Foto: Renan Olaz/Câmara do Rio de Janeiro

A investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes teve avanços importantes com a prisão, nesta segunda-feira (24), do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa e a delação premiada feita pelo ex-policial militar Élcio Queiroz. Com isso, vai se fechando o cerco em torno dos envolvidos e chegando-se mais perto da elucidação total do crime, com o esclarecimento sobre quem foi o mandante e sua motivação. 

O ex-bombeiro foi preso pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na Operação Élpis, primeira fase da investigação que apura os homicídios, além da tentativa de homicídio da assessora de Marielle, Fernanda Chaves. Por determinação da Justiça, ele será transferido para um presídio federal. Na operação, também foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão. A condução conjunta da investigação conta, ainda, com a Polícia Penal Federal (PPF).

Tal configuração das instituições dedicadas às apurações foi instituída após trocas constantes no comando do inquérito conduzido pela Polícia Civil do Rio e diversas tentativas de atrapalhar as investigações. Após se chegar a como foi o crime e seus executores, o passo seguinte seria verificar demais participantes e responder quem mandou matar a vereadora e por que — a partir daí, a investigação se arrastou. 

Segundo informado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, a delação de Elcio Queiroz ocorreu há cerca de duas semanas, após a obtenção de novas provas e revisão de apurações anteriores acerca da dinâmica do crime. 

Queiroz teria decidido fazer a delação por ter ficado desconfiado do parceiro e por perceber que o cerco se fechava. Lessa havia dito a ele que não fizera nenhuma pesquisa sobre Marielle na internet — o que poderia ajudar na elucidação dos envolvidos. No entanto, dois dias antes do crime, Lessa havia sim pesquisado o CPF e o endereço da vereadora e de sua filha num site que oferece consulta a dados cadastrais para concessão de crédito, consulta esta paga com cartões apreendidos com Lessa.

Conforme o acordo de delação, homologado pela Justiça, além dos quatro anos em que cumpre prisão, Queiroz deve ficar preso por mais oito anos em regime fechado, totalizando 12 anos. Ele também não irá a júri popular, como Lessa, e cumprirá a pena em presídio estadual. 

Além de apontar o papel executado por  Maxwell Corrêa, o ex-policial militar confirmou a própria participação e também a de Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos. Foram apontados, na colaboração, detalhes de itinerário dos criminosos, antes e depois do crime. 

Tanto Queiroz quanto Lessa estão presos desde 2019. Maxwell chegou a ser preso em 2020 e é réu neste processo por homicídio e receptação, porque recebeu o carro usado no crime segundo o MP e a PF. Além disso, ele foi condenado em 2021 por atrapalhar as investigações. 

“Temos, hoje, a confirmação de passos dados anteriormente. Aspectos sobre os quais pairavam dúvidas, estão esclarecidos, porque há convergência entre a narrativa do Elcio e outros aspectos que já estavam com a polícia. Ele narra a dinâmica, narra a participação dele e do Ronnie Lessa e aponta o  Maxwell e outros como copartícipes. A investigação não está, de forma alguma, concluída, o que acontece é que há um avanço, uma mudança de patamar. A investigação se conclui em termos de patamar da execução e há elementos para um novo patamar, que é a identificação dos mandantes”, avaliou o ministro Flávio Dino, durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (24). 

No começo do ano, Dino disse que o esclarecimento do caso é questão de honra. Em fevereiro, o ministro determinou a abertura de novo inquérito. Em entrevista recentemente publicada pela Agência Pública, Dino destacou acreditar que chegaria à solução do crime. 

Até o momento, a investigação levou ao conhecimento mais detalhado da dinâmica do assassinato e de alguns dos envolvidos. Veja os principais fatos já apurados: 

Suspeitos diretos

As investigações chegaram, até o momento, a três pessoas diretamente envolvidas nos assassinatos: Ronnie Lessa, autor dos disparos; Élcio Queiroz, que dirigia o carro usado nas execuções, e Maxwell, conhecido como Suel, que teria participado ativamente antes, durante e depois do crime. Segundo o MP, ele vigiou a vereadora desde agosto de 2017 e depois do crime, ajudou a esconder o arsenal do ex-PM e tentou atrapalhar as investigações.

De acordo com Élcio, Ronnie contou que chegaram a tentar matar Marielle ainda em 2017, mas não conseguiram por ter havido um problema com o carro que era dirigido por Maxwell. Ronnie teria dito que acreditava, na verdade, que Maxwell teria desistido e inventado a falha mecânica.

Élcio também disse que foi chamado para a execução no dia do crime e que não sabia quem seria o alvo do atentado. Ele teria tomado conhecimento enquanto se deslocava até o local onde a vereadora estava. 

Macalé

O nome de outro possível envolvido veio à tona com a delação de Queiroz. Trata-se de Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, que, segundo o delator, teria estado presente em todas as ações voltadas a vigiar a vereadora. 

Ele também teria participado, segundo Élcio, juntamente com Ronnie e Suel, da primeira tentativa de assassinar Marielle, em 2017. Macalé, que era policial militar reformado, teria chamado Ronnie Lessa para participar do crime. Ele foi assassinado em 2021 e sua morte ainda não foi esclarecida.

Outros alvos

Durante a operação desta segunda-feira, outras seis pessoas foram alvo de busca e apreensão. Denis Lessa, irmão de Ronnie, é suspeito de ter recebido os equipamentos usados no crime. Edilson dos Santos teria sido o responsável por fazer o desmanche do veículo. O casal João Paulo Soares e Alessandra Farizote são apontados como suspeitos de terem feito o descarte da arma usada no crime. Maurício dos Santos Júnior e Jomar Bittencourt Júnior são suspeitos de terem vazado a Ronnie e a Maxwell informações da operação que prenderia o ex-PM, em março de 2019. 

A execução de Marielle e Anderson

Após outros passos envolvendo o planejamento do crime, Élcio e Lessa se dirigiram ao local onde Marielle participava de uma atividade na Casa das Pretas, na Lapa e ficaram no carro até que a vereadora, sua assessora e o motorista deixassem o local. Na sequência, eles passaram a segui-los. Na rua Joaquim Palhares, no Estácio, os carros emparelharam e foram feitos os disparos. 

Depois da execução, a dupla seguiu para a casa da mãe de Lessa, no Meier. Lá, deixaram o veículo usado no crime e seguiram de taxi para um bar na Barra da Tijuca, onde se encontraram com Maxwell. 

Dia seguinte

Ainda de acordo com o delator, os três — Élcio, Ronnie e Maxwell — se encontraram no dia seguinte para dar um fim no carro usado no crime. A placa do veículo foi trocada e a anterior teria sido picotada por Lessa. Os pedaços, assim como cápsulas de balas usadas, foram jogados na linha do trem em Rocha Miranda, no Rio de Janeiro. E Edilson dos Santos, conhecido como Orelha, conforme apontado pelo delator, teria cuidado do desmanche do carro. 

Com agências

(PL)