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Na tarde desta segunda-feira (2), a Prefeitura de Porto Alegre realizou o leilão da empresa de ônibus de Porto Alegre Carris, no auditório da Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio (SMAP) da capital gaúcha e concluiu a privatização da companhia.

O lance vencedor foi da Empresa de Transporte Coletivo ‘Viamão’ Ltda, que já opera linhas na região Metropolitana da Capital, arrematando a estatal por R$ 109,9 milhões.

O leilão tinha como valor mínimo R$ 109,8 milhões e envolveu a venda de todas as ações, o patrimônio, incluindo ônibus e terrenos, e a concessão das 20 linhas operadas pela Carris por um período de 20 anos, correspondendo a 22% do sistema de transporte coletivo da Capital. O primeiro lance da vencedora foi apenas R$ 2 mil acima do mínimo estabelecido.

O prefeito Sebastião Melo (MDB), que promoveu o sucateamento da estatal nos últimos anos, disse agora que a privatização pode ser benéfica para o sistema de transporte público. Sem qualquer fundamento, Melo promete que a venda da estatal pode “impactar no valor da passagem”.

“Essa desestatização significa qualificar o serviço, porque você está reduzindo custos, o que impacta no valor da passagem, além de possibilitar a renovação da frota”, disse. Apesar disso, reconhece que o interesse limitado de empresas não é surpreendente, dado o cenário desafiador do transporte público atual.

A empresa vencedora, fundada em 1953, já opera linhas entre Viamão e Porto Alegre, bem como linhas urbanas em Viamão e Alvorada, mantendo o nome Carris após a incorporação. Estima-se que a frota total da empresa aumentará para 550 veículos, com a necessidade de adquirir cerca de 60 ônibus nos primeiros 12 meses de atuação, conforme o edital.

Apesar das justificativas da Prefeitura para a privatização, incluindo o alto custo de operação e a necessidade de melhorias no serviço, críticos argumentam que a Carris já foi uma das melhores empresas de transporte do Brasil, premiada pela Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) nos anos de 1999 e 2001. A queda de qualidade aconteceu após o modelo de gestão adotado pela Prefeitura ao longo das últimas décadas.

Fundada em 1872 como Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense, a empresa tem uma história rica no transporte público da cidade, começando com bondes puxados por mulas e evoluindo para a eletrificação em 1908.

Fazendo críticas à privatização, o sindicato da categoria protestou em frente à sede da Carris e 11 das 21 linhas da empresa não circularam durante o dia em protesto contra a venda.

Para muitos porto-alegrenses, a privatização da Carris representa uma preocupação, pois uma consulta pública conduzida pela própria Prefeitura em 2022 mostrou que 88% são contrários a privatização.

A privatização da empresa por Melo não garante a manutenção dos empregos. Octávio Marcantonio Bortoncello, sócio da Viamão, afirmou que a empresa “vai selecionar” os profissionais que deseja preservar. “Acredito que, como toda empresa, deve ter excelentes profissionais. Vamos selecionar aqueles que são dedicados, que são focados. Com certeza, o nosso intuito está em preservar essas pessoas. Vai ter que ser feita uma avaliação e uma adequação ao tamanho e a realidade que a tarifa impõe”, disse.

A política de mobilidade, focada apenas no mercado, é prejudicial, pois negligencia o direito ao transporte de qualidade e à circulação na cidade. Em vez de abordar problemas como superlotação e qualidade dos ônibus, a opção da Prefeitura tem sido transferir responsabilidades para o setor privado, prejudicando os usuários.

Nesse contexto, a oportunidade de investimentos federais, com o PAC, e outras possibilidades para melhorar o transporte coletivo da cidade, o prefeito preferiu praticamente doar a empresa ao setor privado abrindo mão de um projeto sustentável de transporte coletivo de qualidade.

Fonte: Página 8