Foto: José Cruz/Agência Brasil

Os diálogos interceptados pela Polícia Federal estão mostrando muito mais do que só o envolvimento de Bolsonaro e empresários na disseminação de ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao ministro Alexandre de Moraes às vésperas das eleições.

Há trocas de mensagens mostrando a cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) agindo para proteger Meyer Nigri de uma investigação da construtora Tecnisa. As informações são do site UOL.

Diálogos interceptados pela PF mostram que Nigri, um empresário ligado a Bolsonaro, acionou Aras quando tomou conhecimento de que poderia ser alvo de uma investigação pela disseminação de mensagens de teor golpista. O pedido de investigação partiu do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), com base em reportagem do site “Metrópoles”.

Aras lhe disse que iria localizar o processo e, antes de qualquer manifestação nos autos, antecipou seu juízo ao empresário: “Se trata de mais um abuso do fulano”, numa referência a Randolfe.

Três semanas depois desse diálogo, a PGR pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o trancamento da investigação aberta contra Nigri e outros empresários, além da anulação de uma operação de busca e apreensão já deflagrada pela Polícia Federal por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

A PF também identificou que Meyer Nigri estava cheio de contatos dentro da PGR. Ele usou a relação que tinha com o procurador-geral da República para apresentar demandas privadas. Há trocas de mensagens entre Nigri e Aras e um encontro dele com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo.

Após a PF ter deflagrado a operação contra Nigri sem conhecimento prévio da PGR, o órgão tentou enterrar a operação e anular suas provas. A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, apresentou um recurso ao STF no dia 9 de setembro pedindo a anulação das buscas contra os empresários e o trancamento do caso. Moraes, entretanto, rejeitou o pedido. Em 20 de setembro, Lindôra se manifestou contra o compartilhamento das provas do caso ao STF, novamente tentando barrar a investigação.

O telefone celular de Meyer Nigri mostra que ele mantinha contato frequente com um assessor da PGR, Antônio Rios Niko Palhares, com quem trocava mensagens com informações falsas de teor bolsonarista. Em uma viagem de Nigri a Brasília, Palhares se ofereceu para buscá-lo no hotel usando o carro oficial da PGR, mas o empresário alertou que poderia haver problemas.

Palhares também marcou uma reunião do empresário com a vice-procuradora-geral Lindôra Araújo. Em abril de 2022, Meyer Nigri foi a Brasília e tentou se encontrar com Aras, mas o procurador-geral estava fora do país em viagem. Antônio Palhares, então, ofereceu-lhe uma agenda com a vice.

Numa das mensagens, Palhares fala com Meyer Nigri: “Estava para conversar com o senhor para ver a sua agenda. Porque tem um convite para o senhor comparecer à PGR, com a procuradora em exercício, doutora Lindôra. E o PGR, seu Augusto, me mandou uma mensagem ontem dizendo para ver a sua agenda como está, para mim poder marcar com doutor André, que é o secretário do doutor Augusto”

Posteriormente, outra mensagem, em 20 de abril de 2022, mostra Meyer Nigri relatando a Aras o encontro com Lindôra“Oi amigo, tudo bem? Como é que está a tua viagem? Honfleur é um charme, não é? Olha, ontem, pena que você não estava lá, fui recebido pela Lindôra. Espetacular! É super legal! Adorei ela, muito legal, me tratou muitíssimo bem. Adorei conhecê-la. Ela combinou, pediu para se pudesse me passar o contato dela? Que eu quero falar com ela, tá bom? Mandar uma mensagem. Então aproveite. E parabéns pelo artigo de hoje, maravilhoso. Parabéns”.

Em 14 de março de 2022, Meyer Nigri enviou a Aras uma publicação contra um filme criado pelo humorista Danilo Gentili que passou a ser acusado por bolsonaristas de fazer apologia à pedofilia. Aras respondeu: “Chocante. A competência é do primeiro grau. Provavelmente em São Paulo. Vou encaminhar para lá!”.

Em fevereiro de 2022, o empresário encaminhou a Aras uma demanda de um advogado que travava uma disputa jurídica em um caso em tramitação no STF. O advogado pedia que a PGR adotasse um entendimento jurídico defendido por ele a respeito do prazo de uma ação movida contra um parlamentar, para permitir o prosseguimento da ação. A PGR, entretanto, não concordou com a tese.

Ainda em fevereiro do ano passado, Nigri pediu a Aras ajuda para que o Brasil pudesse declarar os grupos islamitas Hamas e o Hezbollah como grupos terroristas sem necessidade de aprovação do Congresso Nacional. Nigri é um dos empresários mais influentes da comunidade judaica no Brasil. Aras respondeu que iria verificar o assunto, mas não houve providências efetivas a respeito do pedido.

Fonte: Página 8