Mundo vive maior número de guerras desde o fim da União Soviética
A esta altura, nem mesmo Francis Fukuyama deve acreditar em sua tese segundo a qual, com o fim da União Soviética e da Guerra Fria, teríamos alcançado o “fim da História”, supostamente representada pela vitória definitiva do capitalismo e da democracia liberal burguesa.
Na visão neoconservadora do filósofo norte-americano, não havia mais espaço para grandes guerras – mas apenas para conflitos locais e menores. Porém, passados quase 34 anos do artigo triunfalista e açodado de Fukuyama – que daria origem ao livro O Fim da História e o Último Homem –, o mundo teima em desmentir o homem e a obra.
Conforme levantamento do Programa de Dados de Conflitos da Universidade de Uppsala (UCDP), na Suécia, em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas, vivemos o período mais bélico no Planeta desde o desfecho da Guerra da Fria. A lista inclui tanto guerras entre Estados como conflitos não estatais (entre grupos armados e terroristas, por exemplo).
Em 2022, o mundo somava 55 conflitos em 38 países. Oito desses conflitos tiveram mais de mil mortes no ano e, por isso, podem ser considerados guerras. Os palcos do morticínio são Burkina Faso, Etiópia, Iêmen, Mali, Mianmar, Nigéria, Somália e Ucrânia.
Pelo critério das mil mortes/ano, a lista não conta com a Síria (que teve um número menor de perdas no ano passado), mas incluirá o Sudão (que já passou das mil mortes em 2023). Todas as estimativas, vale dizer, são estimativas conservadoras, já que o número preciso de mortes em conflito é difícil de precisar.
As guerras e os conflitos também deixam um rastro de crises humanitárias, que envolvem elevação da pobreza, da fome, da exclusão e da emigração. Segundo a agência ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), ao menos 108,4 milhões de pessoas deixaram o país de origem devido às pressões de conflitos.
As crises do capitalismo estão por trás da onde recente de conflitos, avalia Magnus Öberg, professor do Departamento de Pesquisa de Paz e Conflitos da Universidade de Uppsala e diretor do Programa de Dados de Conflitos. “Há uma série de mudanças globais que contribuem para esse aumento de tensões – e uma principal é a crise econômica de 2008. Sempre vemos um crescimento no número de conflitos nos anos que seguem uma crise econômica”, declarou Öberg ao Estadão.
Seu relato mostra que o fim da Guerra Fria não bastou para selar previsões finalísticas. O mundo está tomado de guerra, segundo ele, devido à “piora da economia global e a recessões econômicas”, que “tendem a impulsionar conflitos”. Com a pandemia de Ccovid-19, a crise se agravou. “Os recentes problemas que tivemos, a pandemia, a alta da inflação, a piora econômica – tudo isso cria uma tendência de aumentar a violência nos anos seguintes.” A história está viva – e em disputa!