Com o novo chip Kirin-9000 Huawei produz smartphones 5G com tecnologia própria | Foto: Reprodução

A Huawei, que está sob sanções de Washington e proibida de usar chips e tecnologia dos EUA há três anos, anunciou o lançamento de um novo celular 5G com um processador de 7 nanômetros, o Huawei Mate 60 Pro, rompendo o bloqueio imposto à gigante chinesa das telecomunicações.

É “o primeiro processador Kirin de última geração da Huawei desde 2020, depois que o governo dos EUA restringiu as empresas americanas de vender seus produtos ou serviços à Huawei”, registrou a rede de televisão chinesa CGTN no X, ex-Twitter. “A Huawei se liberta do bloqueio tecnológico dos EUA”, comemorou o porta-voz oficioso de Pequim, o Global Times.

O lançamento por pré-venda ocorreu em meio à visita da secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, a Pequim, na semana passada, em que ela requentou o pão bolorento das “razões de segurança nacional” como pretexto da imposição do bloqueio tecnológico à China.

Aliás, um especialista em comércio internacional, Li Yong, entrevistado pelo GT, observou a “coincidência” da “repentina pré-venda” do novo smartphone da Huawei durante a viagem de Raimondo à China. “Como este smartphone sugere, as empresas chinesas inevitavelmente romperão o bloqueio estabelecido pelos EUA. Essa supressão falhou”. O sucesso também foi comemorado nas bolsas na China, com alta entre 8% e 20% das ações de empresas chinesas de fabricação e design de chips.

Segundo análise encomendada pela Bloomberg à TechInsights, o novo smartphone tem um novo chip Kirin 9000 fabricado na China pela Semiconductor Manufacturing International Corp, de 7 nanometros, usando a tecnologia de empilhamento 3D, que aumenta a densidade de chips.

 “É uma declaração muito importante para a China”, disse o vice-presidente da TechInsights, Dan Hutcheson, acrescentando: “Os avanços tecnológicos da SMIC estão em uma trajetória acelerada e parecem ter resolvido problemas que afetam o rendimento em sua tecnologia de 7 nm”.

O Washington Post, por sua vez, destacou convocação, por parte de um dirigente sênior de uma empresa de consultoria da área tecnológica, a “um maior rigor no licenciamento de controle de exportação para fornecedores norte-americanos da Huawei, que continuam a ser capaz de enviar semicondutores básicos que não são usados para aplicações 5G.”

Antes de 2020, a Huawei era líder global na indústria de smartphones, atrás apenas da Samsung, e já tendo ultrapassado a Apple. Seu calcanhar de Aquiles era a dependência de tecnologia e componentes fabricados nos EUA ou produzidos por empresas sob patentes americanas. Até o uso do Android foi proibido.  De 19,5% de participação no mercado mundial de smartphones em 2019, a Huawei despencou para cerca de 4% em julho passado – mas segue sendo o maior fornecedor de equipamentos 5G do mundo.

A inclusão da Huawei na chamada “lista negra” do governo Trump foi em 15 de maio de 2019, obrigando os fornecedores dos EUA a pedirem aprovação do Departamento do Comércio para qualquer venda. Um ano depois, veio o bloqueio quase total, com proibição de uso de chips para 5G fabricados nos EUA ou por qualquer fornecedor de outro país que usasse pelo menos 1% de tecnologia norte-americana. Desde então, a Huawei não conseguiu converter o design em chips físicos através de uma linha de produção contendo tecnologia americana. A maioria das linhas de produção de chips com processos avançados no mundo usa em maior ou menor parte tecnologia americana.

Na verdade, a perseguição a Huawei começara ainda em dezembro de 2018, com o pedido de extradição da diretora-financeira, Meng Wanzhou, presa no Canadá ao fazer uma escala de voo, do qual Washington só recuou em 2021.

Como observou o comentarista do GT, e ex-editor-chefe, Hu Xijin, o lançamento do novo celular 5G da Huawei é uma demonstração de que os EUA “não tem como parar o progresso tecnológico da China”, embora possa retardá-lo temporariamente. Os avanços históricos da Huawei “inspiram confiança no setor tecnológico da China”. Quanto aos EUA, pode ser que imponha “sanções ainda mais agressivas contra os chips chineses”. Outra opção – acrescentou – “é os EUA reduzir significativamente as restrições na exportação de tecnologia de semicondutores para a China, dando às empresas norte-americanas uma chance de continuarem competindo com a Huawei no vasto mercado chinês”.

Fonte: Papiro