Acúmulo de peças armazenadas mostra queda da produção automobilística francesa | Foto: Reuters

Sob o “peso sombrio da queda das exportações e da estagnação do consumo interno” – uma forma elegante de se referirem ao repuxo das sanções decretadas contra a Rússia -, a zona do euro repetiu no segundo trimestre a quase estagnação registrada no primeiro, 0,1%, segundo a revisão em baixa da Eurostat, a agência europeia de estatística.

Pra frente, as perspectivas não são melhores, especialmente diante da previsão, do FMI, de recessão na Alemanha até o final do ano e profusão de sinais de que a locomotiva alemã está rateando. Na comparação anual, o PIB da zona do euro desacelerou de 1% para 0,5%.

A Alemanha sofreu um recuo na comparação anual de 0,1% e estagnou em relação aos primeiros três meses do ano, depois de seis meses acumulados de contração. O PIB da Itália encolheu em comparação com os primeiros três meses do ano, embora, numa base anual, o resultado seja + 0,4%.

A França, que conseguiu aumentar a sua produção econômica em 1% em comparação com o mesmo trimestre do ano de 2022, vem perdendo fôlego e cresceu 0,5% na comparação com o trimestre anterior.

Os três países representam metade de todo o PIB da UE. A Holanda está em recessão, tendo registrado contração de 0,3% no PIB do 2º trimestre ante o 1º tri, com queda de 0,4% no primeiro trimestre com relação ao último do ano anterior.

As exportações diminuíram 0,7% tanto na zona do euro como no conjunto dos 27 países da União Europeia, em parte devido ao abrandamento do comércio com a China e ao declínio acentuado da indústria automobilística alemã. A produção industrial na Alemanha caiu pelo terceiro mês consecutivo em julho.

O emprego mostrou, segundo o Eurostat, sinais de crescimento moderado, na UE, e lento na zona do euro no segundo trimestre de 2023, aumentando respectivamente 0,1% e 0,2%, na comparação com o trimestre anterior. De forma emblemática, os países que puxaram o crescimento do emprego no período foram Lituânia, Portugal e Malta. Por outro lado, os dados também mostraram que o número de desempregados na zona do euro aumentou 73 mil em julho em relação a junho.

Quanto à inflação, puxada pelas sanções e suas decorrências, foi de 5,3% em agosto, de acordo com o índice de preços ao consumidor (IPC). Já a inflação alimentar aumentou em média 9,8%. No cômputo final da inflação de 5,3% são excluídos, pelas normas europeias, “energia, alimentação, álcool e tabaco”.  De acordo com o Eurostat, os custos de energia subiram 3,2% em agosto em relação ao mês anterior na zona do euro.

Foi a industrializada economia alemã a mais golpeada. Paralisada pela perda de gás natural russo barato, juntamente com a inflação e a recessão, Berlim tem enfrentado a perspectiva de desindustrialização, à medida que fazer negócios na Alemanha se torna não-lucrativo. As vendas no varejo alemão caíram ainda mais do que o esperado em julho, despencando 0,8% em relação ao mês anterior, mostrou o Departamento Federal de Estatística (Destatis).

Não foi por falta de aviso de Moscou de que, ao se autoinfligirem a exclusão do gás barato russo, em prol do caro GNL de procedência norte-americana, os alemães estavam pondo em risco a competitividade de sua indústria.

A economia alemã – a locomotiva econômica da Europa – está em estado de “choque” devido à inflação e rebaixamento da demanda, advertiu o Instituto Econômico Alemão (IW). Segundo o qual as empresas e indústrias alemãs “sentirão ainda mais os problemas globais” este ano devido à escassez e ao aumento dos preços das matérias-primas e da energia.

Ainda de acordo com essa previsão, o comércio global lento e a procura fraca resultarão em um produto interno bruto inferior ao esperado para a maior economia da UE, devendo cair “quase 0,5% em relação ao ano passado”, com desemprego subindo para 5,5%. Os investimentos na construção de moradias deverão cair 3% este ano. “O governo precisa urgentemente de tomar medidas para pôr fim a esta recessão econômica”, disse o chefe da unidade macroeconômica e de investigação do ciclo econômico do IW, professor Michael Gromling.  

Também segundo a CNBC, o economista-chefe do Berenberg Bank, Holger Schmieding, disse que o “espírito” da economia alemã estava “em queda livre” porque as empresas alemãs “estavam prestes a transferir as suas instalações de produção para países com eletricidade e gás natural mais baratos”.

Para completar, há a previsão do FMI de que economia da Alemanha será a única no G7 a não crescer até o final do ano; aliás, deve encolher. O estrago é ainda maior nos ramos de produção com utilização intensiva de energia, como a metalurgia, a fabricação de papel, a cerâmica e o vidro, sob o dilema de fechar as portas ou migrar para os EUA.

O suposto “fim da dependência energética” da Rússia teve também um efeito colateral inesperado. Enquanto a Alemanha importava anteriormente cerca de 5% dos fertilizantes de que necessitava, agora chega a quase 20% porque a produção interna se tornou extraordinariamente cara. As quantidades de fertilizantes importados especificamente da Rússia para a Alemanha aumentaram 334%, um aumento de quatro vezes.

Fonte: Papiro