Manifestantes pelo cessar-fogo e solidários à Palestina tomaram a frente da Casa Branca | Foto: Drew Angerer/AFP

Grupos progressistas liderados por jovens publicaram na terça-feira (8) uma carta aberta alertando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que o apoio de seu governo ao genocídio cometido por Israel em Gaza pode custar milhões de votos jovens nas eleições presidenciais do próximo ano e, inclusive, a reeleição.

São signatários líderes de grupos como Marcha por Nossas Vidas, Geração Z pela Mudança e Movimento Sunrise (Nascer do Sol). “Escrevemos a você para emitir um aviso muito duro e inconfundível: você e a posição de seu governo sobre Gaza correm o risco de milhões de jovens eleitores ficarem em casa ou votarem em terceiros no próximo ano.”

“Rogamos a você que use todas as ferramentas disponíveis para mediar um cessar-fogo, agora, e reviver o processo de paz.”

“Pedimos um cessar-fogo e um retorno seguro para todos os reféns. Defenda a humanidade no cenário internacional. Não continue a permitir crimes de guerra por meio de palavras, atos ou dólares”, clamaram os signatários. “Acreditamos que você não está nos ouvindo sobre essa questão e estamos profundamente preocupados com as possíveis consequências.”

“Os jovens são a pedra angular de uma coalizão democrática vencedora, e a grande maioria dos jovens neste país está legitimamente horrorizada com as atrocidades cometidas com nossos dólares de impostos, com seu apoio e o apoio militar de nossa nação”, adverte a carta.

“Não passamos horas e horas a bater à porta e a fazer apelos para votar para que pudessem apoiar o massacre indiscriminado de civis e as violações do direito internacional. Eles relembraram a Biden que foi a participação recorde de jovens em 2020 que “empurrou sua chapa para além da linha de chegada em Estados-chave em disputa”.

Muitos de nós – acrescenta a carta – trabalhamos para fornecer a fonte crítica de apoio aos democratas nas eleições de meio de mandato de 2022 que impediram a Onda Vermelha e agora compartilham a convicção de que a eleição de 2024 será uma das mais importantes da história americana.

A carta sinaliza o impacto dos “mais de 1.400 israelenses, 10.000 palestinos em Gaza e 100 palestinos na Cisjordânia ocupada que foram mortos”, no contexto de “duas décadas de guerra sem fim que custaram milhares de vidas americanas e milhões de vidas em todo o mundo” e da ameaça de uma extensão da guerra ao Oriente Médio, com a entrada de tropas norte-americanas diretamente no conflito.

2/3 DOS JOVENS SE OPÕEM AO ENVIO DE MAIS ARMAS A ISRAEL

Afirmando que “não há como um candidato presidencial democrata vencer sem entusiasmo e mobilização significativos dos eleitores jovens”, os ativistas citaram uma pesquisa recente da Quinnipiac mostrando que quase dois terços dos eleitores com menos de 35 anos se opõem ao envio de mais ajuda militar dos EUA a Israel.

A mesma pesquisa descobriu que seu índice de aprovação entre eleitores com menos de 35 anos caiu para apenas 25%”.

Apenas cerca de 1 em cada 5 entrevistados aprova a forma como Biden está lidando com a guerra entre Israel e o Hamas. “Embora sejam os jovens particularmente contrários a entregar um cheque em branco aos militares israelenses, 80% dos democratas e 66% de todos os prováveis eleitores apoiam um cessar-fogo”, enfatiza a carta.

Ainda, a maioria dos eleitores democratas ou aqueles sem filiação partidária se opõe à ajuda militar dos EUA a Israel, de acordo com uma pesquisa CBS/YouGov de 19 de outubro.

Segundo pesquisa do Gallup divulgada na semana passada, o índice de aprovação de Biden entre os democratas caiu dois dígitos desde o mês passado, afundando para o nível mais baixo de sua presidência – com uma queda particularmente acentuada entre os jovens democratas.

SIMPATIA PELA CAUSA PALESTINA

Outro dado importante é que, segundo as pesquisas e pela primeira vez desde o início da sondagem, os eleitores democratas simpatizam mais com os palestinos do que com os israelenses – mesmo antes do atual ataque de Israel a Gaza.

Biden – que no início da guerra declarou seu apoio “sólido e inabalável” a Israel – solicitou mais de US$ 14 bilhões em ajuda militar adicional dos EUA para Israel, além dos quase US$ 4 bilhões já dados anualmente. Na semana passada, a Câmara dos deputados aprovou o pedido de Biden.

O chefe da Casa Branca foi acusado também de negação do genocídio por lançar críticas a relatórios de vítimas de Gaza de agências palestinas que seu próprio governo havia citado recentemente como confiáveis. Biden também se opõe a um cessar-fogo em favor de uma nebulosa “pausa humanitária”.

Líderes progressistas, incluindo a deputada Rashida Tlaib, têm condenado o apoio de Biden ao genocídio, enquanto muitos jovens que protestam contra a guerra passaram a chamá-lo de “Joe Genocida”.

No Estado-chave de Michigan, vencido por Biden por apenas 150.000 votos em 2020, ativistas árabes e muçulmanos que detestam Trump disseram que não votarão em Biden, muito menos se mobilizarão por ele. “Você não pode ganhar esta eleição apenas dizendo à nossa geração que você é o menor dos dois males”, enfatiza a carta a Biden.

“Para o bem dos palestinos, dos israelenses, da moral, da humanidade, de seu próprio futuro político e da própria democracia americana: pedimos que faça tudo o que estiver ao seu alcance para interromper o atual ciclo de violência e passar do caminho da guerra para o caminho da paz e da justiça.”

“As decisões que vocês tomaram até agora em torno de Gaza tornaram mais difícil para nós convencer nossas comunidades a se organizarem e conseguirem a votação em 2024. Pedimos que reverta o curso o mais rápido possível, conclui a carta. “Fique do lado certo da história. Seu legado está na balança.”

À Rolling Stone, o diretor de comunicações do grupo progressista Democratas pela Justiça, Usamah Andrabi, disse achar que a aposta que Biden está fazendo é que “os jovens, como tantos eleitores, não se importam com a política externa”.

Vivemos – ele observou – “duas décadas de guerras fracassadas e intermináveis. Decisões fracassadas de política externa do nosso governo. E os jovens estão ativos em relação a isso.”

“Eles sempre estiveram no centro do movimento pró-paz neste país”, acrescentou Andrabi. “E é vergonhoso o presidente pensar que, daqui a um ano, eles vão esquecer que ele deu sinal verde ao genocídio em Gaza”.

Fonte: Papiro