Militarização mira o Oriente Médio e os direitos do povo do Chipre
Durante o 23° Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO) em Izmir, Turquia, a chefe de relações internacionais e assuntos europeus do Partido Progressista do Povo Trabalhador de Chipre (Akel), Vera Polycarpou, compartilhou uma visão franca e incisiva sobre a situação atual na região do Oriente Médio e Mediterrâneo Oriental. Em uma entrevista conduzida pela jornalista Moara Crivelente, que representou o PCdoB no EIPCO, a dirigente partidária delineou as complexidades geopolíticas e os desafios enfrentados pela região, destacando a necessidade urgente de cumprir o direito internacional e buscar a paz.
A região do Oriente Médio e Mediterrâneo Oriental tem sido marcada por décadas de conflitos e guerras, alimentadas por interesses imperialistas e injustiças históricas. Para Vera, a presença de recursos energéticos e a localização estratégica da região tornam-na um ponto focal para disputas e conflitos.
A região é uma encruzilhada de três continentes – Europa, Ásia e África – e serve como ponto de ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico. No entanto, a competição por recursos e interesses geopolíticos resultou em um ambiente de conflito perpétuo.
Vera Polycarpou discursa posições do Akel-Chipre durante encontro de PCs na Turquia
“Tudo isso forma um problema muito grave, porque esses interesses colocam a região sempre em conflito e fica claro quem são os amigos de quem”, afirmou.
Vera destacou o papel de Israel e da Turquia na região, descrevendo-os como “estados policiais” aliados aos interesses da OTAN e dos Estados Unidos. Embora possam ocasionalmente parecer em desacordo, esses dois estados trabalham em conjunto para servir a seus próprios interesses e, muitas vezes, contra os interesses dos povos da região.
Defesa do direito internacional
A dirigente do Akel enfatizou que a resolução do conflito israelense-palestino é fundamental para a estabilidade na região. A ausência de um Estado Palestino independente, com Jerusalém Oriental como capital, e o direito de retorno dos refugiados palestinos representam barreiras significativas para a paz.
Para Vera, ninguém pode negar que não viu e não sabia da tragédia na Palestina, que está se desenvolvendo diante dos olhos de toda a humanidade. Apesar disso, ela observa que as mentiras continuam se acumulando. Ela se questiona se os cristão vão “abrir os olhos” diante da negativa de Israel de que bombardeou o hospital, enquanto é evidente o bombardeio a uma de suas igrejas ortodoxas.
“Isso não é uma coisa religiosa, porque o que vimos todos esses anos era uma expansão israelense cotidiana. Tem ocupado tudo o que seria o Estado Palestino”, avalia. Ela mencionou a violência de colonos israelenses contra os palestinos no dia a dia, fora os prisioneiros políticos ou o apartheid em que os filhos palestinos não têm direito à saúde ou à educação. “E uma total impunidade de Israel!”, indigna-se.
O cerne da questão, de acordo com a dirigente partidária, é a necessidade de acabar com a injustiça contra o povo palestino. Ela enfatiza a importância de seguir as resoluções das Nações Unidas e do Conselho de Segurança para alcançar uma solução justa e duradoura para o conflito israelense-palestino.
Para Vera e seu partido, a base para uma solução está no direito internacional e nas resoluções das Nações Unidas, particularmente do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Ela pediu a solidariedade internacional para alcançar a paz e a justiça na região e condenou a impunidade de Israel.
“Somos países pequenos, e sem isso [respeito ao direito internacional] não temos nada. Por isso, apostamos no direito internacional e nas resoluções das Nações Unidas, do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral”, afirmou.
Ponto comum entre cipriotas e palestinos
3% da ilha é ocupada por bases militares e de inteligência estrangeiras mirando para o Oriente Médio
Vera compartilhou a experiência do Chipre, um país dividido desde 1974 pela ocupação turca. Ela expressou seu desejo de reunificar o país sob uma federação comum, onde todos os cipriotas, gregos e turcos, possam desfrutar igualdade política. “Temos, ainda hoje, desaparecidos turco-cipriotas e grego-cipriotas. Então, a ferida ainda está aberta. Eu sou refugiada. Eu não posso voltar à propriedade, à casa dos meus pais. Os turcos-cipriotas podem voltar e ficar, mas nós não”, compara.
A militarização em Chipre, a presença de bases estrangeiras e o aumento das tensões em toda a região foram destacados como preocupações urgentes. Vera enfatizou a necessidade de uma solução pacífica para Chipre e pediu a união de forças progressistas e anti-imperialistas para enfrentar os desafios mundiais.
Com uma base militar britânica e uma parte do território ocupada pela Turquia, Chipre representa uma região geopoliticamente sensível. Ela comparou seu país a “um porta-aviões que não se pode afundar”, frequentemente usado para ocupações e ataques a países como o Iraque, a Síria, o Afeganistão, a Líbia, etc. “O Chipre é o território mais militarizado do mundo, de acordo com as Nações Unidas”.
Ela destaca a necessidade de desmilitarizar a região, especialmente em um momento em que o mundo enfrenta crescentes tensões militares. Ela mencionou a cúpula ocorrida no Egito, convocada pelo presidente Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, para discutir o conflito, envolvendo líderes da Rússia, China e EUA. “Parece que uma guerra deste tamanho não serve a ninguém, nesse momento. Porque não se sabe o que vai acontecer”, avaliou. “Isso não pode continuar, pois é insustentável. Temos que acabar com essa situação de militarização, que está nos levando a uma situação sem saída por todo o mundo”.
O papel das grandes potências, incluindo China, Rússia e Estados Unidos, é crucial, e é essencial unir forças para buscar a paz e evitar conflitos que possam resultar em consequências devastadoras para o planeta. “É uma militarização enorme envolvendo também Alemanha e Holanda. O Chipre é onde estão os porta-aviões de todo o mundo, além de uma base de drones. Para qualquer deflagração que houver, todos estarão no ar, imediatamente”, alertou.
Ela ressalta a urgência de agir em prol do direito internacional, do respeito aos direitos humanos e da justiça global. Suas palavras ecoam a necessidade de buscar soluções baseadas no direito internacional, justiça e paz para essas áreas atormentadas pela guerra e pelo conflito.
(por Cezar Xavier e Moara Crivelente)