Greve de roteiristas durou 5 meses e dobrou a resistência dos estúdios de Hollywood | Foto: Valerie Macon/AFP

Após aprovação por unanimidade, por seu comitê de negociação e órgãos de direção nas costas Leste e Oeste, do acordo recém fechado com os estúdios, os roteiristas norte-americanos voltaram ao trabalho às 12 horas desta quarta-feira (27), como determinou seu sindicato Writers Guild of America (WGA).

Foi a segunda mais longa paralisação da história do sindicato. Quase cinco meses de greve, longos piquetes e negociações tensas, que ineditamente incluíam a discussão sobre o uso da Inteligência Artificial.

O acordo de três anos, publicado pelo WGA na noite de terça-feira, oferece aos roteiristas a maior parte daquilo por que lutaram, segundo a Associated Press, incluindo aumentos salariais, melhores pagamentos de resíduos [por obra reexibida], pessoal mínimo e diretrizes em relação à Inteligência Artificial.

As principais cláusulas do acordo, segundo o portal norte-americano Axios, são:

Salários: aumento do piso dos roteiristas em 5%, a partir da ratificação do contrato em votação que irá ocorrer no início de outubro. Mais 4% em 2 de maio de 2024 e 3,5% em 2 de maio de 2025.

Resíduos: O acordo estabelece uma nova estrutura de pagamento para roteiristas com base na audiência de programas de streaming, em vez de uma taxa fixa, o que começa a valer para projetos lançados em ou após 1º de janeiro de 2024. Também aumenta os pagamentos de resíduos para projetos de streaming estrangeiros, atrelado ao número de assinantes estrangeiros do serviço em todo o mundo. Os streamers devem fornecer aos membros do WGA dados confidenciais sobre o desempenho dos programas de streaming.

Pessoal mínimo: os estúdios devem contratar um certo número de roteiristas para trabalhar nos programas e atender a um requisito de duração mínima para seu emprego, começando com programas em que o primeiro episódio seja escrito após 1º de dezembro de 2023.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Uso de inteligência artificial: O acordo estabelece que a IA “não pode escrever ou reescrever material literário” e que o material gerado pela IA “não pode ser usado para minar o crédito ou direitos separados de um roteirista”.

Direitos de inteligência artificial: os roteiristas podem optar por usar IA ao realizar serviços de escrita com o consentimento do seu parceiro de produção, mas não podem ser forçados a fazê-lo.

O acordo também obriga os estúdios a divulgar aos escritores se algum material fornecido a eles foi gerado por IA ou incorpora material gerado por IA. Também fica proibido o uso de material de escritores para treinar IA.

Benefícios: O acordo também dá aos escritores um aumento na taxa de contribuição para saúde e pensões.

Para analistas, aspectos do acordo, especialmente os referentes ao uso da IA, poderiam servir de modelo para futuras negociações laborais. O sindicato dos atores já anunciou que irá estudar as cláusulas sobre uso de Inteligência Artificial conquistadas pelos roteiristas no acordo recém-fechado.

O término da greve deverá impulsionar a produção da maioria dos talk shows ao vivo, incluindo os de fim de noite, a partir dos próximos dias. No entanto, os programas que exigem atuação provavelmente permanecerão suspensos, dada a greve dos atores que começou em meados de julho e está entrando no terceiro mês.

No relato do portal Político, “um novo espírito de otimismo animou os atores que fizeram piquete na terça-feira pela primeira vez desde que os roteiristas chegaram a um acordo provisório na noite de domingo”.

“Por um segundo, realmente pensei que isso continuaria até o ano que vem”, disse Marissa Cuevas, atriz que apareceu nas séries de TV “Kung Fu” e “The Big Bang Theory”. “Saber que pelo menos um de nós conseguiu um bom acordo dá muita esperança de que também conseguiremos um bom acordo.”

Suspensa a greve, os roteiristas mantiveram a solidariedade aos atores, com muitos nos piquetes na terça-feira, incluindo o criador de “Mad Men”, Matthew Weiner, ao lado do amigo e ator de “ER” Noah Wyle, como fez durante as greves. “Nunca teríamos tido a influência que tínhamos se o SAG [sindicato dos atores] não tivesse saído”, disse Weiner. “Eles foram muito corajosos em fazer isso.”

Aumentando a pressão sobre os estúdios de Hollywood, atores em greve votaram para ampliar sua paralisação para incluir o pessoal dos videogames, os artistas que fornecem vozes e dublês para os jogos. 98% de seus membros votaram pela greve, anunciou na noite de segunda-feira o Screen Actors Guild-American Federation of Radio and Television Artists.

As empresas atingidas incluem as gigantes dos jogos Activision, Electronic Arts, Epic Games, Take 2 Productions, bem como as divisões de videogames Disney e Warner Bros. Atuar em videogames inclui desde performances de voz até captura de movimento, bem como acrobacias. Os atores de videogame entraram em greve em 2016, em uma paralisação do trabalho que durou quase um ano.

Fonte: Papiro