A direita queria usar as eleições municipais de 2024 para “ganhar terreno” e se fortalecer até a próxima disputa à Presidência da República, em 2026. Só o PL, partido de Jair Bolsonaro, sonhava em saltar de 300 para 1300 prefeituras. Esse cenário, avaliavam, só seria viável se o ex-presidente entrasse de corpo e alma na campanha, apoiando candidaturas nas regiões que lhe deram vitória nas eleições 2022.

Os planos começaram a ruir no final de junho, quando, por maioria de votos, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarou Bolsonaro inelegível por oito anos, devido a abuso de poder político. Porém, era só o começo do calvário bolsonarista.

O cerco judicial contra o ex-presidente, em frentes como as tentativas de golpe de Estado e o caso das joias sauditas, fez aliados ligarem o alerta. Dentro do PL, em especial, a prisão de Bolsonaro já é dada como certa – o que desmancha os intentos megalomaníacos da legenda. Os prejuízos políticos e eleitorais são evidentes.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tenta manter o ânimo da tropa. Conforme a jornalista Bela Megale, colunista do O Globo, Valdemar “acredita que, mesmo sendo confrontado com novas provas de crimes no caso das joias – inclusive sobre a compra e venda de presentes destinados à União –, Bolsonaro mantém um grupo fiel de eleitores que será decisivo em 2024”.

Qual é, no entanto, o tamanho aproximando desse eleitorado 100% bolsonarista? Pesquisa Quaest divulgada no último dia 16 de agosto revelou que, entre brasileiros que votaram em Bolsonaro no segundo turno da eleição 2022, 25% aprovam o governo Lula – o índice era de 14% em abril.

O avanço lulista sobre o eleitorado de Bolsonaro – ainda antes da iminente prisão – obriga a direita a pensar em alternativas. “Entre os mandachuvas do PL, existe a dúvida se esse capital político (de Bolsonaro) seguirá, caso o ex-presidente seja preso e saia de circulação”, registra Bela Megale. “Um plano que é tido como consenso, por hora, é escalar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para ocupar o espaço que o marido pode deixar e vitimizá-lo em seu discurso.”

Dado adicional da pesquisa Quaest aponta que, para 41% dos eleitores, Bolsonaro deveria ser preso devido ao escândalo das joias sauditas. Outros 43% creem que não é caso para prisão. Mais do que revelarem apoio ou rejeição ao ex-presidente, os números mostram que há uma crescente percepção de que Bolsonaro está envolvido em crimes graves. Como no poema, a direita já está “catando os cacos do caos”.