Criança palestina morta no bombardeio israelense a Gaza é carregada por seu pai | Foto: Democracy Now

Após uma reportagem da rede de TV israelense i24-News ter asseverado, que “os terroristas do Hamas massacraram pelo menos 40 bebês e crianças pequenas”, algumas “decapitadas”, o que logo virou manchete na mídia ocidental, a agência de notícias turca Analou procurou o exército israelense, obtendo, como resposta do porta-voz, “não ter informações que confirmem a alegação de que ‘o Hamas haja decapitado bebês’”.

Toda a história propagada pela mídia e políticos teve origem em uma visita a localidade de Kfar Aza, na terça-feira, dia 10, onde o que jornalistas puderam ver foi corpos já colocados em sacos e conversar livremente com os soldados ali presentes.

O jornalista israelense Oren Ziv (+972Magazine), relata que esteve no local e descreve como a mentira foi forjada: “Jornalistas puderam conversar com centenas de soldados sem a supervisão do porta-voz militar presente”.

Segundo Ziv, quando o porta-voz militar foi questionado sobre a “decapitação”, por um dos jornalistas presentes, dizendo que ouvira a história de um soldado. Ele disse: “Não podemos confirmar isso oficialmente, mas é óbvio que estas coisas acontecem”.

“Mas eu imagino que vocês tenham visto nas redes sociais”, acrescentou o porta-voz.

“Especificamente sobre o informe sobre bebês decapitados”, prosseguiu o militar, “não podemos confirmar o local, a quantidade e tudo mais”.

“Houveram tantas situações horríveis e nós não temos tempo, estamos agora ocupados em lutar e defender nosso país. Não temos tempo de checar todo informe”, tergiversou.

Foi o suficiente para manchetes falando de “40 bebês decapitados”, incluindo jornais e redes como Fox e Telegraph.

Uma estória que imediatamente remete à famosa “mentira da incubadora”, as vésperas da Guerra do Golfo, após o Iraque ter tomado uma cidade do Kuwait, em que surgiu um vídeo em que uma enfermeira dizia ter presenciado os soldados iraquianos arrancando bebês das incubadoras e os atirando no chão, para morrerem. O vídeo foi determinante para a aprovação no Congresso dos EUA do envio das tropas americanas para o Golfo. Depois se descobriu que a enfermeira era falsa, era a filha do embaixador do Kuwait em Washington, e estava interpretando um roteiro produzido por uma empresa especializada em ‘ relações públicas’.

Em comunicado na quarta-feira (11), o porta-voz do Hamas, Izzat al-Risheq, rechaçou as fake news “sendo espalhadas contra nosso povo palestino e a resistência”, de que membros da resistência palestina “decapitaram crianças e atacaram mulheres sem nenhuma evidência para apoiar tais alegações e mentiras”.

“Condenamos veementemente as alegações fabricadas e infundadas promovidas numa tentativa de encobrir os massacres, crimes e genocídio cometidos em Gaza”, acrescentou.

CASA BRANCA DIZ QUE NÃO HÁ FOTOS

A pedido do Washington Post, a assessoria de imprensa da Casa Branca admitiu na quinta-feira (12) que nem o presidente Biden nem as autoridades dos EUA viram fotos nem verificaram de forma independente os relatos vindos de Israel sobre bebês decapitados, e o que Biden dissera tinha como base apenas “as alegações do porta-voz de Netanyahu, Tal Heinrich”.

Admissão que, na verdade, é um desmentido, já que Biden dissera na véspera a representantes da comunidade judaica que jamais pensara ver “fotos confirmadas de crianças decapitadas por terroristas”.

Fonte: Papiro