"Vamos modificar as equações em favor da justiça para a Palestina", defendeu o presidente sírio | Foto: AFP

“Gaza nunca foi a ‘causa”, a Palestina é a causa e Gaza uma materialização da sua essência, uma expressão fragrante do sofrimento do seu povo”, afirmou na cúpula árabe-islâmica da semana passada em Riad o presidente sírio Bashar Al Assad, que acrescentou que a última agressão a Gaza é apenas um acontecimento num longo contexto que remonta a 75 anos de crimes de Israel.

A cúpula extraordinária, realizada no sábado (11), reuniu 57 países árabes e muçulmanos, no contexto dos massacres perpetrados por Israel em Gaza e em toda a Palestina.

Para Assad, o extraordinário nessa cúpula “não é a agressão nem o assassinato, porque ambos são permanentes, imanentes na entidade e um traço da sua personalidade”. O extraordinário – ele acrescentou é que Israel “se superou em termos de barbárie”.

O que nos confronta – ele enfatizou – com responsabilidades imensas e sem precedentes, pelo menos humana e politicamente, se deixarmos de lado a segurança nacional da nossa região.

“A questão mais importante é: ‘O que é que os palestinos precisam de nós?’. Eles precisam da nossa ajuda humanitária em primeiro lugar? Ou eles precisam, prioritariamente, da nossa proteção contra o seu futuro extermínio?”.

Sem verdadeiros instrumentos para exercer pressão, ele advertiu, “nenhuma das nossas ações e nenhum dos discursos que fizermos fará sentido”.

“No mínimo, temos ferramentas políticas eficazes e não simplesmente declarativas, antes de tudo, travando o processo político em direção à entidade sionista com tudo o que isso implica em termos econômicos ou outros; sendo a sua retomada condicionada pela cessação imediata, a longo prazo e não momentânea, dos crimes cometidos contra todos os palestinos e em toda a Palestina, bem como pela autorização da entrada imediata de ajuda em Gaza.”

Para Bashar, apenas exortações e divagações serão infrutíferas, “pela ausência de um sócio, de um patrocinador, de uma referência ou de uma lei, e pela impossibilidade de recuperar um direito quando o criminoso se tornou juiz e o ladrão se tornou um árbitro. E este é o caso do Ocidente hoje”.

Então – conclamou Bashar -, “vamos usar estas ferramentas e aproveitar a mudança em nível internacional, que abriu portas políticas bloqueadas durante décadas para cruzarmos e modificarmos as equações, para que as almas preciosas caídas na Palestina sejam o preço digno pelo que poderíamos ter alcançado no passado e que devemos alcançar no presente e no futuro”.

Na íntegra, o discurso do presidente sírio Bashar Al Assad:

Gaza nunca foi a “causa”, a Palestina é a causa e Gaza uma materialização da sua essência, uma expressão fragrante do sofrimento do seu povo. Falar disso isoladamente pode enganar a bússola, porque é parte de um todo e um passo numa trajetória.

E a última agressão a Gaza é apenas um acontecimento num longo contexto que remonta a 75 anos de crimes sionistas e 32 anos de uma paz condenada, cujo único e absoluto e irrefutável resultado é que a “entidade” se tornou mais agressiva e a situação palestina mais injusta, com ainda mais opressão e miséria. As terras não foram devolvidas e os direitos não foram restaurados nem na Palestina nem no Golã.

Esta situação gerou uma equação política cujo teor é que mais clemência árabe para com eles equivale a mais ferocidade sionista para conosco, e que mais mãos estendidas da nossa parte equivalem a mais massacres contra nós.

À luz de uma equação tão clara, não é possível discutir a agressão a Gaza isoladamente do contexto dos massacres sionistas contra os palestinos no passado e da continuação indubitável deste contexto no futuro.

À luz de uma equação tão clara, não nos é possível dissociar este crime permanente da forma como nos comportamos, como Estados Árabes e Muçulmanos, face à repetição de acontecimentos, compartimentando-os e separando-os da causa palestina. Manter hoje um comportamento tão sistemático face à agressão em Gaza significa que estamos preparando o caminho para massacres contínuos até ao extermínio do povo e à morte da causa.

O extraordinário da nossa cimeira de hoje não é a agressão nem o assassinato, porque ambos são permanentes, imanentes na entidade e um traço da sua personalidade.

O extraordinário é o sionismo que se superou em termos de barbárie. O que nos confronta com responsabilidades imensas e sem precedentes, pelo menos humana e politicamente, se deixarmos de lado a segurança nacional da nossa região.

Do ponto de vista humanitário, não há disputa entre nós quanto ao nosso dever de nos responsabilizarmos mais uma vez por grande parte da satisfação das necessidades vitais essenciais dos palestinos, quer através da ajuda imediata, quer através da reconstrução da infraestrutura necessária posteriormente. Mas será que vamos continuar a girar no círculo vicioso dos assassinatos e da ajuda, depois dos massacres e do apoio, dos ataques e dos comunicados de imprensa?

A questão mais importante é: “O que é que os palestinos precisam de nós?”. Eles precisam da nossa ajuda humanitária em primeiro lugar? Ou eles precisam, prioritariamente, da nossa proteção contra o seu futuro extermínio? Este é o nosso papel e é aqui que reside o nosso trabalho político. Mas se não tivermos os verdadeiros instrumentos para exercer pressão, nenhuma das nossas ações e nenhum dos discursos que fizermos fará sentido.

No mínimo, temos ferramentas políticas eficazes e não simplesmente declarativas, antes de tudo, travando o processo político em direção à entidade sionista com tudo o que isso implica em termos econômicos ou outros; sendo a sua retomada condicionada pela cessação imediata, a longo prazo e não momentânea, dos crimes cometidos contra todos os palestinos e em toda a Palestina, bem como pela autorização da entrada imediata de ajuda em Gaza.

Quanto a falar de dois Estados, do lançamento da operação de paz e de outros detalhes e direitos, estes não são uma prioridade neste momento nesta situação de emergência, apesar da sua importância. Principalmente porque sabemos que falar e discutir sobre isso será infrutífero e vão, pela ausência de um sócio, de um patrocinador, de uma referência ou de uma lei, e pela impossibilidade de recuperar um direito quando o criminoso se tornou juiz e o ladrão se tornou um árbitro. E este é o caso do Ocidente hoje.

É apenas por nossa vontade, meus irmãos, e longe de todos os nossos pedidos aos Estados ocidentais, instituições internacionais e outros, para que assumam as suas responsabilidades, enquanto apenas assumem responsabilidades colonialistas históricas baseadas na opressão e pilhagem dos povos… Foi apenas através da nossa vontade, através da opinião pública popular torrencial nos nossos países, e através da nova realidade que a corajosa Resistência Palestina impôs na nossa região, que possuímos tais ferramentas políticas.

Então, vamos usar estas ferramentas e aproveitar a mudança a nível internacional, que abriu portas políticas bloqueadas durante décadas para cruzarmos e modificarmos as equações, para que as almas preciosas caídas na Palestina sejam o preço digno pelo que poderíamos ter alcançado no passado e que devemos alcançar no presente e no futuro.

Fonte: Papiro