Corte no auxílio federal aos mais pobres nos EUA elevou o número de crianças na pobreza | Foto: Reprodução

A taxa de pobreza entre as crianças disparou nos Estados Unidos com o número de atingidos por esta condição passando de 4 milhões em 2021 para 9 milhões em 2022.

A ampliação do número de crianças pobres se deu com a elevação da taxa geral de pobreza nos Estados Unidos, que saltou de 7,8% para 12,4%, segundo dados anuais do US Census Bureau.

“O aumento surpreendente da pobreza relatado hoje é um resultado direto de decisões políticas”, alertou a presidente do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas, Sharon Parrot, responsabilizando o “fim do crédito fiscal federal para crianças” – aprovado pelos congressistas – como causa central da tragédia.

Conforme ficou evidenciado pelos novos dados do Censo dos EUA, milhões de famílias caíram na pobreza no ano passado – em um total geral de mais 15,3 milhões de pessoas -, à medida que secava o poço de auxílio ao combate à pandemia, como o fim do crédito fiscal federal ampliado para crianças. Diante disso, Sharon Parrot apelou aos parlamentares pelo restabelecimento imediato do benefício que faz frente ao maior aumento da carestia e da miséria em mais de meio século.

Foram os benefícios entregues anteriormente, assegura Parrot, os que cumpriram papel chave a que famílias sobrevivessem durante a enorme crise de saúde – que matou nos EUA mais de um milhão de pessoas -, como os cheques de estímulo e o Crédito Fiscal Infantil, que distribuía até 300 dólares por criança em pagamentos em dinheiro. Quando o crédito terminou, as pesquisas revelaram que muitos pais tinham dificuldade para pagar as contas e cobrir despesas básicas, como aluguel e compras.

“O aumento da taxa de pobreza, o maior registrado em mais de 50 anos, tanto no geral como para as crianças, sublinha o papel crítico que as escolhas políticas desempenham no nível de pobreza e dificuldades no país”, acrescentou Parrot.

A Medida Suplementar de Pobreza (SPM), que mede se as pessoas têm recursos suficientes para cobrir as suas necessidades, foi de 12,4% para as famílias dos EUA em 2022, um aumento de 4,6% em relação aos 7,8% do ano anterior, informou o Censo na terça-feira (12). Ao mesmo tempo, a taxa de pobreza infantil teve a maior mudança desde que o Censo começou a acompanhar o SPM em 2009.

O SPM inclui o rendimento, bem como o impacto da assistência não monetária, como a ajuda alimentar e a assistência à habitação. Também subtrai algumas despesas da receita, como despesas médicas, creches e despesas de deslocamento.

De acordo com os próprios dados oficiais, se o crédito fiscal ampliado para crianças tivesse sido renovado, cerca de 3 milhões de pequenos teriam sido mantidos fora da pobreza no ano passado, fazendo com que a penúria e a carestia infantil fosse de 8,4% em vez de 12,4%, que com isso passou a coincidir com o índice geral de pobreza.

“Às vezes falamos sobre o crédito tributário infantil como uma política invertida. Isso ocorre porque as crianças que mais precisam recebem menos, enquanto as crianças com renda mais alta recebem mais”, condenou Parrot.

RENDA FAMILIAR EM DECLÍNIO

O Censo apurou que o rendimento familiar médio em 2022 foi de 74.580 dólares, um declínio de 2,3% em relação a 2021 e o terceiro ano consecutivo em que os rendimentos diminuíram.

“Essas quedas são estatisticamente significativas Embora muitas pessoas tenham se apressado em defender o declínio de 2020 como resultado da pandemia da Covid, o fato de os rendimentos dos americanos ainda estarem em declínio é muito preocupante”, disse Rob Wilson, presidente da Employco USA e especialista em tendências de emprego. O fato, acrescentou, é que os salários não acompanham a inflação, levando ao declínio da renda, sendo os negros americanos os que registraram os valores mais baixos, cerca de US$ 53.000.

O Centro de Estudos sobre Pobreza e Política Social da Universidade de Columbia, que avalia estes dados há anos, confirmou que os créditos fiscais aprovados durante a pandemia conseguiram reduzir a penúria infantil e auxiliaram a maioria das famílias com rendimentos mais baixos.

Para o sociólogo Mathew Desmond, estes números são um resultado direto de decisões políticas que deram maior prioridade à redução de impostos para os que mais têm, em vez de programas que provaram sua eficácia. “Hoje os principais beneficiários da assistência federal são as famílias prósperas, relatou Desmond, após publicar o seu livro “Pobreza na América”.  

Fonte: Papiro