Presença de tropas israelenses coloca em risco a vida de palestinos mesmo com o cessar-fogo temporário | Foto: Reprodução

Teve início em Gaza nesta sexta-feira (24) a primeira trégua depois de sete semanas de morticínio e limpeza étnica, para a troca de 50 reféns israelenses por 150 presos palestinos – mulheres e crianças – e ingresso de 1200 caminhões de ajuda humanitária.

No entanto, nas primeiras horas da trégua (que Israel assume como intervalo para troca de detidos e depois continuar o morticínio), tropas de Israel violaram o cessar-fogo e, de acordo com o relato da Associated Press, pelo menos duas pessoas foram mortas e outras 11 foram baleadas nas pernas ao tentarem retornar para o norte pela estrada de Saladin. Os feridos foram levados para o hospital Al Aqsa.

Centenas de palestinos, que foram expulsos para o sul do enclave palestino sob as bombas israelenses, foram vistos caminhando para o norte, tentando retornar para suas casas. Um desses palestinos, Sofian Abu Amer, disse à AP que decidiu voltar para sua casa apesar dos riscos. “Não temos roupas, comidas e bebidas suficientes”, disse. “A situação é desastrosa. É melhor uma pessoa morrer.”

A trégua será de quatro dias, conforme acordo mediado pelo Qatar e pelo Egito, e no primeiro dia serão libertados 13 israelenses e 39 palestinos. Israel já divulgou a lista dos cativos em seu poder que serão devolvidos às suas famílias.

As forças israelenses ameaçaram os palestinos para que não voltem a seus lares através de folhetos atirados de helicópteros e transmissões em árabe via rádio.

Os presos e reféns a serem libertados serão entregues à Cruz Vermelha Internacional no decorrer da trégua.

De acordo com a rede de TV do Qatar Al Jazeera, prisioneiras palestinas na prisão de Damon, perto de Haifa, estão sendo levadas para o centro de detenção de Ofer, perto de Ramallah, antes de serem libertadas como parte do acordo de troca.

A Al Jazeera conversou com o pai de uma palestina, que está presa há oito anos, e que viu que o nome de sua filha estava na lista de troca. Ele relatou que foi impedido de entrar no presídio para visitá-la. Para ele, é “um dia alegre”, embora seja difícil comemorar, dado o que vem acontecendo na Faixa de Gaza.

A Al Jazeera também conversou com outras famílias cujos filhos e parentes apareceram na lista de troca. Eles são de Belém, Jericó, Jenin, de toda a Cisjordânia ocupada.

Em Tel Aviv, famílias dos cativos em Gaza disseram à Al Jazeera, desde a “Praça dos Reféns, que a libertação é “uma mensagem de esperança”. Como já fizeram várias vezes nas últimas semanas, os parentes das pessoas detidas em Gaza montaram uma mesa de Shabat, o dia de descanso judaico, com cadeiras vazias.

As pessoas também distribuíam flores amarelas, que chamavam de “buquês de esperança”. Houve ainda apresentações musicais, com música religiosa e canções sobre o regresso das pessoas, relatou a repórter Sara Khairat.

O exército israelense disse que quatro helicópteros com equipes médicas e soldados a bordo serão encarregados de completar o retorno dos cativos após sua recepção, que após acolhimento inicial e tratamento médico, serão reunidos com suas famílias em hospitais.

A Agência Nacional de Notícias oficial do Líbano disse que uma “calma precária” voltou à fronteira sul do país em conjunto com a pausa nos combates em Gaza.

Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina, disse que a libertação de alguns prisioneiros palestinos das prisões israelenses é “promissora”, pois pode “abrir o caminho para uma troca completa de prisioneiros”.

“Isso significa a libertação de todos os prisioneiros palestinos colocados em prisões israelenses, muitos dos quais – pelo menos 1.200 – estão sem as devidas acusações, sem o devido processo legal”, disse ele à Al Jazeera.

Barghouti disse que os acontecimentos recentes mostraram que três “tabus” do governo israelense foram quebrados.

O primeiro deles foi aceitar que houvesse uma troca de pessoas sendo realizada, disse ele. O segundo foi aceitar uma pausa por quatro dias, acrescentou Barghouti.

“Em terceiro lugar, Netanyahu disse que a única maneira de lidar com o Hamas é extirpá-los completamente e agora ele está negociando com eles e até fazendo um acordo com eles.”

“Mas a coisa mais importante que não devemos esquecer é que este cessar-fogo deve continuar porque os massacres em Gaza têm de parar”, disse Barghouti.

De acordo com o Clube dos Prisioneiros Palestinos, um grupo de defesa dos direitos humanos, Israel mantém atualmente 7.200 palestinos presos por acusações de segurança ou condenações, incluindo cerca de 2.000 presos desde o início da guerra.

A ofensiva israelense matou quase 15 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, e cerca de 6 mil foram dados como desaparecidos, muitas provavelmente sob escombros. Dois terços dos mortos são crianças e mulheres.

Nem hospitais, escolas da ONU, mesquitas e prédios residenciais escaparam às bombas e tiros de tanque israelenses. Mais de uma centena de funcionários da ONU e 53 jornalistas foram mortos em Gaza desde 7 de outubro, entre outros crimes de guerra cometidos por Israel.

Fonte: Papiro