Conceição Evaristo fez história. Neste sábado (16), a UBE (União Brasileira de Escritores) consagrou a autora de tantas “escrevivência” como a primeira mulher negra a receber o Troféu Juca Pato 2023 de “Intelectual do Ano”. A escritora mineira concorria com Maria Villani, Marilene Felinto, Martinho da Vila e Pedro Bandeira.

Para disputar a premiação, é necessário que a personalidade tenho publicado ao menos um livro no Brasil no ano anterior e se destaque pelo “conjunto da sua obra, em qualquer área do conhecimento”. O “intelectual do ano” precisa, ainda, ter “contribuído para o desenvolvimento e prestígio do País, na defesa dos valores democráticos e republicanos”.

Linguista e pesquisadora aposentada, Conceição Evaristo tem mais de 30 anos de dedicação à literatura. Seu nome também é referência no movimento negro, seja pela temática de seus livros, seja pelo ativismo da escritora. Por Olhos D’Água, recebeu o prêmio Jabuti de Literatura de 2015 (categoria Contos e Crônicas). Voltou a ser agraciada com um Jabuti quatro anos depois – desta vez, como Personalidade Literária do Ano. Em 2022, publicou o romance Canção Para Ninar Menino Grande.

“Não se tem dificuldade em conhecer uma música negra brasileira, ou reconhecer que as culturas africanas influenciaram a música brasileira ou a culinária negra. Mas, quando se trata da literatura – talvez porque ela use o maior bem simbólico da nação, que é a língua –, essa escrita negra não é acreditada”, afirmou Conceição, em 2018. “Grande parte dos escritores negros nasce dos estratos populares e, na maioria das vezes, não temos padrinho. Quando conseguimos, com muita dificuldade, publicar, antes de lerem nossos textos já criticam.”

A cerimônia de premiação do Juca Pato 2023 está prevista para novembro, durante o Flitabira (Festival Literário Internacional de Itabira). O Padre Júlio Lancellotti, vencedor da edição de 2022, fará a entrega do troféu a Conceição Evaristo.

Conforme a UBE, o Troféu Juca Pato “é a réplica do personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira e imortalizado pelo ilustrador e chargista Benedito Carneiro Bastos Barreto, conhecido pelo pseudônimo de Belmonte (1896-1947). O prêmio foi criado em 1962, por iniciativa do escritor Marcos Rey”. O troféu já foi entregue a personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles e Antonio Candido.