Ex-prefeito de NY admite que mentiu em favor de Trump ao forjar fraude na Geórgia
O advogado-mor de Donald Trump na campanha eleitoral de 2020 e ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, admitiu que fez falsos comentários públicos ao alegar que duas funcionárias da Geórgia cometeram fraude eleitoral, mas está argumentando que tais declarações estariam protegidas pela Primeira Emenda, registrou a Associated Press.
Essa admissão ocorreu na terça-feira (25) em um processo movido por Ruby Freeman e Wandrea “Shaye” Moss, mãe e filha, que acusam Giuliani de difamá-las ao afirmar falsamente que elas haviam se envolvido em fraude durante a contagem das cédulas na State Farm Arena em Atlanta. Giuliani atuava para anular os resultados desfavoráveis a Trump nos assim chamados estados campo de batalha,
O processo diz que Giuliani repetidamente assacou alegações desmentidas de que Freeman e Moss retiraram malas de cédulas ilegais e cometeram outros atos de fraude para alterar o resultado das urnas.
Giuliani havia requerido à juíza distrital Beryl Howell que arquivasse o processo, alegando que as reivindicações contra ele eram barradas pelas proteções da Primeira Emenda à liberdade de expressão, que rejeitou o pedido e ordenou que o processo prosseguisse.
Embora Giuliani não conteste que as declarações eram falsas, ele não admite que hajam causado qualquer dano a Freeman ou Moss. Essa distinção é importante, como sublinha a AP, porque os demandantes em um caso de difamação devem provar não apenas que uma declaração feita sobre eles era falsa, mas também resultou em danos reais.
Michael Gottlieb, advogado de Freeman e Moss, disse em um comunicado por e-mail que Giuliani está admitindo “o que sempre soubemos ser verdade – Ruby Freeman e Shaye Moss honradamente cumpriram seus deveres cívicos nas eleições presidenciais de 2020 em total conformidade com a lei; e as alegações de fraude eleitoral que ele e o ex-presidente Trump fizeram contra elas são falsas desde o primeiro dia”.
Moss trabalhava para o Departamento de Eleições do condado de Fulton desde 2012 e supervisionou a operação de cédulas de ausentes durante a eleição de 2020. Freeman era trabalhadora eleitoral temporária, verificando assinaturas em cédulas de ausentes e preparando-as para serem contadas e processadas.
Giuliani e outros alegaram durante uma audiência do subcomitê legislativo da Geórgia em dezembro de 2020 que o vídeo de vigilância da State Farm Arena mostrou os trabalhadores eleitorais cometendo fraude eleitoral.
A propósito, foi ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, um republicano, que Trump tentou convencer a lhe arrumar cerca de 11 mil votos de qualquer jeito, em um telefonema, para fraudar a eleição e impedir a vitória de Joe Biden.
Ao comitê da Câmara dos EUA que investigou a invasão trumpista do Capitólio, Moss disse que sua vida foi abalada pelas falsas acusações. Ela relatou que recebeu mensagens odiosas e racistas, algumas “desejando a morte para mim. Dizendo que vou para a cadeia com minha mãe. E dizendo coisas como: ‘Fique feliz por ser 2020 e não 1920.’”
O testemunho em vídeo de Freeman foi reproduzido pelo comitê durante a audiência em junho de 2022. “Não há nenhum lugar em que me sinta segura”, afirmou Freeman em seu depoimento.
A admissão de Giuliani foi anexada a um processo argumentando que ele não deixou de produzir provas no caso e não deveria ser sancionado como Freeman e Moss haviam solicitado. “Embora Giuliani não admita as alegações das demandantes, ele – apenas para fins deste litígio – não contesta as alegações factuais”, diz o documento. Um conselheiro político de Giuliani, Ted Goodman, disse que o pedido foi feito “a fim de passar para a parte do caso que permitirá uma moção de arquivamento”.
Certas questões, incluindo danos, ainda precisam ser decididas pelo tribunal. O advogado Gottlieb disse que Freeman e Moss estão “satisfeitos com este importante marco em sua luta por justiça e ansiosos para apresentar o que resta deste caso no julgamento”.
Freeman e Moss entraram com uma moção neste mês alegando que Giuliani “não tomou nenhuma medida para preservar evidências eletrônicas relevantes” e pediram à juíza Howell que impusesse sanções a ele.
O conselheiro especial do Departamento de Justiça, Jack Smith, e o promotor distrital do condado de Fulton, Fani Willis, que estão investigando os esforços de Trump e seus aliados para anular os resultados das eleições de 2020, demonstraram interesse no que aconteceu com Moss e Freeman. Willis buscou depoimento sobre um episódio curioso no qual os promotores dizem que uma mulher viajou de Chicago para a Geórgia em janeiro de 2021 e tentou pressionar Freeman a confessar falsamente ter cometido fraude eleitoral.
Fonte: Papiro