Francisco recebeu Stella Assange, que chegou com os dois filhos, a mãe e o irmão de Julian | Foto: AFP

O Papa Francisco recebeu em audiência na sexta-feira (30) no Vaticano a esposa e familiares do preso político nº 1 do mundo, o jornalista Julian Assange, que está na iminência de ser extraditado para os EUA, acusado de ‘espionagem’ por ter documentado e publicado os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, ameaçado de 175 anos de cárcere. Stella também participou em Roma de um ato com parlamentares e jornalistas pela libertação de Assange.

“Esta manhã, o Papa Francisco concedeu a mim e aos nossos filhos uma audiência privada. Estamos emocionados”, postou Stella Assange. Ela revelou que o Papa enviou uma carta ao marido em março de 2021, quando ele passava por um momento difícil. Assange está preso há quase quatro anos numa prisão de segurança máxima, Belmarsh, considerada a “Guantánamo britânica”, depois de ter passado sete anos refugiado na Embaixada do Equador.

“O Papa nos deu muito conforto e força e estamos muito gratos pela forma como ele se dirigiu à nossa família. Ele entende que Julian está sofrendo e está preocupado”, ela disse à agência norte-americana Associated Press. Stella estava acompanhada na audiência pelos dois filhos pequenos, Gabriel e Max, e pela mãe e o irmão de Assange. O Vaticano informou da audiência sem dar detalhes.

No ato “O caso Assange e o direito à verdade”, Stella afirmou que “o que está em jogo é o destino do jornalismo e da democracia”. Ela denunciou a perseguição implacável movida por Washington e a farsa grotesca dos tribunais ingleses contra o jornalista.

“Este é um caso político, não jurídico. Porque o que ele fez foi apenas revelar crimes cometidos por Estados, mostrar assassinatos de civis e todos os detalhes de guerras ilegais”.

ORDEM DOS JORNALISTAS ITALIANOS HOMENAGEIA ASSANGE

O presidente da Ordem Nacional de Jornalistas, Carlo Bartoli, anunciou aos presentes que Julian Assange receberá uma carteira de jornalista de honra da entidade. “Estamos aqui para defender não só a causa de um homem preso injustamente, mas também para defender um princípio que é o da liberdade de informação”.

Um dos principais jornais italianos, Il Fatto Quotidiano, somou-se a campanha pela imediata libertação de Assange, divulgando uma carta aberta que em poucas horas já havia recebido mais de 20 mil adesões.

“Enquanto Assange não é mais um homem livre desde 2010, os criminosos que cometeram as atrocidades denunciadas pelo Wikileaks desfrutam de suas famílias sem problemas. O mundo está de cabeça para baixo: criminosos livres e jornalistas, que tiveram a coragem de denunciá-los, presos para sempre”, diz a carta do jornal italiano.

BASTA DE SILÊNCIO, EXIGE IL FATTO QUOTIDIANO

A carta cobra do governo italiano e do Parlamento “que se mexam no plano internacional, inclusive no Parlamento Europeu, para impedir a extradição de Julian Assange e encerrar definitivamente o caso.”

“O silêncio das instituições italianas sobre este caso é impressionante. Enquanto os apelos da sociedade civil se multiplicam, a monstruosa injustiça contra um inocente e a destruição da liberdade de imprensa são fatos que não parecem preocupar a República Italiana e suas instituições”.

“Seu único crime? Ter revelado a verdade”. Ele e seus colegas do WikiLeaks “publicaram documentos secretos do governo dos EUA que revelaram crimes de guerra e tortura, do Afeganistão ao Iraque e Guantánamo”, sublinha a carta de Il Fatto.

“Centenas de legisladores de grandes democracias, como Inglaterra, Alemanha, Brasil e Estados Unidos, pediram ao governo Biden que encerrasse o caso. A iniciativa mais recente data de 11 de abril: os congressistas norte-americanos Rashida Tlaib, Alexandria Ocasio-Cortez, Jamaal Bowman, Cori Bush, Greg Casar, Ilhan Omar e Ayanna Pressley entraram em ação”, destaca o diário italiano.

LIBERDADE PARA ASSANGE!

No mesmo dia, no Brasil, mais de 2 mil acadêmicos, líderes políticos, empresários e sindicatos enviaram uma carta ao presidente Lula pedindo-lhe que concedesse asilo político ao jornalista australiano. Há pouco mais de uma semana, o presidente Lula defendeu em sua viagem a Europa, enfaticamente, a liberdade para Assange.

Outros líderes mundiais também já se manifestaram contra a extradição de Assange e por sua libertação. Como o presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, a vice-presidente da Argentina Cristina Kirchner e o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese.

No mesmo sentido, se expressaram artistas e intelectuais como Roger Waters, Lady Gaga, Brian Eno, Oliver Stone, Noam Chomsky, John Pilger e Yannis Varoufakis. Também entidades como Anistia Internacional, Repórteres Sem Fronteiras e Comitê de Proteção aos Jornalistas, além de relatores especiais da ONU sobre Tortura e sobre Detenções Ilegais.

Diretores de alguns dos principais jornais do mundo – e que inclusive também divulgaram em 2010 os documentos apresentados pelo WikiLeaks -, como The New York Times (EUA), The Guardian (Inglaterra), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha) e El País (Espanha), enviaram carta ao governo dos Estados Unidos em que pedem o fim da perseguição a Assange porque “publicar não é crime”.

Fonte: Papiro