Imagens de opositores desaparecidos projetadas no Palácio de La Moneda, onde Allende foi assassinado | Foto: AFP

Às vésperas dos 50 anos do golpe do general Augusto Pinochet, que se cumprem nesta segunda-feira, 11 de setembro, cinco dos seis presidentes do país após o retorno à normalidade constitucional (Patricio Aylwin, faleceu em 2016), assinaram a carta “Compromisso: Pela Democracia, sempre”.

Apesar das divergências, o atual presidente Gabriel Boric e os quatro ex-mandatários vivos [Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000), Ricardo Lagos (2000-2006), Michelle Bachelet (2006-2010 y 2014-2018), e Sebastián Piñera (2010-2014 y 2018-2022)] lançaram um manifesto na quinta-feira (7) para fazer uma reflexão sobre o cinquentenário do golpe que pôs fim ao governo socialista de Salvador Allende em 1973.

No documento, as lideranças assinalaram que “nosso país gozou durante mais de 140 anos, quase sem interrupção, de uma democracia em contínua evolução, de uma ordem constitucional estável e também de respeitáveis e sólidas instituições republicanas que eram objeto de admiração e prestígio no mundo inteiro”.

Boric, Piñera, Bachelet, Lagos e Frei apontaram que, para além de suas “legítimas diferenças”, é preciso sempre estar o compromisso com a democracia, particularmente quando se passaram 50 anos de seu “violento rompimento”, algo que “custou a vida, a dignidade e a liberdade de tantas pessoas, chilenas e de outros países”.

“Em primeiro lugar”, reiteraram os ex-mandatários, “é preciso cuidar e defender a democracia, respeitar a Constituição, as leis e o Estado de Direito. Queremos preservar e proteger estes princípios civilizacionais das ameaças autoritárias, da intolerância e do desprezo pela opinião dos outros”. De maneira enfática, comprometeram-se a “enfrentar os desafios da democracia com mais democracia, nunca com menos, condenar a violência e promover o diálogo e a resolução pacífica das diferenças, tendo o bem-estar dos cidadãos no horizonte”.

Além disso, o atual presidente e as antigas autoridades afirmaram que vão trabalhar unidos para “fazer da defesa e da promoção dos direitos humanos um valor partilhado por toda a nossa comunidade política e social, sem colocar qualquer ideologia à frente do seu respeito incondicional”. Concordaram também em “fortalecer os espaços de colaboração entre os Estados através de um multilateralismo maduro, que respeite as diferenças, que estabeleça e prossiga os objetivos comuns necessários para o desenvolvimento sustentável das nossas sociedades”.

Mesmo convidada a se somar ao “compromisso” e a participar da cerimônia oficial de 11 de setembro, a oposição de direita alegou um “ambiente hostil” e recusou o convite. São setores que mantém o discurso negacionista em relação à ditadura pinochetista que, sob o comando de militares dos Estados Unidos, assassinou ou desapareceu com milhares de chilenos, além de torturar e mandar para o exílio dezenas de milhares.

Fonte: Papiro