Portugueses exigem que Estado construa moradias populares | Foto: Reprodução

Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Portugal neste sábado (30) para denunciar o aprofundamento da crise imobiliária e exigir a intervenção do Estado na construção de moradias e pelo “fim dos preços insuportáveis, dos despejos e demolições”.

“As medidas tomadas são ínfimas. Temos uma taxa de construção muito baixa do ponto de vista social”, informou o porta-voz do movimento Justa Vida, Nuno Ramos de Almeida, frisando que o objetivo dos protestos é “responder às políticas habitacionais e à falta de políticas ambientais”, que só tem aumentado a insegurança.

Conforme a fundação portuguesa Francisco Manuel dos Santos, entre 2012 e 2021 o custo da habitação aumentou 78% em Portugal, contra 35% no conjunto da União Europeia, tornando a sobrevivência extremamente caótica.

Para Ramos de Almeida, “tem que haver uma intervenção regulatória do Estado”, pois os salários portugueses se encontram “abaixo do preço das casas”. “O aumento dos salários é mais do que necessário. Não podemos viver numa situação em que os salários não sejam suficientes para alimentação e habitação. Foi o que aconteceu na época do fascismo”, acrescentou.

A gravidade do problema da habitação é latente, esclareceram os manifestantes, desde que Portugal, ameaçado de falência, recorreu ao sistema financeiro internacional em 2011. Com a especulação imobiliária aberta ao capital estrangeiro, graças a uma série de medidas como os “vistos gold” – autorizações de residência concedidas a ricos que buscam ganho fácil – ou vantagens fiscais para reformados estrangeiros, tais “investidores” aplicaram na “dinamização” do mercado imobiliário. Desta forma, potencializaram lucros com a “renovação” das grandes cidades, que viram proliferar a habitação turística de curta duração.

Foi desta forma que senhoras como dona Alcina, de 49 anos, da noite para o dia teve seu aluguel multiplicado por 20, passando de US$ 32 para US$ 635. Incapaz de fazer frente a este atropelo, lhe solicitaram que deixasse o apartamento num bairro do centro de Lisboa, onde vive desde os seis anos de idade. “Não sei para onde ir”, protestou esta senhora, que cuida do pai, de 89 anos, numa cadeira de rodas, e do marido, de 61 anos, que sofre de câncer.

Na avaliação de Diogo Guerra, porta-voz do coletivo Referendo para a Habitação, “manifestação é urgente, mas temos muito medo que depois desta sejam necessárias muitas mais, porque claramente temos um governo que não está governando para aqueles que o elegeram, mas pelos interesses dos setores imobiliário e turístico”.

A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, defendeu a relevância do protesto para que sejam ouvidas as importantes vozes “sobre um problema real”. Neste sentido recordou o pacote de medidas aprovado em fevereiro para facilitar o acesso à habitação, mas vetado pelo presidente português em agosto. Na semana passada, o Parlamento aprovou novamente esse programa sem alterações. O pacote inclui o arrendamento forçado de casas vazias há mais de dois anos e um limite de renda para casas já existentes no mercado.

Foram confirmadas manifestações em 25 cidades, entre elas Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Funchal e Porto.

Fonte: Papiro