Em reunião com Zelensky, Lula conversa “sobre caminhos da paz”
Finalmente, o presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva encontrou-se presencialmente para uma conversa bilateral com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, após vários desencontros em cúpulas de governos. Os dois estão nos Estados Unidos por ocasião da Assembleia Geral da ONU.
Lula disse que o encontro foi bom e que eles conversaram sobre a importância de manter sempre o diálogo aberto entre os dois países. A conversa durou uma hora e 10 minutos.
“Tivemos uma boa conversa sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de mantermos sempre o diálogo aberto entre nossos países”, disse Lula em registro nas redes sociais em que aparece cumprimentando o ucraniano.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse a jornalistas, após a reunião, que o encontro foi “tranquila” e produtiva. “Longa discussão, em um ambiente tranquilo, amigável, em que trocaram informações sobre cada um dos países e a situação do mundo neste momento. Os presidentes instruíram também suas equipes, os seus ministros, a continuarem em contato para desenvolver as relações bilaterais e discutir as possibilidades de paz”.
Lula tem defendido a ideia de criar um grupo de países neutros para negociar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, sugestão que não foi acolhida ainda. “Lula disse que o seu representante pessoal continuará a participar das reuniões dos processos de Copenhagen para discutir as possibilidades de paz”, acrescentou Vieira.
Discussão honesta e construtiva
Zelensky também compartilhou imagens do momento e disse que teve uma “reunião importante” com Lula. “O representante brasileiro continuará participando das reuniões da Fórmula da Paz”, escreveu em publicação nas redes sociais.
“Após a nossa discussão honesta e construtiva, instruímos as nossas equipas diplomáticas a trabalhar nos próximos passos nas nossas relações bilaterais e nos esforços de paz”, afirmou o líder ucraniano.
O ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, qualificou a conversa como “calorosa e honesta”, na qual cada país entendeu sua posição. Kuleba disse, ainda, que esse foi um momento importante. O chanceler da Ucrânia disse que a reunião funcionou como “quebra de gelo”.
“Poderia usar a expressão não diplomática de ‘quebra de gelo’. Não para falar que havia gelo entre nossos países, mas porque a conversa foi bastante calorosa e honesta. Acredito que ambos os presidentes entendem melhor que antes as posições um do outro”, explicou.
“Nós fomos orientados pelos nossos presidentes para trabalhar. Como o presidente Lula disse, é uma obrigação para ambos os times trabalhar em passos futuros para relações bilaterais e para esforços de acordos de paz”, completou o chanceler Dmytro Kuleba.
Divergências e mal-entendidos
O mal-estar mais importante entre Lula e Zelensky ocorre apesar do brasileiro ter criticado a invasão militar feita pela Rússia. O ucraniano esperava um apoio em fornecimento de armas a seu esforço de guerra, algo que tem sido feito pelos EUA e a União Europeia.
Num primeiro momento, Lula não conseguiu se fazer entender no seu incentivo a uma mesa de negociações que fosse capaz de reunir Zelensky e Vladimir Putin para discutir o fim do confronto. Conforme o conflito avança para o segundo ano, com a Ucrânia e aliados sem conseguir a vitória esperada, no entanto, pode ser que o clima de negociação surja da exaustão de todos.
Na véspera da reunião, ambos falaram sobre a guerra em seus discursos na Assembleia Geral da ONU. Lula não criticou diretamente a Rússia, como fizeram outros, preferindo criticar a incapacidade dos organismos multilaterais em frear a guerra. Mas Lula não está só neste posicionamento, conforme países africanos, asiáticos e latino-americanos também se abstém de apoiar um dos lados.
Zelensky afirmou que é preciso se “unir para derrotar o agressor” e reiterou que a proposta de paz da Ucrânia prevê a manutenção territorial e soberania de todos os territórios do país. O presidente dos EUA, Joe Biden, também manteve o tom duro ao afirmar que”continuarão a apoiar o corajoso povo da Ucrânia na defesa da sua soberania e integridade territorial”.
(por Cezar Xavier)