Soldados ucranianos em ônibus após rendição em massa na batalha por Mariupol | Foto: Reprodução

Disposto a fornecer carne de canhão para a guerra por procuração dos EUA contra a Rússia na Ucrânia e em meio ao fiasco da sua anunciada ‘contraofensiva’, o regime de Kiev cada vez mais explicitamente comete uma caçada encarniçada aos possíveis recrutas, principalmente nas áreas das minorias étnicas, o que vem sendo mostrado em vídeos que circulam nas redes sociais.

A brutal mobilização de jovens por oficiais militares ucranianos de recrutamento vem ocorrendo há um ano e meio, relata o jornal húngaro Magyar Nemzet. “Muitos homens conscritos são retirados da rua por homens uniformizados”, afirma. “Mais recentemente, em Subcarpathia, uma câmera de vigilância registrou o exagero das autoridades quando um homem tentando ir a uma loja foi arrancado de sua bicicleta em plena luz do dia, em um pequeno povoado do município de Munkács”. A sua bicicleta foi deixada na via.

Outro vídeo mostrou um jovem sendo empurrado contra sua vontade para um microônibus do exército em Mukachevo, Transcarpathia. A região historicamente é habitada por descendentes de húngaros, com a fronteira tendo mudado várias vezes ao longo do século passado.

Vídeos semelhantes de sequestros foram postados das regiões de descendentes russos, como Odessa, mas também na capital, Kiev, e têm se tornado virais em aplicativos de mensagens como Telegram e Viber.

“CARTA DE AMOR” DE ZELENSKY

Algumas das contas que publicam esse conteúdo têm um número cada vez maior de seguidores – mais de 100.000 – com algumas contas rastreando patrulhas de recrutamento em tempo real para ajudar outras pessoas a escapar do que é conhecido zombeteiramente como “carta de amor”.

Outros jovens estão simplesmente se recusando a deixar suas casas devido a um número crescente de postos de controle móveis não anunciados em regiões da Ucrânia, onde recrutadores militares procuram pegar à força homens ucranianos em idade militar desprevenidos e recrutá-los para as forças armadas.

Em Vinnytsia, que fica entre Kiev e Odessa, por exemplo, também está circulando um vídeo de funcionários do comando militar auxiliar local colocando suas vítimas à força em um veículo de luxo. “Muitos jovens já não saem de casa. Sempre há um risco. Você tem que ter muito cuidado e olhar em volta, caso haja algum perigo. É muito estressante”, disse um jovem ucraniano em entrevista à emissora France 24.

“Por que os jovens não querem ser convocados para o exército? Porque eles sabem o preço de manter a linha de frente. Custa milhares de vidas”, acrescentou.

Andrii Novak, um advogado ucraniano e especialista em assuntos militares, disse que a corrupção entre os recrutadores militares continua comum, e alguns oficiais de recrutamento estão usando o sistema para enriquecer rapidamente. “Por causa da corrupção, existem métodos ilegais (para evitar ida à guerra), como subornar os recrutadores das forças armadas ou pagar por um falso certificado de invalidez”, disse ele à emissora francesa.

É sabido que os escritórios de recrutamento militar se tornaram um foco de corrupção no último ano e meio. Na Ucrânia, não é segredo que a mobilização pode ser evitada por uma média de € 7.000. Os oficiais podem fazer fortunas incríveis e alguns não escondem sua riqueza recém-adquirida, chegando ao trabalho em novos carros de luxo.

Mais recentemente, veio à tona que um comandante militar de Odessa, Yevgeny Borisov, gastou quase 4 milhões de euros no ano passado em uma mansão de luxo na costa espanhola, bem como quase 200.000 euros em um carro de luxo. Ele também comprou para sua esposa uma rede de lojas na Costa do Sol. Se tudo isso não bastasse, Borisov pôde passar férias em seu palácio espanhol, apesar do fato de as fronteiras estarem fechadas para recrutados há um ano e meio.

