Iraquianos defendem penalização de profanação dos livros sagrados de todas as religiões | Foto: AFP

Milhares de pessoas foram às ruas do Iraque, do Irã e do Líbano, na sexta-feira (21), em repúdio a uma nova profanação do Alcorão – livro sagrado para fé islâmica – na Suécia, o que levou grupos de pessoas a incendiar a embaixada do país escandinavo em Bagdá já na madrugada.

A indignação popular levou multidões às ruas depois que Salwan Momika, um desertor iraquiano, pisou e rasgou o Alcorão do lado de fora da embaixada de Bagdá na Suécia, na quinta-feira (20), ofensa que Estocolmo autorizou, pela segunda vez, sob o pretexto de que se trata de ‘liberdade de expressão’.

Em 28 de junho, o mesmo indivíduo havia queimado várias páginas do livro do Islã em frente a uma mesquita de Estocolmo, tendo as autoridades suecas colocado a polícia para garantir sua segurança.

A provocação da quinta-feira (20) desencadeou nova crise entre a Suécia e o Iraque, que ordenou a expulsão da embaixadora sueca em Bagdá, removeu todos os seus quadros de Estocolmo e retirou a licença para operar no país à empresa sueca Ericsson.

Países de maioria muçulmana e organizações islâmicas, por sua vez, levantaram suas vozes intensificando seus apelos ao boicote de mais produtos e empresas do país europeu.

No Iraque, o influente líder religioso Moqtada Sadr convocou milhares de manifestantes que se reuniram em uma avenida de Bagdá sob as consignas “Sim, sim ao Islã”, “Sim, sim ao Alcorão” e “Sim, sim ao Iraque”, enquanto exibiam cópias do livro sagrado muçulmano, retratos de Al Sadr e bandeiras iraquianas, confirmou um correspondente da AFP. “Com esta manifestação queremos fazer chegar a nossa voz à ONU, para obter a penalização de qualquer profanação dos livros sagrados, do Islã, do Cristianismo e do Judaísmo”, disse Amer Shemal, funcionário municipal.

No Irã, uma multidão foi às ruas de Teerã carregando bandeiras iranianas e cópias do Alcorão, cantando: “Abaixo os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a Suécia”. Alguns também incendiaram bandeiras suecas. No Líbano, centenas de pessoas se reuniram em frente a várias mesquitas em um subúrbio ao sul de Beirute. O exército reforçou as medidas de segurança nas proximidades da embaixada sueca.

CRISE DIPLOMÁTICA

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita disse em comunicado que entregará uma nota de protesto ao encarregado de negócios da Suécia “para exigir, acima de tudo, que as autoridades suecas tomem medidas imediatas para pôr fim a esses atos vergonhosos”.

A Turquia instou Estocolmo a tomar medidas concretas para levar às barras dos tribunais as pessoas envolvidas na ofensa ao Alcorão. “Esta provocação não tem nada a ver com a liberdade de expressão. Exortamos as autoridades suecas a tomarem medidas concretas. A ação não tem nada a ver com a democracia, pelo contrário, é um golpe contra a democracia, contra os valores democráticos”, disse o vice-presidente Jevdet Yilmaz.

Por sua vez, Marrocos retirou seu embaixador da Suécia indefinidamente. As autoridades do país consideraram “inaceitável” permitir a zombaria contra os muçulmanos, o que está além de quaisquer “posições políticas e divergências que possam existir”.

“É um ato vergonhoso que ofende os sentimentos dos muçulmanos em todo o mundo”, disse o Ministério das Relações Exteriores do Egito. O comunicado apelou ao governo da Suécia e demais Estados europeus para que evitem incitar crimes de ódio e defendam a tolerância e a convivência pacífica entre as diferentes comunidades.

“ONU DEVE TOMAR MEDIDAS”

Apoiando os manifestantes nas ruas, o governo do Irã convocou o embaixador sueco em Teerã. “Condenamos fortemente a profanação repetida do Alcorão Sagrado na Suécia e responsabilizamos o governo sueco pelas consequências de provocar os sentimentos dos muçulmanos em todo o mundo”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Naser Kanani. O país persa enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na qual denuncia que a concessão de permissão a este tipo de manifestação “trará problemas irreparáveis, incluindo a propagação do ódio, da violência e da xenofobia em diferentes sociedades”. A carta também pede que “tome as medidas necessárias o mais rápido possível” para evitar que esses eventos se reproduzam.

Após uma reunião com representantes da Organização para a Cooperação Islâmica, Guterres expressou a sua determinação em “combater o ódio religioso”, bem como a sua solidariedade para com os muçulmanos. O porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, acrescentou que estão preocupados com a queima de exemplares do Alcorão e o assalto à Embaixada da Suécia no Iraque, e apelou ao respeito mútuo.

Fonte: Papiro