Área devastada por míssil ucraniano | Foto: AFP

O jornal The New York Times afirmou na segunda-feira (18) que uma análise de várias evidências indica que foram as forças armadas ucranianas que dispararam o míssil no princípio de setembro que atingiu uma área comercial na cidade de Konstantinovka, no Donbass, e provocou a morte de pelo menos 16 civis, além de 30 feridos.

“Evidências recolhidas e analisadas por The New York Times, incluídos fragmentos de míssil, imagens de satélite, declarações de testemunhas e ‘postagens’ em redes sociais, sugerem fortemente que o ataque catastrófico foi o resultado de um míssil errante da defesa antiaérea ucraniana disparado pelo sistema de lançamento Buk”, aponta o artigo do NYT.

Parece “haver sido um acidente trágico”, diz o jornal norte-americano, que acrescenta que as autoridades ucranianas bloquearam o acesso dos jornalistas aos escombros do projétil e à área atingida pelo ataque. O “trágico acidente” coincidiu com uma visita do secretário de Estado, Antony Blinken, para levar mais armas e mais dólares para a guerra de procuração da OTAN contra a Rússia na Ucrânia.

Imediatamente Zelensky acusou a Rússia de lançar o ataque e afirmou que qualquer “tentativa de lidar com qualquer coisa russa” significava fechar os olhos à “audácia do mal”.

A nova análise do NYT também chama a atenção pelo fato de o jornal ser um insistente apologista da guerra contra a Rússia.

FARTAS EVIDÊNCIAS

Conforme o NYT, a gravação de uma câmera de vigilância mostra que o míssil foi disparado desde a direção do território controlado pela Ucrânia. O jornal norte-americano assinala, ainda, que, minutos antes do ataque a Konstantinovka, os militares ucranianos lançaram dois mísseis terra-ar desde a localidade de Druzhkovka, situada a uma distância de 16 quilômetros de Konstantinovka. “O lapso destes lançamentos é consistente com o intervalo de tempo para o míssil que impactou contra o mercado em Konstantínovka”.

O NYT registra que Kiev culpou a Rússia pelo ataque, supostamente usando um míssil disparado pelo sistema de defesa antiaérea S-300. “Porém o míssil [para o sistema] S-300 leva um ogiva diferente da que explodiu em Konstantinovka”.

Após analisar os danos provocados pelo projétil e seus escombros achados no lugar, o jornal sustenta que indicam o uso do míssil 9M38, que é disparado com o sistema Buk. Acrescenta que tanto os militares da Ucrânia como os da Rússia usam ambos os sistemas.

O artigo sugere que o míssil, cujo alcance máximo é superior a 27 quilômetros, provavelmente funcionou incorretamente e caiu antes de alcançar seu objetivo. Nesse contexto, provavelmente o  projétil tinha combustível não utilizado em seu motor que explodiu após a queda, fato que poderia explicar as marcas de queimadura na zona afetada.

O New York Times cita ainda declarações de um porta-voz militar da Ucrânia de que o caso segue sob investigação, mas na semana passada o assessor do gabinete presidencial, Mikhail Podoliak, declarou que Kiev não investigará o ataque em Konstantinovka. “E qual é o ponto de investigação se tudo é óbvio para nós?”, ele disse.

Como registrou a RT, o jornalista do jornal alemão Bild, Julian Ropcke, postou em sua conta de X que o ataque se realizou desde o noroeste, ou seja, desde território sob controle ucraniano. Fato, aliás, profusamente mostrado no dia 6 de setembro, pelas redes sociais.

O mesmo Podoliak, que já dissera que era “tudo óbvio” para Kiev e nada havia para investigar, diante da repercussão do artigo acusou o NYT de encorajar ‘teorias da conspiração’.

“Sem dúvida, o aparecimento de artigos na mídia estrangeira com dúvidas sobre o envolvimento da Rússia no ataque a Konstantinovka implica o crescimento de teorias da conspiração”, escreveu Podoliak no X (antigo Twitter) na terça-feira (19).

Agora, Podoliak passou a prometer que o incidente seria “investigado” e que “a sociedade certamente receberá uma resposta à questão do que exatamente aconteceu em Kostiantynivka, como nos milhares de outros casos de ataques russos ao nosso país como parte de uma guerra não provocada”.

DIGITAIS DO REGIME DE KIEV

Não é a primeira vez que o regime de Kiev é flagrado disparando contra áreas civis. Além dos bombardeamentos regulares contra a República Popular de Donetsk desde 2014, as forças ucranianas usaram mísseis fornecidos pelo Ocidente para atacar as cidades de Donetsk e Lugansk, e atingiram repetidamente Donetsk com munições de fragmentação e minas terrestres dispersas por via aérea.

Em abril do ano passado, um ataque com míssil Tochka-U ucraniano à estação ferroviária de Kramatorsk, cidade sob controle ucraniano no Donbass, matou 50 civis e feriu mais de uma centena, com o regime de Kiev jogando a culpa na Rússia e dizendo ser um “Iskander” russo. Assim que surgiram fotos dos destroços do míssil, que permitiam sua identificação, Kiev parou de falar no assunto.

O presidente ucraniano atribuiu igualmente à Rússia um ataque com mísseis na Polônia que matou dois agricultores em novembro passado. Ele pediu “ação coletiva” [da Otan]em retaliação, mas Varsóvia admitiu que foi um projétil disparado por um sistema de defesa aérea ucraniano S-300 que causou as mortes.

Em março passado, um míssil ucraniano Tochka-U foi alegadamente disparado contra uma área residencial de Donetsk, matando pelo menos 20 pessoas depois de ter sido abatido pelos sistemas de defesa aérea russos. Apesar das evidências terrestres mostrarem que o míssil era de origem ucraniana, Zelensky culpou a Rússia por atacar o seu próprio povo, insistindo que era “inequivocamente um foguete russo” e que “não faz sentido falar sobre isso”.

O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, mencionou o incidente em Konstantinovka num discurso na semana passada, sugerindo que Kiev pode tê-lo orquestrado deliberadamente para coincidir com a visita de Blinken. Acrescentou que, como as provas contradizem claramente a acusação de Zelensky, “o regime de Kiev e os seus patrocinadores estão a tentar abafar esta história e mantê-la fora do radar”.

Pelo menos um responsável de Kiev foi forçado a demitir-se depois de atribuir um ataque às forças ucranianas que o seu governo atribuiu à Rússia. Aleksey Arestovich renunciou ao cargo de conselheiro do presidente em janeiro, em meio à pressão causada por uma entrevista na qual admitiu que um prédio de apartamentos na cidade de Dnepr foi atingido por um interceptador ucraniano, e não por um míssil de cruzeiro russo.

Fonte: Papiro