Pai carrega criança morta na cidade de Khan Yunis, uma das mais atacadas ao sul da Faixa de Gaza | Foto: AFP

“Mais de 2.400 crianças morreram em Gaza nos últimos 17 dias, e outras 27 na Cisjordânia”, informou a organização humanitária Save the Children, assinalando que mais de um milhão de crianças estão “aprisionadas” em Gaza por conta do bloqueio de Israel sem um lugar seguro para onde ir, e advertiu sobre os efeitos devastadores da falta de medicamentos e eletricidade para alimentar infraestruturas vitais de saúde na região.

“Apelamos a todas as partes para que tomem medidas imediatas para proteger a vida das crianças e à comunidade internacional para apoiar esses esforços”, disse a organização não governamental de defesa dos direitos da criança no mundo com sede em Londres, acrescentando que os ataques aéreos israelenses estão “matando e ferindo crianças indiscriminadamente”.

Na madrugada de terça-feira (23), pelo menos 28 pessoas morreram na Cidade de Gaza depois que aviões de guerra israelenses dispararam três mísseis contra casas no acampamento Al-Shat e também na cidade de Beit Lahiya. Mulheres e crianças foram a maioria das vítimas.

Dentro de Gaza, isolada do mundo pelo desumano bloqueio de Israel, os ataques aéreos dizimaram bairros inteiros, destruindo casas, escolas e mesquitas. Imagens de drones mostraram o nível de destruição, com ruas inteiras arrasadas no bairro de Al Rimal, e muitos edifícios conhecidos como torres Al Zahra, no centro de Gaza, destruídos.

“Gaza está atualmente sem energia”, denunciou Galal Ismail, chefe da autoridade energética de Gaza.

Ismail acrescentou que os moradores da região ainda obtêm um pouco eletricidade por meio de geradores, mas devido ao bloqueio em todas as fronteiras com Israel, o combustível necessário para o funcionamento das máquinas está acabando.

HOSPITAIS À BEIRA DO COLAPSO

Os hospitais estão à beira do colapso, operando com mais de 150% da capacidade e a situação da falta de energia tornou-se tão grave que as cirurgias estão sendo realizadas sem anestesia e, em alguns casos, sob a iluminação de luzes telefônicas, afirmou o Ministério da Saúde palestino.

Cerca de 50 mil mulheres grávidas têm dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, ocorrem cerca de 166 partos inseguros por dia e mais de 5 mil mulheres deverão dar à luz no próximo mês, acrescentou.

Apesar da urgência, nenhum caminhão de combustível entrou em Gaza como parte de um comboio de ajuda humanitária proveniente da fronteira egípcia de Rafah nestes dias, segundo autoridades israelenses e da ONU e ministros israelenses seguem dizendo que não permitiram a entrada de combustível, apesar dos anúncios de que isso deixará os hospitais totalmente inoperantes.

“O sistema de saúde [em Gaza] atingiu o pior estado da sua história”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde, Ashraf Al-Qudra, num comunicado divulgado nesta terça-feira.

Um médico neonatologista que trabalha num hospital no sul de Gaza disse à CNN, na segunda-feira, que os bebês prematuros que dependem do fornecimento de oxigênio morrerão se não for fornecido combustível com urgência à região.

Hatem Edhair, chefe da UTI neonatal do Complexo Médico Nasser, assinalou que todas as instalações não emergenciais foram desligadas, assim como as luzes e o ar condicionado.

Ele relatou que há 11 bebês na sua unidade de cuidados intensivos neonatais – a maioria pesando menos de 1,5 quilogramas – com risco de vida e que as taxas de admissão estão aumentando à medida que os residentes do norte de Gaza devem se deslocar para o sul.

As condições nos abrigos improvisados ​​nas escolas das Nações Unidas, onde mais de 380 mil pessoas estão acampadas na esperança de escapar aos bombardeios, apenas agravam o problema.

Às vezes há 100 pessoas dormindo em cada sala de aula, necessitando de limpeza contínua. Há pouca eletricidade e água, por isso os banheiros e sanitários estão muito sujos, descreve Nidal al-Mughrabi em reportagem publicada pela Agência Reuters.

“Nossos filhos sofrem muito à noite. Eles choram a noite toda, fazem xixi sem querer e não tenho tempo de limpá-los, um após o outro”, explica Tahreer Tabash, mãe de seis crianças abrigadas em uma escola.

Mesmo lá eles não estão seguros. Escolas foram atacadas diversas vezes, segundo as Nações Unidas, e Tabash viu ataques a edifícios próximos. Quando seus filhos ouvem o movimento de uma cadeira, eles pulam de medo, relata.

Fonte: Papiro