Foto: Diogo Zacarias/MF

Em reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta semana, empresários da Construção Civil fizeram duras críticas ao Banco Central (BC), presidido por Campos Neto, por manter os juros altos, apesar dos indicadores estarem demonstrando retração da inflação e o desaquecimento da economia do país.

“Nós mencionamos ao ministro que a taxa de juros real do Brasil é a maior do mundo e que nenhuma empresa, de qualquer setor, tem condições de lidar com isso”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, em entrevista ao Broadcast do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Estavam presentes na reunião as diretorias do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais) e da Abrainc. Os dirigentes do setor imobiliário foram recebidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad; pela presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano, e pela vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês da Silva Magalhães.

Após três meses seguidos em desaceleração, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial do país medido pelo IBGE, registrou no mês de julho o 1º resultado de deflação no ano, com queda de -0,08% em junho. Diante deste resultado negativo, “o Banco Central tem condições de reduzir a taxa”, defendeu França.

Em 12 meses, o IPCA fechou em alta de 3,16%, taxa bem abaixo da marca registrada para o mesmo período do ano anterior (11,89%).

Como Banco Central manteve a taxa de juros básica da economia (Selic) em 13,75% na sua última reunião, os juros reais – quando descontado a inflação dos últimos 12 meses – seguem em disparada no Brasil restringindo o consumo de bens e serviços no país e elevando as dívidas das empresas, famílias e do próprio governo, que já gastou até maio deste ano com o pagamento dos juros da dívida pública R$ 296,7 bilhões, o que corresponde a uma alta de 58% frente ao que foi pago no acumulado de janeiro a maio do ano passado (R$ 187,5 bilhões).

Por meio de nota, a Abrainc destacou que “o resultado do IPCA de junho é mais uma prova de que o processo inflacionário está sendo controlado no país. Diante desse cenário, é necessário que o Banco Central comece a reduzir a Taxa Selic para estimular o desenvolvimento econômico, social e principalmente a geração de empregos no Brasil”.

A entidade denuncia que a Selic alta, no caso do mercado imobiliário, está inibindo o financiamento para a compra e a construção de imóveis, já que as taxas de juros subiram para dois dígitos nos últimos meses.

Com o mercado imobiliário desaquecido, só neste ano, por exemplo, as vendas de materiais de construção já amargaram quatro resultados negativos seguidos: fevereiro (-2,0), março (-0,4%), abril (-1,2), e maio (-0,9%), segundo dados do IBGE.

Por conta desses resultados, no acumulado dos primeiros cinco meses deste ano, as vendas do setor recuaram em -3,8%, em comparação ao mesmo intervalo de meses de 2022.

França disse que a reunião com o ministro Fernando Haddad serviu para atualizar o governo sobre o andamento do mercado imobiliário e apresentar uma demanda específica à pasta. “O governo já fez muito e está fazendo”, disse Luiz França, citando as novas regras do Minha Casa, Minha Vida.

SENADO

Na quinta-feira (13), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve comparecer no próximo dia 10 de agosto à Casa Legislativa para prestar esclarecimentos sobre a taxa básica de juros do país.

Em junho, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), propôs o pedido de audiência com Campos Neto, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidir manter a taxa em 13,75%, maior patamar em mais de seis anos e meio, quando a inflação está em clara desaceleração e os setores produtivos estão perdendo ritmos em suas atividades diante da falta de demanda.

Para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Randolfe pediu a convocação de Campos Neto. No entanto, a convocação foi transformada em convite diante de um acordo no colegiado. Quando uma pessoa é convocada por uma comissão no parlamento é obrigada a comparecer, caso contrário pode sofrer punições.

“Uma das prioridades dos líderes é a questão da arguição pública acerca do 1º semestre”, disse o presidente do Senado a jornalistas depois de evento no Palácio do Planalto.

“Há um convite para o presidente do BC para 10 de agosto, às 10h, para que ele esteja no Senado e os senadores possam fazer sua arguição”, declarou.

Fonte: Página 8