Após estímulo dos rabinos, ambulâncias foram atacadas no hospital Al Shifa | Foto: Reprodução

O respeitado site judaico Mondoweiss denunciou que um grupo de rabinos fanáticos israelenses escreveu uma carta ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu atribuindo a Israel – supostamente sob a lei judaica – o “direito” de bombardear o hospital Al-Shifa em Gaza, o principal hospital da Faixa, o que, pela lei internacional, é crime de guerra.

Entre os signatários, estão o mentor espiritual do cúmplice-mor de Netanyahu, Itamar Ben-Gvir, e outros ‘religiosos’ tristemente célebres por, anteriormente, justificarem a morte de bebês palestinos – portanto, qualificados por eles de ‘inimigos’ – no livro “Torá do Rei”, em 2009.

Antes da carta, a força de ocupação israelense já havia bombardeado o hospital Al Ahli, matando quase 500 civis palestinos, ao tempo em que exigia a evacuação de 24 hospitais. Ao todo, 69 hospitais, clínicas e postos de saúde já foram atacados, além de ambulâncias.

Como observa o Mondoweiss, as alegações de Israel de que o Hamas está usando os hospitais Shifa e Al Quds como bases “não podem ser verificadas e, independentemente disso, um ataque a instalações de saúde é proibido pelo direito internacional”.

O site lembra, ainda, que Israel em 2014 já havia atacado o Shifa, além de outros três hospitais. “Mas agora, os rabinos estão garantindo aos líderes de Israel que tal crime de guerra seria aceitável pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó”, assinala Mondoweiss.

De acordo com os fanáticos, “quando o inimigo se esconde atrás de um ‘escudo humano’, como acontece com as informações sobre o, assim denominado pelas autoridades israelenses, quartel-general terrorista no hospital Shifa em Gaza – não há determinação halachica [lei religiosa judaica] ou proibição moral, nem legal, que se interponha ao bombardeio do inimigo, após aviso suficiente. E se, sob tal ação, sangue inocente for derramado, a culpa estará exclusivamente nas cabeças dos assassinos cruéis [do Hamas] e seus apoiadores”.

O primeiro signatário da carta é Dov Lior, aliás, ex-rabino de Kiryat Arba e guru “espiritual” de Gvir. Outro signatário é Yitzhak Shapira, um dos autores do “Torá do Rei”, que prega insanamente o assassinato de “bebês palestinos inimigos”, pois poderiam, no futuro, vir a combater a ocupação.

Sobre as alegações da força de ocupação quanto a supostos bunkers do Hamas sob os hospitais, o Mondoweiss reproduziu trecho da entrevista do Dr. Mads Gilbert, médico norueguês que trabalhou repetidamente no hospital Shifa, ao portal norte-americano Democracy Now.

“Ouvimos essas reivindicações desde 2009. Fomos ameaçados duas vezes para deixar o Hospital Shifa, em 2009 e 2014, porque os israelenses iam bombardeá-lo porque era um centro de comando. Agora, eu trabalho em Shifa há 16 anos, 16 anos dentro e fora, em períodos muito agitados. Consegui andar livremente. Eu tiro muitas fotos. Eu filmo. Eu estive dormindo no hospital durante o bombardeio. Já passei por tudo. Nunca fui restringido, controlado. Ninguém nunca controlou minha foto e material de documentação. Então, bem, se houver um centro de comando, mostre-nos. Você tem fotos e filmes de raio-X de toda Gaza, todos os túneis, tudo. Então, por que esses 16 anos de ameaças de que o Shifa é um centro de comando não receberam nenhuma evidência de que de fato é? Agora, se fosse um centro de comando militar, eu não trabalharia lá, porque obedeço à Convenção de Genebra, número um”.

“Número dois, se os israelenses afirmam que este é um alvo misto militar-civil, porque obviamente é civil, com dezenas de milhares de pessoas reunidas lá e 2.000 pacientes sendo tratados – se for um alvo misto militar-civil, as precauções civis têm prioridade sobre as militares. Então, de acordo com a Convenção de Genebra, você não pode bombardear hospitais, a menos que eles tenham funções militares muito claras”.

“Então, para mim, tudo isso faz parte dessa imensa intimidação do povo palestino em Gaza. Eles são ameaçados com panfletos dos aviões e dos helicópteros. Eles são ameaçados por telefonemas. Eles são ameaçados por, você sabe, ‘Se você ficar no norte de Gaza agora, nós o definimos como um terrorista’. O que é isto? 2023, dois milhões e meio – 2,2 milhões de pessoas, civis, desarmados sendo mortos, uma criança morta a cada 10 minutos. Até agora, o número de crianças palestinas mortas é de 3.324, e há 2.062 crianças palestinas desaparecidas em Gaza.”

Fonte: Papiro