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O presidente eleito Javier Milei venceu a disputa eleitoral na Argentina com propostas pouco factíveis com a realidade, como, por exemplo, a não realização de negócios com Brasil e China, os dois principais parceiros comerciais do país. Neste sentido, a bravata se estendia ao Mercosul, pelo qual teceu críticas e ameaçou com a saída da Argentina.

Agora, ao se deparar na porta da presidência, por pressão de setores ‘macristas’ e prudência, Milei não esperou assumir o cargo em 10 de dezembro e ser pego com a realidade batendo à porta da Casa Rosada.

As demonstrações de um choque de realidade do candidato de extrema-direita começaram pelas alianças com os setores que chamava de “velha política” da Argentina. A aliança com o ex-presidente Mauricio Macri, como forma de ter alguma governabilidade no Congresso, irá levar para dentro do governo Milei figuras que tanto atacou, como a candidata de Macri e terceira colocada nas eleições, Patricia Bullrich, anunciada como próxima ministra da Segurança, cargo que já ocupou.

Depois Milei baixou o tom e chegou a agradecer nas redes sociais o presidente chinês Xi Jinping pela carta recebida que o parabenizava pela eleição.

Outro aspecto que chamou a atenção foi a transição com o governo peronista de Alberto Fernández. Muitos acreditam em certa distância, mas assim que eleito Milei se encontrou com o atual presidente. O fato chamou a atenção no Brasil, pois, em sentido oposto, Bolsonaro se escafedeu do país para não se encontrar com Lula.

O mais recente fato foi a presença ‘surpresa’ da futura chanceler argentina Diana Mondino no Itamaraty. Ela trouxe uma carta de Milei convidando Lula para a posse presidencial, em uma demonstração de boa vontade para que se aparem as arestas que o próprio argentino criou com suas declarações polêmicas e aproximação com Bolsonaro.

No encontro, o ponto que chamou a atenção, relevado em coletiva pelo chanceler brasileiro Mauro Vieira, foi o indicativo trazido por Mondino de um Mercosul maior e mais forte, contrariando as bravatas do período eleitoral de saída dos hermanos. Além disso, ela manifestou apoio total ao acordo Mercosul-União Europeia, que inclusive Lula terá reuniões nesta semana com vias de avançar para um desfecho positivo.

Brasil-Argentina

A relação econômica entre Brasil é Argentina é profunda. Os nossos vizinhos são o terceiro destino das exportações brasileiras, atrás apenas de China e Estados Unidos.  

Com os dados mais atualizados, no período acumulado de Janeiro/Outubro 2023, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) Brasil- Argentina somou US$ 25,05 bilhões.

Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços

Nos dez meses em relação a igual período do ano anterior, as vendas brasileiras para a Argentina cresceram 12,5% e atingiram US$ 14,90 bilhões.

Conselho Industrial do Mercosul

Setores industriais dos países membros do Mercosul estiveram reunidos nesta segunda-feira (27), durante o XI Fórum Empresarial do Mercosul. O grupo do Conselho Industrial do Mercosul é formado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI-Brasil), pela União Industrial Argentina (UIA), pela União Industrial Paraguaia (UIP) e pela Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU).

Do encontro saiu uma declaração conjunta em que o Conselho ressalta o compromisso pelo “desenvolvimento do Mercosul para estimular o crescimento econômico sustentado e aprofundar ainda mais a parceria estratégica entre os países da região”, além de defender a conclusão do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia, conforme aponta a CNI.

Este é mais um indicativo que o setor empresarial e industrial argentino, representados aqui pela União Industrial Argentina (UIA), deverá atuar para barrar qualquer arroubo de Milei no sentido de romper laços com os países do bloco nos próximos anos.

Segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi: “Cada R$ 1 bilhão exportado pelo país [Brasil] para o Mercosul, em 2022, gerou quase 25 mil empregos e mais de R$ 550 milhões em renda na economia brasileira”, explicou.