Joias vendidas nos EUA | Foto: Reprodução

O novo advogado de Mauro Cid, Cezar Roberto Bitencourt, disse que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro “sempre cumpriu ordens” e teve “obediência” a seus superiores.

Cid foi flagrado pela polícia federal negociando, nos Estados Unidos, joias e objetos de luxo que Jair Bolsonaro recebeu de presente no exterior e se apropriou do acervo público para vendê-los.

“O Mauro Cid, como assessor, segue ordens, cumpre ordens do chefe. Como militar, essa obediência hierárquica é muito rígida. Não tem como se desvincular… O que ele fazia? Assessorava o presidente em uma variedade de situações, ele servia para tudo”, declarou o advogado em entrevista à CNN.

Segundo Bitencourt, “é exatamente essa obediência a um superior militar que há de afastar a culpabilidade dele”. “O Mauro é uma vítima das circunstâncias”, continuou.

A Polícia Federal aponta que toda a organização criminosa foi criada para beneficiar Jair Bolsonaro e o resultado das vendas das joias ia para engordar seu bolso.

Apesar de se declarar “crítico ferrenho” ao sistema de delações premiadas, o advogado Cesar Bitencourt afirmou que “se for necessário, a gente não abre mão de poder usar. Mas não está no nosso horizonte”.

“A gente decide, de acordo com o andar da carruagem, quais os instrumentos que precisamos usar. Eu não abro mão de dizer ‘olha, a gente precisa fazer delação’. Se for recomendável para a melhor defesa do cliente, eu vou convencê-lo”, continuou.

Ele é o terceiro advogado que Mauro Cid contrata nos últimos meses. O primeiro advogado de Cid foi Rodrigo Rocca, que é mais próximo à família Bolsonaro. Em seguida, ele contratou Bernardo Fenelon, especialista em delação premiada. Fenelon abandonou a defesa de Cid alegando “quebra de confiança”.

Cezar Bitencourt informou que iria visitar Mauro Cid na tarde desta quarta-feira (16), no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, onde o ex-ajudante de ordens está preso desde maio. Falou ainda que vai se encontrar com Mauro Lourena Cid, pai do ajudante de ordens Mauro Cid, que também aparece no relatório da PF vendendo as joias de Bolsonaro.

Bitencourt já se manifestou diversas vezes contra ações de Bolsonaro, como o perdão presidencial concedido ao ex-deputado golpista Daniel Silveira, o qual considerou “crime de responsabilidade”. Além disso, chamou de “asseclas de Bolsonaro” os terroristas que atacaram Brasília no dia 8 de janeiro.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tornou público o relatório da PF que embasou as operações de busca e apreensão em endereços de Mauro Cid, de seu pai, Mauro Lourena Cid, de outro ajudante de ordens, Osmar Crivelatti, e do advogado do ex-presidente, Frederick Wassef.

No documento, constam dezenas de mensagens entre Mauro Cid e outros investigados sobre as peças de luxo que Bolsonaro desviou.

Cid conversou abertamente sobre a logística para que as peças chegassem aos outros assessores, os locais onde as peças deveriam ser levadas, os valores negociados e até sobre a entrega de US$ 25 mil, referente a aproximadamente R$ 125 mil, para Jair Bolsonaro “em cash”, ou seja, em dinheiro vivo.

As peças de luxo foram dadas por países estrangeiros ao Brasil e, por seu alto valor, deveriam ter sido integradas ao acervo público da Presidência. Jair Bolsonaro se apropriou das peças para levá-las aos Estados Unidos e vendê-las.

Alguns desses objetos, como relógios da Rolex, chegaram a ser vendidos para lojas de luxo, enquanto outros foram colocados em leilão, mas não arrematados.

Os aliados de Bolsonaro tiveram que “recomprar” os objetos vendidos para entregá-los ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Mauro Cid participou dessa “operação de resgate” para trazer para o Brasil um conjunto dado de presente, em 2019, pela Arábia Saudita.

O kit recuperado por Cid era composto por um anel, uma caneta, um par de abotoaduras e um rosário islâmico. Essas joias tinham sido vendidas em lojas de Miami, nos EUA.

Fonte: Página 8