O caso de Borisov causou tal clamor público que, após quase dois meses de denúncias, o presidente Volodymyr Zelensky teve que declarar que tais figuras não tinham lugar no exército e até prometeu que todos os cargos militares seriam revistos.

Ironicamente, é precisamente em Odessa que os recrutadores ucranianos são mais agressivos e dissimulados; a região também apresenta o maior número de conscrições, segundo o portal Zero Hedge. Fundada no reinado de Catarina II, Odessa é uma das cidades russas mais emblemáticas, cenário da revolta do encouraçado Potemkin, magistralmente registrada por Eisenstein.

Outro aspecto dessa crescente resistência popular a servir de bucha de canhão para Washington e seu fantoche foi registrado por pesquisa realizada pelo grupo de sociólogos ucranianos “Rating”, curiosamente por encomenda do Instituto Republicano Internacional e com apoio financeiro da Usaid.

A pesquisa entrevistou quase 17 mil pessoas em 21 cidades, todas maiores de 18 anos, e registrou discrepâncias de como a população se sente diante do conflito. O Sputnik publicou a entrevista na íntegra.

Como sintetizou o Konsomolskaya Pravda, “nós vamos correr dos russos e não vamos nos alistar no exército” de Zelensky. “Quando perguntados se pretendem deixar suas cidades em caso de agravamento da situação militar perto deles, em quase todas as cidades a maioria dos entrevistados disse que permaneceria em seu local de residência”.

“A menor parcela desses cidadãos foi registrada em Rivne (45%) e Ivano-Frankivsk (47%), e em todas as outras cidades os números estão quase em todos os lugares acima de 50%: Kiev, 60%; Chernihiv e Sumy, 59% cada. 61% dos participantes da pesquisa disseram que não deixariam a cidade em Kharkov, Odessa e Dnepropetrovsk; 57% em Nikolaev e Zaporozhya”.

A pesquisa também quis saber que porcentagem dos entrevistados estaria disposta a se juntar ao exército ucraniano. “Então, talvez, eles defenderão suas cidades do “país agressor”, como a equipe de Zelensky não se cansa de dizer?”, indaga o KP. O que se verificou foi que, na região ocidental, onde predominam as correntes supremacistas ou abertamente neonazis, essa proporção varia de 17% a 15% de acordo com a pesquisa.

“Mas quanto mais a leste a cidade está localizada, menos pessoas querem se juntar às Forças Armadas da Ucrânia e lutar por Zelensky. Em Kharkiv, existem apenas 6% desses aventureiros; em Chernihiv, Odessa e Zaporozhye, 8% cada; em Nikolaev, 9%. Nenhum heroísmo altruísta em massa, nenhuma prontidão para entrar nas trincheiras e tanques”.

E isso – assinala o KP – ocorre em um momento em que a propaganda oficial ucraniana afirma que “89% dos ucranianos estão prontos para lutar contra o agressor” e que “85% dos ucranianos não se acalmarão enquanto o Donbass e a Crimeia não forem devolvidos à Ucrânia”.

80% EM ODESSA FALAM RUSSO EM CASA

Em relação ao uso do idioma russo, a imagem mostrada pela pesquisa é muito distante da apregoada por Zelensky e seus supremacistas. 80% dos entrevistados em Odessa admitiram continuar falando russo em casa; em Kharkov, 78%. Em Zaporozhya, 67% dos entrevistados deram a mesma resposta; em Dnepropetrovsk, 66%; e em Nikolaev, 61%. Mesmo na capital, Kiev, 38% dos participantes da pesquisa admitiram que falam russo em casa.

Outra pergunta foi sobre a entrada da Ucrânia na Otan. De novo, na região ocidental, a favor variam entre 88% e 92%. Já no sul e leste de ascendência russa, 47% dos entrevistados em Odessa se opõem à adesão da Ucrânia à OTAN; 38% em Kharkov; 31% em Dnepropetrovsk e 28% em Zaporozhya. Isso apesar de muitos anos de lavagem cerebral na população, observa o KP, além do risco de expressar esse ponto de vista se por perto houver algum arruaceiro do Batalhão Azov e assemelhados.

Fonte: Papiro