Pedido dos líderes de todo o mundo pelo cessar-fogo foi unânime | Foto: Presidência do Egito via AFP

Lideranças de todo o mundo, com destaque para dirigentes de países árabes, reunidos na “Cúpula da Paz” – que começou este sábado em Cairo – exigem a entrega de mantimentos em larga escala para a Faixa de Gaza, como única forma de debelar a catástrofe humanitária causada por Israel e uma solução definitiva para o conflito israelense-palestino, que já dura 75 anos. E, antes de mais nada, um cessar-fogo imediato.

“Devemos agir agora para acabar com esse pesadelo”, afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

O Presidente palestino, Mahmoud Abbas, afirmou que os palestinos nunca abandonarão o seu território e sempre resistirão às tentativas de Israel de realocar à força a população de Gaza para o Egito, no meio do atual massacre.

 “Nunca iremos embora, nunca deixaremos nossas terras. Resistiremos”, frisou Abbas no seu discurso na Cúpula que começou com a participação de mais de 30 países, mas não conta com a presença de Israel nem de representantes de alto escalão dos Estados Unidos, que não se dispõem a ouvir e considerar a opinião internacional.

Abbas destacou que a Autoridade Nacional Palestina que preside é a “única entidade” que representa os palestinos e que a única solução para a região é a criação do Estado Palestino com Jerusalém Oriental como capital.

O líder lamentou o “assassinato de civis de ambos os lados” e apelou à “libertação de reféns de ambas as partes”.

Na reunião participam, entre outros, os líderes do Qatar, Emirados Árabes Unidos, Palestina, Jordânia, Itália, Espanha, Grécia e Canadá, os chanceleres do Brasil, da Alemanha, França, Reino Unido e Japão, bem como o presidente do Conselho da União Europeia, Charles Michel. O vice-chanceler Mikhail Bogdanov da Rússia também está presente.

EGITO NÃO ACEITA DESLOCAMENTO DE PALESTINOS

O Egito, país que organizou a cúpula, foi a primeira nação árabe a assinar um acordo de paz com Israel, em 1979, e desde então o Cairo atua como mediador habitual entre Israel e os palestinos, incluindo o grupo Hamas.

Além disso, o Egito tem o único ponto de entrada para a Faixa de Gaza que não é controlado por Israel, em Rafah.

No seu discurso de abertura, o presidente egípcio, Abdel Fattah al Sissi, anfitrião do encontro, advertiu que, com a sua ofensiva contra o Hamas, Israel pretende deslocar os palestinos para a Península Egípcia do Sinai, uma linha vermelha que nem o seu país nem o seu governo estão dispostos a aceitar, além da crítica internacional a essa tentativa.

Al Sissi instou os participantes na reunião a estabelecerem um roteiro para que a ajuda a Gaza continue a fluir através da passagem de Rafah para o fim da “crise humanitária” no enclave palestino, através de um acesso “seguro e sustentável.”

A passagem de Rafah foi finalmente aberta hoje para a entrada de 20 caminhões de ajuda humanitária no enclave palestino, sitiado pelo Exército israelita como castigo coletivo nos moldes nazistas à população de Gaza após o ataque do grupo Hamas a Israel, em 7 de outubro.

GAZA PRECISA DE AJUDA CONTÍNUA

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a população da Faixa de Gaza precisa de um “compromisso com muito mais”, de um cessar-fogo e de uma “entrega contínua de ajuda na escala necessária” após a entrada de apenas vinte caminhões através da Travessia de Rafah.

“Um comboio de 20 caminhões do Crescente Vermelho Egípcio está se movimentando hoje. Mas o povo de Gaza precisa de um compromisso para muito, muito mais, uma entrega contínua de ajuda a Gaza na escala necessária. “Estamos trabalhando incansavelmente com todas as partes para conseguir isso”, indicou no seu discurso.

A LIGA ÁRABE DEFENDE ESTADO INDEPENDENTE

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, alerta que “a situação extremamente tensa em Gaza pode transformar-se num conflito religioso”, o que, segundo ele, “levaria a uma catástrofe maior e mais prolongada”.

Gheit apelou a um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e destacou “a necessidade de abrir corredores humanitários para entregar ajuda a todas as áreas da Palestina”. Acrescentou também que as principais potências mundiais devem chegar urgentemente a um acordo sobre perspectivas concretas que permitam ao povo palestino estabelecer o seu próprio Estado independente.

O CONSELHO EUROPEU PEDE ESFORÇOS CONJUNTOS

O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu à comunidade internacional esforços conjuntos para pôr fim aos confrontos entre o movimento palestino Hamas e o Exército israelita.

“Todos os esforços devem ser feitos para mediar, a fim de parar o conflito (…) para alcançar uma solução de dois Estados”, apontou.

O chefe do Conselho Europeu também observou que as autoridades e organizações europeias estão a cooperar “com as autoridades egípcias e a comunidade internacional para garantir a entrega de ajuda aos palestinos”.

O rei Abadalah II da Jordânia também tomou a palavra, exigindo que os países ocidentais que apóiam Israel compreendam de uma vez por todas que uma vida árabe não vale menos que uma vida israelense, e que o seu silêncio face à “selvageria” de atacar civis não contribui para a paz.

O monarca, um dos principais mediadores na região, falou em tom firme e diretamente em inglês perante os participantes na Cúpula “porque a sua mensagem vai diretamente para o mundo”, e nesse sentido apelou à comunidade internacional “a aceitar que não existe solução militar para a segurança de Israel”, apenas paz e “a solução de dois Estados” na Palestina.

Fonte: Papiro