Greve de roteiristas foi acompanhada de manifestações | Foto: Gabriel Bouys/AF

Representantes dos estúdios de cinema dos Estados Unidos recuaram de sua posição intransigente de ignorar a paralisação do setor e se reuniram, pela primeira vez, com os roteiristas que estão em greve desde maio pedindo reajuste salarial e formas mais justas de cálculo para o recebimento por suas obras.

Nenhum acordo entre as partes foi fechado, pois o sindicato patronal disse que precisaria conversar com seus membros antes de qualquer ação. A reunião aconteceu na sexta-feira (4).

Os roteiristas estão em greve desde maio exigindo maiores salários e que o cálculo para fins de pagamentos relativos a direitos autorais sejam adequados à nova realidade dos streamings.

A associação dos estúdios de Hollywood (AMPTP) falou aos representantes dos trabalhadores que poderia negociar os pagamentos mínimos para roteiristas de TV e discutir sobre o uso de suas obras nos textos de Inteligências Artificiais, apontado como usurpação desautorizada pelos roteiristas.

No entanto, os estúdios não indicaram qualquer proposta ou avaliação sobre a questão dos “valores residuais” das produções de cinema, que é um dos pontos principais da greve.

Os estúdios se recusam a modernizar o cálculo desses valores, que ainda é feito na lógica já ultrapassada das séries que eram produzidas para serem transmitidas na TV aberta e não nos streamings como Netflix, Disney+ e outros.

Associação dos Escritores dos EUA (WGA) denunciou que a estratégia adotada pelos patrões foi, até agora, de não negociar e deixar o movimento grevista perder força, uma estratégia que tem fracassado.

Com a primeira reunião após quase 100 dias, “nós estamos testemunhando um fracasso espetacular” da estratégia dos estúdios, avaliam os roteiristas.

Chris Keyser, representante dos roteiristas, afirmou que “as negociações não vão acontecer da noite para o dia. Não é que a negociação em si seja complexa. Uma vez que os estúdios estejam engajados, [a negociação] poderia acontecer rapidamente. Mas a estratégia deles, de muitas décadas, acabou de cair por terra e eles não previram isso”.

“Eles voltarão para nós. Apesar de sua compreensível preocupação sobre como eles navegaram nessa transição para o streaming, o que está na mão deles e não na nossa, nenhum deles vai abrir mão da riqueza deste negócio”, completou. Mas, como previram os líderes dos trabalhadores, terão que ceder.

O sindicato patronal pediu uma reunião sigilosa com os roteiristas, mas, segundo os grevistas, vazou informações para a imprensa buscando queimar e dividir o movimento.

A paralisação, que se aproxima dos 100 dias, conta ainda com o Sindicato dos Atores (SAG) e com a Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio (AFTRA), que reúnem cerca de 160 mil profissionais do setor. Outros setores ligados ao entretenimento hollywoodiano também apontam as consequências da ampla greve, a exemplo dos cenógrafos, produtores, entre outros.

Fonte: Papiro