A figura icônica do poeta chileno Pablo Neruda tem sido tema de diversos filmes, cada um explorando de maneira única a sua resistência política e a complexidade de sua vida e obra. Ele morreu 12 dias após derrubada do governo de Salvador Allende, no 11 de setembro de 1973. Seu enterro se converteu na primeira manifestação de protesto contra a ditadura de Pinochet.

Um ano e nove meses depois de ganhar o Prêmio Nobel, em 1971, o poeta morreu. Sofria de um câncer de próstata que o teria levado logo após a derrubada de Allende, que ele defendeu com seu prestígio e com todo o esforço que pode devotar.

No entanto, em 2011, foram aventadas dúvidas quanto a sua morte. Em fevereiro deste 2023, um grupo de cientistas descartou o câncer como causa oficial e afirmou que o poeta foi envenenado com a bactéria Clostridium botulinum, mas o caso ainda não foi totalmente esclarecido.

Depois de testemunhar os horrores da ascensão e vitória fascista na Espanha, nos anos 1930, Neruda temia como um pesadelo que o mesmo acontecesse em seu país, como ocorreu com a chegada de Pinochet ao poder. Antes foi implacavelmente perseguido por Gabriel González Videla, homem que viu voltar como assombração em 1973 para comemorar o golpe. Não é fácil fazer caber num único filme um destino tão épico capaz de traduzir a saga do século XX.

Os filmes “Neruda – Fugitivo” de Manoel Basoalto (2019), “Neruda” de Pablo Larraín (2016), “O Carteiro e o Poeta” de Michael Radford (1994), e “Ardente Paciência” de Rodrigo Sepúlveda (1983), exploram de maneiras diferentes a figura do poeta chileno Pablo Neruda e sua resistência política em contextos diversos.

O escritor Hernán Valdés dizia que Neruda foi o último caso de um indivíduo que estabeleceu uma comunicação com a sociedade por meio da poesia. Um contágio popular que ele achava que não existiria mais numa sociedade em que a poesia não consegue mais romper o círculo das elites culturais.

Em conjunto, esses filmes oferecem uma visão rica e variada da resistência política de Pablo Neruda, destacando sua coragem, sua paixão pela poesia e sua dedicação à causa dos direitos humanos. Eles capturam a complexidade desse renomado poeta chileno e sua influência duradoura na cultura e na política do Chile e do mundo. Cada filme adiciona camadas à compreensão da vida e do legado de Neruda, tornando-se valiosas contribuições para a apreciação de sua figura histórica e literária.

Aqui estão breves análises de cada um dos filmes mencionados, destacando sua abordagem à resistência política de Neruda:

  • “Neruda – Fugitivo” (2019) – Manoel Basoalto: Este documentário aborda a vida e a luta política de Pablo Neruda, focando especialmente em seu papel como membro do Partido Comunista do Chile. Então senador e personalidade de grande prestígio no Chile e no mundo, nos anos 1940, converteu-se no principal adversário do presidente Gabriel González Videla, que em fevereiro de 1948 conseguiu com que suspendessem a imunidade parlamentar do poeta e ordenassem sua prisão. Neruda viveu um ano na clandestinidade. Em fevereiro de 1949, conseguiu fugir para a Argentina, atravessando a cordilheira a cavalo com a ajuda de ladrões de gado e contrabandistas. O filme utiliza imagens de arquivo e entrevistas para traçar a trajetória política do poeta, destacando sua coragem ao se opor à ditadura de Pinochet e seu compromisso com os direitos humanos. Disponível em espanhol com legendas em inglês no Filmzie.
  • “Neruda” (2016) – Pablo Larraín: Neste filme dirigido por Pablo Larraín, Luis Gnecco interpreta Pablo Neruda em um momento crítico de sua vida. A narrativa se concentra no período em que o governo chileno proibiu o Partido Comunista e Neruda se tornou um fugitivo. O filme destaca a tenacidade do poeta em enfrentar a repressão política e seu compromisso com a justiça social. A trama mescla elementos de realidade e ficção, criando uma visão artística e poética da resistência de Neruda. Em 1946, Gabriel González Videla ganhou as eleições presidenciais chilenas com os votos do Partido Comunista. Neruda foi seu chefe de propaganda, escreveu um poema eleitoral para ele e, em um ato visto por uma multidão, recebeu dele o juramento de cumprir com o programa de governo que havia apresentado ao país. Em agosto de 1947, contudo, González Videla fez um giro total à direita, rompeu com os comunistas, os colocou na ilegalidade e iniciou uma perseguição implacável contra eles. Está disponível no streaming Netflix.
  • “O Carteiro e o Poeta” (Il Postino) (1994) – Michael Radford: Baseado em um romance de Antonio Skármeta, este filme aborda a amizade entre um carteiro e Pablo Neruda durante o exílio do poeta em uma ilha italiana. Embora não se concentre diretamente na resistência política de Neruda, a obra ressalta a influência da poesia como uma ferramenta inspiradora para as pessoas comuns questionarem a autoridade e buscarem seus direitos. Disponível no Youtube
  • “Ardente Paciência” (El Cartero de Neruda) (1983) – Rodrigo Sepúlveda: Outra adaptação do romance de Antonio Skármeta, este filme também se concentra na relação entre um carteiro e Neruda durante o exílio na Itália. Ele destaca a importância da poesia e da correspondência na vida das pessoas e como a poesia de Neruda inspirou a resistência e a busca pela liberdade em um contexto político repressivo. Está disponível no streaming Netflix.

(por Cezar Xavier)