Novas pesquisas apontam ruídos na comunicação do governo Lula
De uma tacada só, a quinta-feira (28) trouxe com duas novas pesquisas de opinião sobre o governo Lula – uma da PoderData, outra da AtlasIntel. A primeira foi feita por meio de ligações telefônicas, e a segunda, pela internet. Metodologias à parte, as duas chegaram a conclusões semelhantes.
Primeiro, o Brasil continua dividido, polarizado, como na eleição presidencial de 2022. Embora os índices de aprovação ao governo sejam numericamente maiores do que os de desaprovação, há, estatisticamente, um empate técnico (ou quase isso) entre esses dois polos. Conforme a PoderData, 48% aprovam a gestão e 45% reprovam – a margem de erro é de dois pontos percentuais. Na AtlasIntel, que também tem dois pontos de margem de erro, a vantagem pró-Lula é mais elástica: 51,5% a 46%.
A AtlasIntel também questiona se o governo é “ótimo”, “bom”, “regular”, “ruim” ou “péssimo”. Para 44,1%, a gestão é positiva (“ótima” ou “boa”). Para 41,5%, é negativa (“ruim” ou “péssima”). Quando esses mesmos conceitos são levados pelo PoderData para a avaliação pessoal de Lula, 36% jugam o trabalho do presidente como “ótimo” ou “bom”, ao passo que 35% o consideram “ruim” ou “péssimo”.
Os ataques golpistas foram majoritariamente contidos, e os números da economia indicam avanços. Diversas iniciativas lançadas por Lula, como os reajustes reais do salário mínimo, o fortalecimento do Bolsa Família e o lançamento do Desenrola, já beneficiaram dezenas de milhões de brasileiros. Por que, então, a popularidade do governo, em vez de evoluir, sofreu ligeiros revezes?
Os institutos mostram que as mudanças divulgadas pela gestão Lula ainda não foram suficientemente assimiladas pelo conjunto da população brasileira. “Com 9 meses desde que assumiu, o petista – que subiu a rampa com ajuda de uma frente ampla e prometendo união – não conseguiu expandir seu eleitorado. Ao contrário”, sugere o PoderData. “Há sinais de alguma avaria no grupo de seus seguidores (…).Tudo considerado, a pesquisa PoderData mostra que a lua de mel de Lula com os eleitores está entrando numa fase crepuscular.”
Curiosamente, apesar de ministros como Fernando Haddad (Fazenda) e Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) serem considerados os mais populares do governo, a percepção sobre a imagem deles não é similar à avaliação de suas áreas de atuação. De acordo com a AtlasIntel, tanto a “Segurança Pública” quanto a área de “Justiça e combate à corrupção” são classificadas como “péssimas” por 47% da população. As duas áreas com mais menções positivas (“ótimas” ou “boas”) são “Direitos Humanos e Igualdade Racial” e “Relações Internacionais”. Nenhum tema econômico sobressai.
O programa Desenrola, com 70% de apoio, é bem avaliado, mas fica atrás de medidas como a ajuda às vítimas das inundações no Rio Grande do Sul (80%) e a ampliação da escola em tempo integral (77%). Quando os entrevistados são estimulados a citar os maiores problemas do Brasil hoje, aparecem à frente “Criminalidade e tráfico de drogas”, com 56,7% e “Corrupção”, com 56%.
Ao olharem para o Brasil, 44% dos entrevistados da AtlasIntel veem uma situação “ruim”, e apenas 32% julgam a situação “boa”. Daqui a seis meses, 53% acham que a situação vai melhorar – bem mais que os 37% que afirmam que vai o piorar. A discrepância sugere que mais gente confia no governo do que desconfia, mas quer ver os avanços.
Há ruídos na comunicação do governo. Do presidente aos ministros, passando pela base no Congresso, a gestão Lula precisa se comunicar mais – e melhor – com a população, mostrar o que tem feito, esclarecer propostas e ressaltar a boas notícias. Do contrário, a polarização pouco ou nada mais refluirá.