Primeiro-ministro da Austrália e manifestação pela liberdade de Assange | Fotocomposição Democracy Now

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse na terça-feira (1) que continuará a pressionar os EUA para que cessem o processo de extradição contra o fundador do WikiLeaks, o jornalista Julian Assange. “Isso já dura muito tempo. Já chega”, disse Albanese a repórteres. “Permanecemos muito firmes em nossa visão e em nossas representações ao governo americano e continuaremos a fazê-lo.”

Mais famoso preso político do planeta, Assange está prestes a ser extraditado pelas autoridades britânicas para um cárcere da CIA de segurança máxima, condenado a até 175 anos por ter exposto ao mundo os arquivos do Pentágono com os crimes de guerra no Iraque e Afeganistão e a tortura em Guantánamo, tudo sob a famigerada “lei de espionagem”.

Lei, aliás, criada em 1917 para punir, nos EUA, os que eram contra a entrada na Iª Guerra Mundial e jamais usada contra um jornalista. Recente pesquisa de opinião mostrou que 79% dos australianos querem que Assange seja libertado.

No sábado, em visita à Austrália, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, rechaçou encerrar a perseguição ao jornalista australiano. Em maio, Albanese disse à emissora australiana ABC que o caso Assange precisava “ser levado a uma conclusão” e que seu governo estava “trabalhando por meio de canais diplomáticos” para resolver a situação com Washington.

Ao lado do ministro das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, Blinken insistiu em que as supostas ações de Assange “arriscaram danos muito sérios à nossa segurança nacional, em benefício de nossos adversários, e colocaram fontes humanas nomeadas em grave risco de danos físicos e grave risco de detenção”. O que sabidamente é mentira, já que sequer foi sustentada pelo Pentágono no julgamento da denunciante Chelsea Manning, ainda no governo Obama.

A declaração de Blinken foi “consistente com o que tem sido a posição americana” em particular, reconheceu Albanese na terça-feira. No entanto, ele disse que não abandonaria o assunto com seus parceiros norte-americanos.

A perseguição é ainda mais absurda porque Assange divulgou os documentos junto com os principais jornais do mundo, não é norte-americano, é australiano, e nada fez em território norte-americano.

O que torna qualquer um passível, em qualquer lugar do mundo, de ser acusado sob a lei de espionagem norte-americana por mostrar a verdade que Washington desejar esconder.

ASSASSINATOS EM BAGDÁ

Como, no caso, o massacre por um helicóptero Apache em 2007 de uma dezena de civis desarmados em Bagdá, inclusive dois jornalistas da Reuters, filmado pelos próprios assassinos, até aqui absolutamente impunes. O vídeo tornou-se conhecido como “assassinato colateral”.

Assange está detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, considerada a Guantánamo britânica há quatro anos, depois de ter sido expulso da embaixada do Equador em Londres, sob operação desencadeada pelo regime Trump, que levou o então presidente Lenin Moreno a trair o asilo concedido pelo antecessor, Correa. A CIA espionou Assange dentro da própria embaixada, conforme tribunal espanhol.

Segundo o relator especial da ONU, Nils Melzer, a perseguição de quase uma década a Assange equivaleu à tortura, em que foram cúmplices os governos dos EUA, Grã-Bretanha e Suécia. Ainda, por duas vezes, autoridades norte-americanas avaliaram assassinar Assange.

A juíza do caso chegou a negar a extradição, por considerar que a vida de Assange estaria em risco em uma prisão de segurança máxima norte-americana, apesar de praticamente concordar com todas as alegações de Washington.

Mas, de forma incomum – a dúvida deve favorecer o réu -, a sentença foi derrubada pela instância superior, após promessas insossas e vagas ditas por Washington depois da sentença. A extradição foi aprovada em 2020 pela então secretária do Interior do Reino Unido, Priti Patel. Em junho, a defesa entrou com um recurso final contra decisão e poderá apelar ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

No mundo inteiro, em atos públicos e outros protestos, se denuncia que “jornalismo não é crime” e se exige “libertem Assange”.

BIDEN OBCECADO POR VINGANÇA

Três parlamentares australianos reagiram às declarações de Blinken, considerando-as patentemente “absurdas”. “Se os EUA não estivessem obcecados com a vingança, retirariam a acusação de extradição o mais rápido possível”, disse Andrew Wilkie.

“O Sr. Blinken estaria bem ciente das investigações tanto nos Estados Unidos quanto na Austrália, que concluíram que as divulgações relevantes do WikiLeaks não resultaram em danos a ninguém”, disse Wilkie. “O único comportamento mortal foi das forças dos EUA… expostas pelo WikiLeaks, como a equipe Apache que matou civis iraquianos e jornalistas da Reuters” no infame vídeo Collateral Murder, ele afirmou à edição australiana do The Guardian.

Como foi demonstrado conclusivamente por testemunhas de defesa em sua audiência de extradição em setembro de 2020 em Londres, Assange trabalhou assiduamente para retirar nomes de informantes norte-americanos antes das publicações do WikiLeaks sobre o Iraque e o Afeganistão em 2010, registrou o Consortium News. “O general americano Robert Carr testemunhou na corte marcial da fonte do WikiLeaks, Chelsea Manning, que ninguém foi prejudicado pela publicação do material”.

A deputada liberal Bridget Archer, outra co-presidente do grupo parlamentar pró-Assange, disse que ele “continua sofrendo mental e fisicamente, assim como sua família, e o governo deve redobrar seus esforços para garantir sua libertação e retorno à Austrália”.

O parlamentar trabalhista Julian Hill pediu que pelo menos “os problemas de saúde de Julian Assange fossem levados a sério” e ele fosse retirado da prisão de segurança máxima “onde corre o risco de morrer sem assistência médica se tiver outro derrame”.

A libertação de Assange também foi pedida pelos presidentes Lula (Brasil) e Andrés Manuel López Obrador (México), por inúmeras entidades de defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos, e a esposa de Assange, Stella, foi recebida pelo Papa Francisco.

Fonte: Papiro