Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas de SP | Vídeo

A afirmação da porta-voz das forças de defesa territorial da Ucrânia, a transgênero estadunidense Sarah Ashton-Cirillo, de que “o mundo verá” como os jornalistas russos, identificados como “propagandistas do Kremlin serão rastreados e pagarão por seus crimes”, foi amplamente rechaçada pelas entidades da categoria a nível nacional e internacional.

“Essa manifestação ameaçando ‘caçar jornalistas’, que foi feita por uma pessoa não só militar, mas uma representante oficial do governo ucraniano, é inadmissível. Jornalistas têm que ser protegidos”, defendeu Thiago Tanji, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP).

Conforme Thiago, são declarações absurdas que “merecem o nosso repúdio veemente, não só das entidades sindicais, jornalísticas, mas de toda a categoria, no Brasil e no mundo”. Afinal de contas, ponderou, “os jornalistas e as jornalistas não são soldados, não são combatentes, são trabalhadores que fazem o seu trabalho ao permitir a livre circulação de informações”.

As pregações da estadunidense foram feitas após as frustradas tentativas do regime de Kiev de assassinar a editora-chefe da Sputnik, Margarita Simonyan, e o diretor do Sindicato dos Jornalistas da Rússia, Vladimir Solovyov.

“Se você está fazendo a cobertura de um conflito, se você está fazendo a cobertura de um evento qualquer, você tem que ter segurança para realizar isso”, explicou o representante da Fenaj, enfatizando que “quando um Estado realiza uma ameaça desse tipo, é algo que precisa ser condenado de maneira veemente”.

Em entrevista à Sputnik, Thiago reiterou a necessidade de que os profissionais da imprensa realizem o seu trabalho sem medo de censura ou represálias, “e, neste caso, especificamente, sem medo de ser assassinado”.

Traçando um paralelo com o quadro brasileiro, o dirigente da Fenaj disse que em nosso território também ocorrem crimes contra profissionais no exercício da profissão. “Não podemos esquecer que, no ano passado, o jornalista Dom Phillips foi assassinado aqui no Brasil. Então, infelizmente, o trabalho jornalístico ainda é visto como uma ameaça. Basta lembrar que o governo Jair Bolsonaro considerava os jornalistas como inimigos simplesmente porque nós trabalhávamos pela circulação de informações, para trazer luz a algumas questões, e isso, por parte do governo Bolsonaro, era visto como uma coisa inadmissível”, denunciou.

Em relação à guerra por procuração da Otan na Ucrânia, Thiago sublinhou a necessidade de que ambos os governos protejam a atuação da imprensa e que este seja um compromisso “para além de qualquer questão de inimizade bélica e política”. “Porém, claro que quando uma representante oficial do Estado ucraniano quer promover ameaças diretas de assassinatos de jornalistas, infelizmente isso quer dizer que há pelo menos um país que certamente não está interessado em fazer essa proteção”, condenou.

“NEONAZISTAS QUEREM CAÇAR JORNALISTAS”

Ao contrário de uma retratação, como seria o esperado, na última sexta-feira (15) a representante oficial ucraniana veio à tona com mais ameaças em vídeo propondo “caçar jornalistas”.

Para o secretário-geral da Federação Latino-Americana de Jornalistas, Nelson del Castillo, a declaração da representante ucraniana é “muito grave”. “Esta abordagem se enquadra na mesma linha das posições neofascistas e neonazistas de Zelensky, que procura silenciar as vozes que não respondem aos seus interesses”, ressaltou.

Para Castillo, Zelensky tenta calar as críticas políticas e militares ao seu governo, bem como a corrupção que grassa pelos ministérios ucranianos. “O pior é que o Ocidente, como nos referimos aos Estados Unidos e uma parte da Europa, mantenha o silêncio diante de toda essa barbárie”, destacou.

O professor e pesquisador especializado na Europa, Daniel Muñoz Torres, acredita que as declarações da porta-voz se devam ao fracasso da “contraofensiva ucraniana”. Um fracasso militar que acumula cadáveres, enquanto já foram torrados mais de US$ 100 bilhões em armamentos, munições e logística pelas marionetes do Pentágono. Recentemente, autoridades dos EUA, citadas pelo The New York Times, estimaram o número de mortos ucranianos em 70 mil e cerca de 120 mil feridos.

“Zelensky enfrenta uma crise de legitimidade e, ao se tratar de umas declarações de uma porta-voz oficial, temos que pensar que é uma postura pactada com as autoridades ucranianas, o que é evidente que a Ucrânia decidiu apostar nas ameaças e criar uma situação de medo, diante da perda do apoio internacional e dos resultados ruins no campo”, ponderou

Daniel Muñoz avalia que “qualquer jornalista ou pessoa que não esteja de acordo com suas posições e que diga algo que possa ser percebido como questionador, é tido como antipatriótico, e o governo de Zelensky se move rapidamente para desacreditá-lo”. A intenção é clara, concluiu: “continuar a coagir a população a confiar no governo de Kiev, independentemente do que aconteça aos soldados ucranianos”.

Fonte: Papiro