A comunidade científica brasileira está em alerta. Nesta quarta-feira (19), entidades do setor manifestaram “preocupação” com os boatos de que lideranças e partidos sem compromisso histórico com a causa estariam de olho no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Há 200 dias, desde o início do governo Lula, a pasta é comandada com destaque pela engenheira Luciana Santos, ex-vice-governadora de Pernambuco.

Em nota conjunta, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) pediram coerência ao governo. Segundo as entidades, uma “conquista histórica da comunidade acadêmica”, como o MCTI, não pode passar para o controle de grupos que “não têm compromisso com as causas do conhecimento científico e do progresso econômico e social”.

A nota lembra que a Ciência, essencial para o desenvolvimento do País na “sociedade do conhecimento”, é também “a única capaz de produzir tecnologias e inovação, de que tanto depende o Brasil para realizar as inúmeras potencialidades que derivam de nossa riqueza humana e natural”. Porém, esse projeto de desenvolvimento soberano “depende de uma clara garantia de que o Ministério da Ciência esteja realmente comprometido com o conhecimento científico e com as necessidades de nossa sociedade. O futuro do Brasil não pode estar atrelado a visões do passado”.

A SBPC e a ABC também foram signatárias de uma segunda nota, divulgada pelas entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro – ICTP.Br. O documento lembrou os retrocessos sofridos pela Ciência & Tecnologia sob o governo de Jair Bolsonaro e enalteceu os “esforços” da equipe à frente do MCTI hoje.

“A Ciência brasileira nos últimos anos sofreu com as consequências nefastas de um governo que, tratando a área com particular desprezo, buscou desmantelar a estrutura de execução das políticas públicas e seus instrumentos de financiamento. No novo governo, tem sido muito alvissareiro o início da recuperação das estratégias de interesse nacional em que a Ciência, Tecnologia e Inovação são eixos fundamentais”, apontas as entidades.

Segundo a nota, com o MCTI exposto ao “jogo das negociações”, estão em risco “os esforços dos atuais responsáveis pela pasta em devolver à Ciência brasileira o protagonismo que ela merece e recuperar sua capacidade de fomento. Por essa e outras razões, entendemos que será um enorme prejuízo ao país e à gestão do novo governo qualquer recuo na administração política da atual gestão do MCTI”.