Escombros dos bombardeios de Israel em Rafah, na Faixa de Gaza | Foto: Abed Rahim Khatib/Agencia Anadolu

A falta de água em Gaza – sob o “cerco total” israelense – põe em perigo a vida de mais de dois milhões de pessoas em Gaza, advertiu a agência da ONU para os refugiados palestinos (Unrwa, na sigla em inglês). “Tornou-se uma questão de vida ou morte. É uma necessidade, o combustível deve ser fornecido a Gaza para que dois milhões de pessoas tenham acesso à água”, afirmou o comunicado, citando o comissário-geral da agência, Philippe Lazzarini.

A nota acrescenta que a água potável está acabando na Faixa de Gaza, depois da estação de tratamento e das redes públicas de água terem parado de funcionar. Hoje, continua ele, as pessoas são obrigadas “a usar água suja de poços, o que aumenta o risco de doenças transmitidas pela água”.

O chefe da máquina de guerra israelense, Ioav Gallant, anunciou no início da semana o corte de água, eletricidade, comida e combustível a Gaza, sob o cerco total pelas tropas de Tel Aviv. O corte da eletricidade e do combustível impactou diretamente no fornecimento de água potável a população.

“Precisamos agora transportar combustível para Gaza. O combustível é a única forma de as pessoas terem água potável. Caso contrário, as pessoas começarão a morrer de desidratação grave, incluindo crianças pequenas, idosos e mulheres”, sublinha a nota.

‘A água é agora a última tábua de salvação restante. Apelo para que o cerco à assistência humanitária seja levantado agora”, enfatizou Lazzarini.

Também o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, denunciou a falta de acesso à água potável em Gaza como um sério risco de epidemias mortais.

“A falta de acesso à água potável é um risco imediato de surtos de doenças transmitidas pela água, que podem ser mortais para populações vulneráveis ​​com acesso limitado ou inexistente a cuidados de saúde”, publicou Adhanom na rede social X (antigo Twitter).

O comunicado da Unrwa assinala ainda que quase um milhão de pessoas foram desalojadas de suas casas em uma única semana em Gaza, e muitas se dirigiram para o sul, sob a ameaça das bombas israelenses e a ordem de evacuação.

Em 7 de Outubro, um ataque sem precedentes do grupo Hamas surpreendeu Israel, com milhares de foguetes disparados desde Gaza e incursão de milicianos nas áreas de fronteira com o enclave, que é visto no mundo inteiro como “a maior prisão a céu aberto do mundo”, sob o apartheid israelense.

Em 9 de outubro, em revanche, Israel impôs um bloqueio total ao enclave palestino e na quinta-feira deu 24 horas para 1,1 milhão de civis fugirem do norte da Faixa, até o sul, próximo à fronteira com o Egito. Até mesmo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, viu “violação do direito internacional” nesse cerco total e, ainda, considerou “irrealista” o prazo de 24 horas para a população fugir para o sul.

Já passam de 3 mil os mortos nos dois lados do confronto e mais de 10 mil feridos. Civis israelenses foram mortos durante a incursão dos comandos do Hamas, inclusive em um festival de música. Ao longo de uma semana de bombardeios israelenses a Gaza, mais de 700 crianças palestinas foram mortas. E, somando as mulheres, são mais da metade dos mortos palestinos.

Há 56 anos Israel se recusa a cumprir com a resolução 242 da ONU, de devolução das terras árabes tomadas em 1967, e a cumprir com o direito dos palestinos ao seu próprio Estado soberano, com capital em Jerusalém Oriental. No lugar, o que os sucessivos governos israelenses fizeram foi ampliar e institucionalizar ao máximo o apartheid sobre os palestinos, na expectativa de perpetuá-lo, de crise em crise, até a mais recente explosão, a agora em curso. Desde a “Nakba”, são 75 anos.

Fonte: Papiro