"Ataque do Hamas não surgiu do nada", ponderou o secretário-geral da ONU | Foto: EPA

O embaixador de Israel na ONU teve a petulância de exigir, no Conselho de Segurança da ONU, a “demissão” do secretário-geral Antonio Guterres, após este dizer a verdade evidente de que o povo palestino está “submetido a 56 anos de ocupação sufocante” e que o ataque do Hamas “não aconteceu no vácuo”.

“É importante reconhecer que os atos do Hamas não aconteceram por acaso. O povo palestino foi submetido a 56 anos de uma ocupação sufocante. Eles viram suas terras serem brutalmente tomadas e varridas pela violência. A economia sofreu, as pessoas ficaram desabrigadas e suas casas foram demolidas”, discursou Guterres.

“As queixas do povo palestino não podem justificar os ataques terríveis do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestino”, acrescentou Guterres, que exigiu a libertação das cerca de 200 pessoas capturadas e mantidas sob custódia do Hamas.

“Estou profundamente preocupado com as claras violações do direito humanitário internacional que estamos testemunhando em Gaza. Deixe-me ser claro: nenhuma parte num conflito armado está acima do direito humanitário internacional”, disse ainda Guterres ao Conselho de Segurança.

Ele também apelou a um “cessar-fogo humanitário imediato” para facilitar a libertação de reféns detidos pelo Hamas, entregar ajuda aos civis e “aliviar o sofrimento épico” no território palestino. Ele advertiu, ainda, que a falta de um cessar-fogo causa o risco de uma conflagração mais ampla na região. Em seu discurso, Guterres revelou outro crime de guerra israelense, a morte de 35 funcionários da ONU em Gaza desde o início da guerra.

Ainda que o secretário-geral sequer haja falado que é Israel que há 56 anos se recusa a cumprir a resolução 242 da ONU que determina a desocupação das terras palestinas invadidas, o chanceler israelense Eli Cohen cancelou a reunião que estava marcada com Guterres, enquanto o embaixador Gilad Erdan pedia a cabeça dele em uma bandeja.

“Eu peço que ele se demita imediatamente. Não há justificativa ou sentido em falar assim àqueles que mostram compaixão às mais terríveis atrocidades cometidas contra os cidadãos de Israel e o povo judeu”, disse o embaixador Gilad Erdan.

No Conselho de Segurança da ONU, Cohen defendeu a limpeza étnica em curso em Gaza, o que chamou de “questão de sobrevivência”.

Isso quando um genocídio ocorre diante dos olhos do mundo, com um milhão de deslocados de suas casas em Gaza pelas bombas israelenses e reiteração da punição coletiva que o tribunal de Nuremberg proibiu, com o cerco total a Gaza “sem comida, sem água, sem remédios, sem combustível”.

5.791 palestinos mortos – na conta mais recente -, dos quais 70% são crianças e mulheres, e mais de 16 mil feridos. Uma criança morta a cada 15 minutos. E com mil civis que seguem soterrados sob os escombros, com metade das casas de Gaza destruídas ou danificadas. E sem combustível para manter funcionando os hospitais superlotados de feridos ou as instalações de água potável ou de dessalinização.

APARTHEID 

E – claro – depois de na Assembleia Geral da ONU de setembro o ditador Netanyahu ter exibido um mapa de Israel sem terras palestinas, em seu anúncio do “Novo Oriente Médio” que ele estava providenciando, liberando as gangues de Gvir para fazer pogroms na Cisjordânia e na mesquita de Al Aqsa e manietando o judiciário para a loucura da oficialização do apartheid que já vigora há três décadas.

Em seu discurso, Guterres também clamou a Israel que destrave a entrada da ajuda humanitária em Gaza – até agora, apenas três comboios com menos de 100 caminhões foram permitidos, após duas semanas, enquanto eram pelo menos 100 caminhões de ajuda diária antes. Ministros desse governo de ocupação seguem dizendo que combustível não entra na Faixa de Gaza deixando o colapso de todo o sistema de saúde de Gaza à beira do colapso.

“Gaza precisa de envios frequentes de ajudas humanitárias de acordo com a enorme necessidade. E essa ajuda tem que ser sem nenhuma restrição”, acrescentou.

O ministro das Relações Exteriores da Palestina, Riyad al-Maliki, agradeceu aos países vizinhos, ao Brasil e à ONU pelo apoio recebido durante a reunião do Conselho de Segurança. “Precisamos de uma realidade em que palestinos e israelenses não sejam mortos e que tenham paz e segurança. Essa realidade é que merece todos os esforços e investimentos”, disse ele.

O secretário de Estado Antony Blinken interveio para chamar a carnificina em Gaza de “direito de defesa de Israel”.

Em resposta a pedido da agência da ONU para os refugiados palestinos (Unrwa) de envio urgente de combustível, ou terá de paralisar suas operações humanitárias em Gaza na manhã dessa quarta-feira, porta-voz do exército de ocupação disse à ONU para “pedir ao Hamas” os caminhões-tanque.

Fonte: Papiro