Na capital do Níger, Niamey, multidão exige: "França deve ir embora" | Foto: AFP

Com o Níger sob sanções e ameaça de intervenção armada estrangeira, o Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), instalado após a derrubada do presidente Mohamed Bazoum, ordenou ao embaixador francês Sylvain Itté na sexta-feira (25) que deixe o país em 48 horas, exigência também dirigida ao embaixador alemão.

No sábado, uma multidão lotou o estádio Seyni Kountché na capital, com bandeiras do Níger, da Rússia e da Argélia, para exigir “fora França”. “Temos o direito de escolher os parceiros que queremos, a França deve respeitar esta escolha”, disse a modelo Ramatou Ibrahim Boubacar, enfeitada com bandeiras nigerinas da cabeça aos pés. “Há sessenta anos nunca fomos independentes, só o somos desde o dia do levante”, ela afirmou, dizendo que “apoiamos 100% o CNSP”.

“A luta não vai parar até ao dia em que já não haja soldados franceses no Níger”, disse à multidão o coronel Ibro Amadou, membro do CNSP.

A reação de Paris foi se recusar a aceitar a saída do embaixador, assim como fizera anteriormente com o anúncio do rompimento dos acordos militares com a França, sob a alegação de que só Bazoum teria “autoridade legítima” para isso. O CNSP deu um mês para a retirada dos 1.500 soldados franceses.

Desde que os bombardeios da OTAN destruíram a Líbia em 2011 e levaram ao poder grupos extremistas que haviam servido de “infantaria” para a aliança imperial, o norte da África e o Sahel foram desestabilizados, com bandos da Al Qaeda, Estado Islâmico e Boko Haram se estabelecendo na região, causando o caos e ondas de refugiados. E servindo de biombo para o ingresso de tropas europeias e dos EUA e até bases de drones.

Esse confronto acabou levando a sublevações no Mali, Burkina Fasso, Guiné e, mais recentemente, Níger, que deram origem a governos de salvação nacional, frente ao flagelo e a reincidência do neocolonialismo e que, diante do exemplo da ação da Rússia na Síria, apelaram para a ajuda russa.

Por articulação de Paris e de Washington, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), encabeçada pela Nigéria, anunciou que está pronta para invadir o Níger e restaurar no poder Bazoum, conhecido pela vassalagem.

A ex-potência colonial, graças ao chamado “franco das colônias”, o CFA, segue controlando na prática a economia do Níger, assim como das demais ex-colônias africanas, e o país jamais deixou a condição de mercado cativo para a França, que também controla o urânio que abastece as centrais nucleares francesas, enquanto o Níger continua sendo um dos países mais pobres do mundo. Até hoje, o Níger, assim como os demais países da região, tem de depositar no BC francês 50% das reservas.

Ao mesmo tempo em que é iminente a intervenção no Níger, o país já está sob duras sanções, que incluem o congelamento das reservas do país em bancos nigerianos, o corte da energia elétrica e o fechamento de rodovias, interrompendo o fornecimento de alimentos e insumos.

Mali e Burkina Faso anunciaram que, se houver uma intervenção no Níger, vão vir em apoio ao povo nigerino. A Argélia tem buscado instalar negociações e advertido que uma invasão irá “incendiar o Sahel”. Além de urânio, o Níger também tem ouro e petróleo.

Fonte: Papiro