violada pelo regime israelense. No hospital Al Alhi, um ataque matou quase 500 civis. Os israelenses também atacaram o Al Quds, o hospital pediátrico e o hospital turco, especializado em tratamento do câncer, além de ambulâncias e equipes de socorro.

A encenação dentro do Al Shifa que, para o Jerusalém Post, deveria ser “o maior momento da guerra” – por supostamente ser o momento em que Israel iria mostrar ao mundo o fantasioso bunker de comando do Hamas dentro do hospital -, acabou sendo, nas palavras do jornal, um “anticlímax”.

A fragilidade da farsa não passou despercebida, ainda, pela BBC, pelo New York Times e pelo Washington Post.

Piedosamente, o Jerusalém Post observou que os “equipamentos” encontrados pelo exército israelense no Al Shifa eram uma “prova fraca”.

Opinião compartilhada por cariocas que, rotineiramente, vêem na tevê exibição de armas capturadas pela polícia nos morros da cidade.

O mais ridículo foi que a BBC reparou que, na apresentação ao vivo aos repórteres, havia um fuzil a mais do que no vídeo exibido a eles, como se alguém tivesse achado que estava difícil da história colar…

Também causou estranheza que profissionais do ramo, como os combatentes do Hamas, fossem escolher, para guardar armas, logo atrás do equipamento de ressonância magnética.

Também foi de causar pena o esforço do porta-voz da turnê pelo hospital invadido de fazer alguém acreditar que uma reles câmara de vídeo num recinto – que supostamente estaria coberta – era prova de que ali estiveram os chefões do Hamas em algum momento.

Pateticamente, o Jerusalém Post indagou: “Será que 200 integrantes do Hamas, que a inteligência das IDF afirma estarem presentes no Hospital Shifa depois do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, desapareceram do nada?”.

“As Forças Armadas Israelenses mostraram equipamento militar escondido atrás de uma máquina de ressonância magnética, itens de inteligência e câmaras de vigilância cobertas para proteger a gravação dos movimentos do Hamas – mas esta é uma prova bastante escassa tendo em conta a dimensão das reivindicações das IDF”, acrescentou o jornal israelense.

Também a BBC e o New York Times revelaram que os repórteres só puderam seguir o script traçado pelo exército israelense e não puderam entrevistar nem conversar com ninguém no hospital. Igualmente pouco convincente foi a exibição do buraco que disseram ser acesso aos “túneis do Hamas”.

Fonte: Papiro