Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Ao permanecer em patamar elevado, a taxa básica de juros da economia, a Selic do Banco Central (BC), segue impondo dificuldades ao setor produtivo brasileiro.

Apesar do recente corte pelo Copom na taxa Selic de 0,5 pontos percentuais, passando dos 13,25% para 12,75% ao ano, os juros cobrados  nos empréstimos às empresas seguirão ultrapassando a casa dos 20%.

A Selic é a taxa de referência para operações de empréstimos que são concedidos pelos bancos e demais instituições financeiras. Logicamente, se ela disparar, o custo do crédito, que já é historicamente alto no Brasil, também dispara. De agosto de 2022 a agosto deste ano, a Selic permaneceu fixada em 13,75% ao ano.

Quando a taxa Selic estava em 12,75% em maio de 2022, a taxa de juros média para empresas batia na casa dos  21,90% ao ano, segundo apontou neste domingo (24) um levantamento feito pelo site Poder 360, com base  nas estatísticas de crédito do BC.

No mês de julho deste ano, a taxa média de juros cobrada das empresas estava  nos absurdos 23,30% ao ano. A do cheque especial para CNPJs encontrava-se nos  343,20%. Já a do crédito rotativo no cartão em 210,30%. E por sua vez, a média do cartão de crédito ficou em 47,50%.

Via juros altos, os bancos estão drenando recursos das empresas que poderiam estar cobrindo os investimentos em máquinas e equipamentos, pesquisas e inovação tecnológica, ampliação da produção etc.

Nesta última semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidia os rumos da Selic, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou um estudo, no qual afirma que o custo total de financiamento do capital de giro na indústria da transformação brasileira somou R$ 71,5 bilhões em 2022.

No caso das empresas de grande porte, a soma foi de R$ 47,1 bilhões, sendo R$ 22,2 bilhões de capital próprio e R$ 24,9 bilhões de terceiros. 

A FIESP explica que o financiamento com recursos próprios reflete o custo de oportunidade, isto é, o dinheiro que as empresas deixam de colocar nas suas operações, expresso no estudo da Fiesp pela Selic nominal, com média de 12,63% ao ano em 2022.

No capital de giro, às grandes indústrias com recursos de terceiros, a taxa média utilizada foi de 15,72%, sendo 12,63% da Selic nominal e 3,1% de spread (diferença entre o custo de captação e de empréstimo).

Já para as pequenas e médias empresas, o custo do financiamento do capital de giro somou R$ 24,4 bilhões, sendo R$ 9,5 bilhões de capital próprio e R$ 14,9 bilhões de terceiros. A taxa média para os pequenos e médios negócios da indústria foi de 22,62%, também com 12,63% da Selic nominal, mais 10% de spread.

A FIESP apontou ainda, que o custo do capital com recursos próprios da indústria brasileira, representado pela Selic nominal média de 12,63%, é bem superior que as taxas de juros média de outros países emergentes, como África do Sul, Chile, Indonésia e México, de 9,14% ao ano, sendo 6,32% de juros da política monetária e 2,83% de spread.

O diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, Antonio Carlos Teixeira Álvares, que é responsável pelo levantamento, define que “o levantamento mostra como os juros reais elevados retiram recursos das empresas”, declarou.

Os países citados também têm taxas de juros altas, ainda assim, no momento da sondagem, a do Brasil era maior. A Fiesp ressalta que com as taxas de juros desses países, o custo de financiamento do capital de giro da indústria brasileira cairia dos R$ 71,5 bilhões (em 2022) para R$ 37,6 bilhões. Para se ter uma ideia, esses R$ 33,9 bilhões de diferença correspondem quase à totalidade (98%) do financiamento para as atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, destaca a Fiesp, com base em dados da última Pesquisa de Inovação (Pintec) do IBGE, de 2017.

Descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, os juros reais no Brasil estão em 6,40%, após o último corte na Selic.

Assim, o país segue superando a taxa média de juros reais (hoje em 1,06%) entre os 40 países listados no ranking mundial de juros reais da MoneYou. E, após 7 reuniões consecutivas do Copom, agora o Brasil ocupa a  2ª colocação deste ranking, ficando atrás do México e à frente de Colômbia, Chile e África do Sul.

Fonte: Página 8