Governo quer vacinar mais para frear internações crescentes por covid
O número de pacientes internados no Estado de São Paulo com covid, ou com a suspeita da doença, aumentou 27,6% em duas semanas 702 no último dia 19 para 942 no dia 3 passado. Os dados são do Info Tracker, plataforma desenvolvida pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Embora a vacinação não tenha sido interrompida para todas as idades, o Ministério da Saúde está lançando uma campanha de mídia para reforçar a necessidade da vacinação. Além de uma campanha de multivacinação para crianças até 15 anos, várias peças estão disponíveis para reforçar a disponibilidade das vacinas em unidades básicas de saúde para quem ainda não completou seu ciclo vacinal da covid-19.
O epidemiologista Jesem Orellana, da FioCruz Amazônia, explicou que o relaxamento das pessoas mais vulneráveis com os cuidados básicos contra as variantes do vírus Sars-Cov-2, é o que favorece a explosão de internações em diversas localidades do país. O ideal seria continuar usando máscara em ambientes muito lotados, principalmente para quem se percebe com sintomas de síndrome respiratória. Mas completar o ciclo vacinal é o que mais protege e que ainda sofre muita resistência de uma população influenciada por desinformação e negacionismo científico estimulado pelo governo anterior.
“O padrão de aumento nas internações por Covid-19 em São Paulo preocupa, pois em sua maioria, são internações evitáveis, mediante vacinação”, diz ele. Ele percebe que os casos de síndrome respiratória aguda grave por covid-19 em estados como Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também se agravaram.
Orellana observa que esses aumentos estão muito longe dos piores momentos observados em 2021, quando foram registradas cerca de 4.300 mortes por covid-19 em um mesmo dia. Os últimos boletins nacionais apontam para cerca de 150 mortes semanais pela doença. “No entanto, precisamos lembrar que as novas variantes, o relaxamento da população e das autoridades sanitárias, especialmente no que tange à vacinação contra a doença, também impactaram negativamente no aumento de internações por covid-19 na Europa e América do Norte, há poucos meses atrás”, lembrou.
Em 2023, o maior número de internados por covid em São Paulo ocorreu em março, quando superou 2.000 pacientes. No início de agosto, o Estado registrou o menor número: cerca de 400. No auge da pandemia de covid, em março de 2021, as internações causadas pela doença atingiram 30.000 em São Paulo.
O epidemiologista afirma que não há dúvidas que o maior desafio segue sendo a ampliação das coberturas vacinais, pois apenas 30% da população mundial tomou a primeira dose de reforço da vacina contra a Covid-19. “No Brasil, essa porcentagem ainda não superou os 60% da população vacinável, embora estejamos falando de recurso que previne muito bem os casos graves e a morte pela doença, especialmente em grupos de risco como idosos e pessoas com comorbidades”.
Mobilização Nacional
Para ser vacinado, basta procurar uma unidade básica de referência com a carteira de vacinação e um documento. Apesar disso, o Governo precisou lançar uma nova campanha para conscientizar sobre a importância das vacinas, devido ao negacionismo do Governo Bolsonaro, que desincentivava a imunização.
O Movimento Nacional pela Vacinação, lançado pelo Ministério da Saúde em fevereiro, tem o objetivo de retomar a confiança da população brasileira nas vacinas e da cultura de vacinação do país. A iniciativa é considerada um grande movimento, com diversos atores da sociedade. A ação inclui vacinação contra a covid-19 e outros imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação em várias etapas ao longo de 2023, incluindo a multivacinação de crianças e adolescentes, que tem ocorrido os últimos finais de semana.
O Ministério destinou mais de R$ 151 milhões a estados e municípios para apoiar as ações. Entre as estratégias que podem ser adotadas com a estratégia de microplanejamento pelos municípios, estão a realização do Dia D de vacinação, busca ativa de não vacinados, vacinação em qualquer contato com serviço de saúde, vacinação nas escolas, vacinação para além das unidades de saúde, checagem da caderneta de vacinação e intensificação da vacinação em áreas indígenas.
Para Orellana, a atual gestão do Ministério da Saúde não tem medido esforços para recolocar o Brasil entre os países que mais vacinam e protegem sua população contra doenças evitáveis mediante a imunização. No esteio dessas ações, ele acredita que é possível que, em 2024, a vacinação contra a covid-19 entre no calendário de rotina dos menores de 5 anos, assim como doses de reforço periódicas ao menos uma vez por ano para grupos de risco, como idosos, imunocomprometidos (pacientes com sistema imunológico debilitado) e gestantes.
“Este conjunto de ações é crucial, dada a grave perda de confiança de parte expressiva da população brasileira nas vacinas, ao longo dos últimos anos, incluindo a sanha negacionista do ex-presidente da República e das desastrosas e instáveis gestões no Ministério da Saúde. Portanto, precisamos ter paciência e assertividade, pois é mais difícil recuperar a confiança das pessoas na vacina do que o contrário, uma irresponsável e criminosa atitude, aliás”, afirmou.
Veja abaixo algumas das peças divulgadas pelo Governo Federal:
(por Cezar Xavier)