Marcha em Dusseldorf também exigiu “paz sem a Otan” e “liberdade para Assange" | Foto: Pravda

Manifestações pelo “dia da reunificação” na Alemanha, o 3 de outubro, se transformaram em protestos contra o envio de armas ao regime de Kiev, as sanções à Rússia e a subserviência do premiê alemão Olaf Scholz a Washington. Os principais atos ocorreram em Dusseldorf, Berlim, Dresden e Hamburgo.

Em Dusseldorf, manifestantes pediram “paz sem OTAN” e “liberdade para Assange”, o editor do WikiLeaks ameaçado de extradição para os EUA por ter denunciado os crimes de guerra no Iraque e Afeganistão.

Ouvida pela agência de vídeo Ruptly, uma ativista disse que “durante 70 anos, os EUA têm agitado uma guerra após a outra. Supostamente, trata-se de democracia, mas, na realidade, trata-se de recursos naturais”. Outra oradora denunciou como Scholz, que descreveu como um “poodle” de Washington, ficou mudo ao lado do presidente Biden quando este anunciou na Casa Branca que iria eliminar o Nord Stream 2.

Foi por motivo da discussão sobre a reunificação alemã que os EUA prometeram ao então presidente Gorbachev não alargar a OTAN para leste “uma polegada sequer”.

Na capital alemã, com bandeiras e faixas mais de quatro mil pessoas repudiaram o envio de armas à Ucrânia e exigiram uma solução diplomática para o conflito, bem como a retomada da cooperação com Moscou. Sob as sanções e a quebra da relação com a Rússia que possibilitava o fornecimento de gás barato para a indústria alemã, a crise na locomotiva europeia não dá mostras de amainar, com os preços da energia tendo chegado a patamares insuportáveis para a população. A marcha, que começou perto da Catedral de Berlim, terminou com um comício no parque Lustgarten, no centro.

O ato também pediu a renúncia de Scholz, pelos erros cometidos na política de energia, e a antecipação de eleições. Os manifestantes seguravam cartazes pedindo a cabeça da ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, cuja mais recente provocação foi prometer uma União Europeia alargada de “Lisboa a Lugansk” – isto é, terras historicamente de ascendência russa, no Donbass.

A aposta do governo “semáforo” (social-democratas, verdes histericamente pró-americanos e liberais) nesse tiro no próprio pé desencadeou enorme temor de que a Alemanha se desindustrialize aceleradamente, sob o alto custo da energia. A escalada nos gastos militares na principal economia europeia vem sendo acompanhada por cortes nos programas sociais.

Significativamente, foram palco de protestos duas cidades ligadas ao esforço de guerra da OTAN por procuração contra a Rússia na Ucrânia. Kalkar, onde foi instalado o centro de comando do exercício da OTAN “Air Defender 23”, e Grossenhain, onde está sendo construída uma fábrica de munições da Rheinmetall para abastecer Kiev.

Presente no protesto em Kalkar, a deputada Sevim Dagdelen, do partido oposicionista A Esquerda, denunciou que o governo alemão segue Washington caninamente. Se os EUA quiserem entregar mísseis de médio alcance num futuro próximo à Ucrânia,“então nós também os entregaremos”. “É uma política completamente irresponsável correr o risco de uma guerra mundial nuclear. Quais bases militares os russos bombardeariam primeiro se mísseis de médio alcance voassem em direção à Rússia?”, advertiu, se contrapondo ao envio do sistema alemão de mísseis Taurus.

Em um ato de “sindicalistas pela paz” em Berlim há duas semanas, a deputada alertou que “um quinto do orçamento federal alemão é agora usado para gastos militares”. Antes da eleição, todos os partidos da coligação semáforo prometeram não entregar armas em zonas de guerra, ela lembrou.

“Em vez disso, o orçamento militar foi aumentado em 37% nesta legislatura – o dinheiro dos nossos impostos está sendo usado em benefício da indústria de defesa dos EUA.” A Rheinmetall (cujo maior acionista é a Blackrock) aumentou a sua margem de lucro em 11% ao longo desta guerra, acrescentou.

Ao explicar o que esse gasto com guerra significa para o orçamento social, Sevim citou as consequencias dos cortes: “um quarto de todos os alunos do quarto ano neste país não sabe ler nem escrever. Os empréstimos a estudantes foram cortados em grande medida. O financiamento para o centro de recuperação das mães foi reduzido em 93%, assim como os fundos para os centros de educação familiar. 76% a menos para os centros de educação juvenil.”

“Em 2022, a perda salarial real foi de 4%”, ela assinalou, chamando a política do governo Scholz de “uma guerra social contra a sua própria população”.

Em Grossenhain, no Estado de Saxônia, dezesseis dos vinte e dois vereadores assinaram uma carta a Scholz pedindo que bloqueasse o projeto, segundo artigo do New York Times. “Muitos alemães ainda têm uma profunda aversão à guerra e aos gastos com defesa na Alemanha, e o seu passado nazi os torna relutantes em investir na esfera militar. A visão de Berlim é uma coisa; as realidades políticas no terreno são outra”, admite o artigo.

Citado pelo NYT, Sebastian Fischer, membro da Assembleia Legislativa da Saxônia, explicou que os alemães, especialmente os residentes da antiga Alemanha Oriental, querem viver em paz com a Rússia, e é bastante difícil para eles entender por que a Alemanha deveria defender a Ucrânia.

Essa conivência de Berlim com o regime de Kiev também mereceu a atenção da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. Ela advertiu que a liderança alemã “nega o fato geralmente aceito de que os chauvinistas ucranianos colaboraram com o Terceiro Reich de Hitler”.

Disso – ela destacou – pode-se tirar a conclusão lógica de que “a reabilitação do nazismo está em pleno andamento na Alemanha de hoje”.

Zakharova sublinhou que há gente ainda mais cínica, os “anglo-saxões”. Para atingir seus objetivos, estão preparados “para exterminar o povo ucraniano e reabilitar a Divisão Waffen SS Galicia ou o Exército Insurgente Ucraniano, que colaborou com a Alemanha nazi”. “Logo chegam direto aos ‘heróis’ – colocamos a palavra entre aspas, eles não fazem mais assim – do Terceiro Reich”.

Fonte: Papiro