Bombas de fragmentação aumentam danos e mortes de civis | Fotocomposição

O anúncio pela Casa Branca, neste sábado (8), do envio de bombas de fragmentação ao regime nazista de Kiev enfrenta imediato repúdio internacional. Esse tipo de munição é banido em 123 países. Ela se caracteriza por espalhar um grande número de bombas menores por uma vasta área, podendo matar de forma indiscriminada a civis na região atingida.

Estas minibombas passam a ser espraiadas em alta velocidade por uma área de até 400 metros de raio, sem qualquer definição de alvo, o que fez com que fossem banidas pela Convenção de Dublin, em 2008. E mais, as pequenas bombas que não explodem imediatamente ficam como uma ameaça latente por décadas.

Além da imediata rejeição por parte do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o governo do Canadá foi dos primeiros a se opor: “Não apoiamos o uso de bombas de fragmentação e estamos comprometidos a impedir os efeitos desta munição sobre civis”.

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, referiu-se ao convênio assinado pelo banimento das tais bombas para rejeitar o envio. Da mesma forma se posicionou o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak.

“A Espanha tem o firme compromisso de que certas armas e bombas não podem ser enviadas ou lançadas sob qualquer circunstância”, disse a ministra da Defesa, Margarita Robles.

Tanto os Estados Unidos como Kiev, admitiram o fracasso da propalada contraofensiva de Kiev, para justificar a ação criminosa. Como disse o subsecretário de Defesa para Políticas dos EUA, Colin Kahl, a contraofensiva “vai um pouco mais lenta do que alguns esperavam”, daí a necessidade das bombas de fragmentação “para nos assegurar de que os ucranianos tenham suficiente artilharia”.

Resnikov, ministro da Defesa da Ucrânia, fingiu não saber da qualidade perniciosa destas bombas que espraiam explosivos por vasta área e disse que elas só seriam usadas para “romper as linhas russas”.

Na mesma linha cínica foram as declarações do assessor de Segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, que passou por cima do fato de que as minibombas se espraiam ao dizer que “reconhece o risco de dano a civis pelas bombas de fragmentação quando algumas não explodem como previsto, mas as bombas norte-americanas só falham em 2,5%”, escondendo saber que a questão é exatamente oposta: o morticínio de civis e ferimentos terríveis que causam no momento de sua explosão.

Diante do perigo, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha lançou um comunicado alertando para a vastidão da zona-alvo sobre a qual essas bombas são lançadas.

Para a pesquisadora em diplomacia internacional da Universidade de São Petersburgo, Imelda Ibañez, não é de estranhar “que o Estado que abriu o precedente para o uso de armas nucleares no final da Segunda Guerra Mundial – com o ataque as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki – tome agora essa decisão de fornecer bombas de fragmentação, embora tenha dito na mídia que não havia pensado nisso”.

Imelda Ibañez recordou que existe um precedente no Tribunal Internacional para o uso de bombas de fragmentação por Washington na Iugoslávia, que estabelece a responsabilidade de terceiros, ou seja, quando um Estado também é responsável por atos cometidos durante algum conflito armado sobre o fornecimento de armas ou recursos financeiros. Na sua avaliação, permanecem pendentes “as intervenções dos EUA em Estados soberanos, como ocorreu no Iraque, na Líbia, na Síria e, obviamente, na Iugoslávia”. “O governo Zelenski também se mostra em total violação das normas do direito humanitário internacional ao decidir usar essa arma”, condenou Ibañez.

Para o professor Cesari Irwing, do Centro de Relações Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), a decisão é um reconhecimento explícito da “vantagem tática das tropas russas”. Especialista em segurança e militarização no sistema global, Irwing acredita que o governo Biden acabou por ceder à pressão do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para entregar este tipo de arma, já que poderá ser feita uma ação ainda mais agressiva e sanguinária, prolongando um embate em que o Exército russo mantém uma vantagem estratégica.

“O perigoso seria se a Ucrânia tomasse a decisão ou pensasse que poderia ganhar todo o território das tropas russas e, então, agravar muito mais o conflito”, declarou Irwing. Membro do Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas e Sociais da UNAM, o professor vê como “muito difícil para esta contraofensiva repelir efetivamente as tropas russas”.

Fonte: Papiro