O CEO da Lanxess, Matthias Zachert (e), disse que Scholz devia "acordar e adotar uma política digna” | Foto: Malte Ossowski /SVEN SIMON

“A desindustrialização na Alemanha está começando”, afirmou o presidente executivo (CEO) da empresa alemã Lanxess, Matthias Zachert, descrevendo a situação que a economia de seu país vive devido aos altos preços de energia, provocados pelas sanções dos EUA ao gás da Rússia, e pela queda na demanda.

A empresa química que possui atualmente cerca de 13.200 funcionários em 33 países, inclusive no Brasil, teve que fechar duas de suas fábricas para se manter competitiva por conta de que consome muita energia e pode ser forçada a cortar o número de empregos nas que ficaram ativas.

Entre outras medidas, o conselho de administração decidiu congelar as contratações nas unidades de toda a Europa, reduzir os seus custos em toda a parte; cortar um quarto do salário dos seus membros, reduzir significativamente as bonificações e adiar os investimentos previstos no valor de 50 milhões de euros.

Os acionistas da Lanxess foram informados em junho que apenas 600-650 milhões de euros em receita podem ser esperados este ano, em vez dos 850-950 milhões de euros inicialmente previstos. “Estamos ‘queimando dinheiro’ há algum tempo e não esperamos que isso mude”, disse o empresário.

Zachert culpou as políticas do Estado por esta situação. “Isso põe seriamente em risco a prosperidade alemã e a segurança social do povo no médio e longo prazo”, disse ele ao pedir ao governo de Olaf Scholz que “acordasse” e adotasse uma política econômica digna.

A crise que está se generalizando na economia alemã é a consequência direta da decisão de Berlim de obedecer às sanções dos EUA contra a Rússia – ou seja, trocar o gás russo barato por gás de fracking norte-americano caro, minando a indústria alemã – que empurra a principal potência industrial europeia para a recessão.

O PIB alemão contraiu nos primeiros três meses deste ano pelo segundo trimestre consecutivo, constatando-se, portanto, uma recessão, de acordo com o bureau alemão de estatística, Destatis.

SETOR QUÍMICO CORTA INVESTIMENTOS

Os grandes clientes da Lanxess também produzem menos do que esperavam originalmente e, portanto, compram menos precursores químicos. Este dado coincide com o último relatório do Instituto de Pesquisa Econômica da Alemanha (IFO) sobre a indústria química, divulgado na sexta-feira (04), segundo o qual as empresas declaram uma procura de precursores químicos mais fraca. Não havia tanto pessimismo no setor desde a crise financeira de 2014.

Outros produtores do setor químico também estão passando por situações semelhantes, informou o jornal Frankfurter Allgemeine. O grupo multinacional Evonik vai abster-se de contratar novos funcionários até o final deste ano, além de reduzir significativamente os orçamentos de viagens e custos de consultoria, o que deve economizar 250 milhões de euros este ano. Por sua vez, a fabricante de plásticos Covestro está mudando toda a sua estrutura de custos.

As pressões de Washington para atrair aos EUA setores da indústria alemã estão se concretizando. De acordo com um estudo do Instituto Econômico Alemão (IW), que o jornal líder de negócios alemão Handelsblatt noticiou, ao longo de 2022 saiu da Alemanha um investimento direto líquido de US$ 132 bilhões. Isso significa que os investimentos externos na Alemanha foram menores do que os investimentos de empresas alemãs e capital alemão no exterior. Foi a maior saída de capital entre os 46 países incluídos no estudo.

“Os enormes encargos de custos causados pelos preços de energia e materiais que são muito altos estão tendo um efeito”, disse Patrik-Ludwig Hantzsch, chefe de pesquisa econômica da Creditreform cuja principal atividade é a cobrança de dívidas.

“A inflação desestabiliza os consumidores e desacelera significativamente o ânimo de compra”, explicou Hantzsch. A inflação voltou a subir de 6,1% para 6,4%, sendo que a inflação alimentar ultrapassa 14%.

Fonte: Papiro