Faustin Touadera, presidente da República Centro-Africana, com o presidente russo | Foto: Africa News

As relações entre a República Centro-Africana (RCA) e a Rússia não dizem respeito à França, disse o presidente Faustin Archange Touadera ao presidente Emmanuel Macron, de acordo com a agência de notícias estatal francesa RFI no fim de semana.  Comentário feito durante reunião com Macron em Paris na quarta-feira, a caminho de Cuba para a cimeira do G77.

O líder da nação africana, segundo o seu porta-voz, Albert Yaloke Mokpeme, disse a Macron que a RCA estava cooperando “com as autoridades russas no âmbito de um acordo de defesa e formação entre Estados”, enfatizando que outros aspectos das relações “não eram assuntos [de Paris].”

O que também foi noticiado, por outras fontes, como “RCA se recusa a retirar instrutores russos após pedido de Macron” como condição para reaproximação com a França.

Na semana passada, o Presidente francês Macron reuniu-se com Touadera para buscar relançar as relações bilaterais que tinham ficado tensas nos anos recentes, devido em parte à cooperação da RCA com Moscou e ao apoio da empresa militar privada russa Wagner.

Os dois líderes concordaram “em continuar a trabalhar juntos pela soberania, estabilidade e condução de um diálogo positivo e inclusivo na República Centro-Africana”, afirmou o gabinete do presidente francês num comunicado.

Ex- colônias francesas da África subsaariana têm se levantado contra a extorsão mantida por Paris, cujo aspecto mais óbvio é a perpetuação do franco colonial, o FCA, como moeda de quatorze países africanos, que são obrigados a manterem metade das reservas depositadas no BC francês, entre outras espoliações. O que se tornou cada vez mais insustentável à medida que a expansão de bandos terroristas que ganharam livre trânsito após ajudarem a Otan a derrubar Kadhafi na Líbia trouxe enorme desestabilização e devastação, apesar da interferência de tropas francesas.

MALI, BURKINA FASO E NÍGER 

O que desencadeou uma onda de levantes no Mali, Burkina Faso, Níger e Guiné. O Níger acusou repetidamente a França de “interferência flagrante” e Macron de “perpetuar uma operação neocolonial contra” os nigerinos.

Na semana passada,o presidente da transição do Mali, Assimi Goïta, telefonou para o presidente Putin para agradecer ao veto russo, no Conselho da ONU, que deu fim às sanções contra o país, após moção patrocinada por Paris pretender estendê-las indefinidamente. A Rússia ofereceu uma proposta de transição, que foi recusada, e então exerceu seu direito de veto como membro permanente.

Assimi Goïta e Putin também discutiram a necessidade de resolver a situação no Níger por negociações.  “Durante as discussões sobre a estabilidade na África Ocidental e na zona Saara-Sahel, foi expressa a opinião sobre a necessidade de resolver a situação na República do Níger por meios políticos e diplomáticos”.

O governo francês vem jogando para que o bloco de países da África Ocidental (Cedeao) intervenha militarmente no Níger, para reinstaurar o fantoche Bazoum. O Níger está exigindo a retirada de 1500 soldados franceses e decretou a expulsão do embaixador de Paris. Macron acusou o governo do Níger de fazer o embaixador de “refém” e alegou que este estaria tendo de “comer ração”. Manifestantes têm cercado a base francesa na capital para pressionar pela retirada.

No final de semana, Mali, Níger e Burkina Faso anunciaram a criação da Aliança dos Estados do Sahel (AES), para fortalecer sua soberania e lutar contra o terrorismo, como relatou à Sputnik África Fousseynou Ouattara, vice-presidente da Comissão de Defesa e Segurança do Conselho de Transição em Mali.

A Carta Liptako-Gourma, que estabelece a Aliança dos Estados do Sahel (AES) visa estabelecer uma arquitetura de defesa coletiva e assistência mútua em benefício das populações do Mali, Burkina e Níger, foi assinada pelos chefes de estado dos três países.

Solicitada há muito tempo, esta união poderia “acelerar o caminho para a soberania” destes três países do Sahel, disse Ouattara. Neste sentido, há que ter em conta que estes Estados possuem Liptako-Gourma, uma região “altamente cobiçada pela França e por vários países ocidentais devido às riquezas enterradas nos subsolos desta zona”, notou o responsável maliano.

Segundo Ouattara, a AES terá um grande impacto na restauração da paz, porque os países foram explorados para desestabilizar a região. “É [Liptako-Gourma, nota do editor] uma zona de desestabilização de três Repúblicas e de mãos dadas, nos permitirá não só proteger o nosso país, pôr fim ao terrorismo e também acelerar os esforços comuns de desenvolvimento”, indicou Ouattara.

Lembrou que os terroristas que vieram “cometer crimes no Mali, fugiram para se esconder quer no Burkina Faso, quer no Níger”. “E vice-versa: os terroristas que cometeram crimes no Burkina Faso encontraram muitas vezes refúgio no Mali. Portanto, quando as três Repúblicas se unirem, é certo que conseguiremos assegurar esta área”, frisou. Outros países que amam a soberania também podem aderir à Aliança, em conformidade com o Artigo 11 da sua Carta.

Comentando a proposta do Primeiro-Ministro de Burkina Faso sobre a criação de uma “federação flexível” entre o seu país e o Mali, Fousseynou Ouattara observou que “os habitantes destes três países “já” estão numa tal “federação flexível e alargada”. “Hoje, confiamos muito em potências que são potências que se preocupam com os interesses das pessoas, como a Rússia, como a China, como a Turquia, como o Irã. Mas o nosso grande apoio aqui é: “É especialmente na Rússia que confiamos muito”, concluiu.

Fonte: Papiro