Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Paris contra o assassinato do jovem Nahel | Foto: CGT

A França está conflagrada com confrontos que seguem pela sexta noite consecutiva desde que, na última quinta-feira (27), o adolescente Nahel, de 17 anos, foi assassinado por um policial que anunciou teve sua sentença de morte aplicada por um policial que anunciou que a vítima tomaria “um tiro na cabeça”.

O protesto contra a tragédia ocorrida em Nanterre, próxima a Paris, se espraiou para pelo menos 220 municípios, com a gendarmeria (guarda armada) utilizando veículos blindados para perseguir e reprimir. Mais de três mil manifestantes já foram presos. Calcula-se que o conflito já gera mais de um bilhão de euros em prejuízos.

“Diante desta situação explosiva, as orientações políticas dadas pelos Ministérios do Interior e da Justiça não contribuem para o necessário apaziguamento e redução da beligerância. Pelo contrário, são o terreno fértil para a extrema-direita que explora a violência para banalizar suas ideias e ameaçar nossa democracia”, afirmou a Confederação Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical francesa.

Conforme a CGT, a “dramática morte” de Nahel pôs em evidência as tensões ainda muito fortes nos bairros operários da França, que vão além do quadro exclusivo da violência policial e estão ligadas às injustiças e discriminações sofridas cotidianamente. A gravidade do problema, assinala, exige uma resposta política de curto e longo prazo, pois “como acreditar em igualdade quando os bairros se encontram sem serviços públicos e permanecem sem acesso por falta de transporte acessível, sem médicos e sem hospitais? Quando a habitação está profundamente degradada, acentuando a sensação de abandono? Quando o acesso ao emprego é mais difícil para os jovens desses bairros, como vários estudos têm mostrado?”.

PRECONCEITO CONTRA ÁRABES E NEGROS

Os movimentos sociais articulados lançaram um manifesto em que reiteram que “grande parte dos jovens vivência diariamente o racismo e são vítimas de preconceito, discriminação e violência”. “Um clima ideológico geral estigmatiza particularmente os muçulmanos ou aqueles que são percebidos como tal, especialmente os jovens. É esta situação que não pode continuar. Particularmente nos bairros populares, as relações entre a polícia e a população, principalmente os jovens, são conflituosas e discriminatórias. Está comprovado, por exemplo, que jovens identificados como árabes ou negros têm 20 vezes mais chances de serem revistados pela polícia do que outros”, explicam.

Para sair da espiral destrutiva da violência, a CGT defende, em primeiro lugar, “e esta é uma condição inevitável, que se faça justiça a Nahel”. A central também reivindica a revogação da lei que autoriza os guardas a dispararem em caso de recusa, a criação de uma autoridade de controle policial verdadeiramente independente e que as prefeituras garantam a liberdade de reunião, manifestação e circulação.

De acordo com o principal sindicato empresarial francês, “é muito cedo para dar um número exato do prejuízo, mas estamos falando em mais de um bilhão de euros, sem contar os danos ao turismo”. “Os vídeos que circularam pelo mundo degradam a imagem da França”, avalia a entidade, para quem a ira da multidão fez com que mais de 200 lojas fossem totalmente saqueadas, 300 agências bancárias destruídas, e caixas registradoras fossem queimadas e destruídas.

A dimensão dos confrontos também expressa a revolta dos franceses contra o ataque que o governo Macron denomina de ‘Reforma da Previdência’, através da qual anos de aposentadoria foram garfados dos trabalhadores franceses.

Para sancionar esse ataque aos direitos previdenciários, Macron deu as costas a manifestações que rejeitavam a medida, reunindo milhões em cada um dos atos e passou por cima do parlamento promulgando a lei sem que a mesma fosse debatida na casa legislativa que equivale a nossa Câmara de Deputados.

Enquanto diz que a tal ‘Reforma’ buscava proteger os cofres públicos do excesso de gastos, Macron se junta a países da União Europeia na submissão a Washington e participa da sangria do Tesouro destes países através das sanções à Rússia imposta pelos Estados Unidos, o que implica em gás mais caro e participa dos gastos militares para apoiar a guerra dos EUA contra a Rússia, por procuração através do regime nazista de Kiev.

Fonte: Papiro