Chegada da BYD à Bahia é mais um passo rumo à reindustrialização do país
O anúncio da instalação do complexo industrial da chinesa BYD (Build Your Dreams) em Camaçari, na Bahia, nesta terça-feira (4), significa a conquista de mais um passo do Brasil rumo à reindustrialização e à geração de emprego. Com investimentos na ordem de R$ 3 bilhões, a expectativa inicial é que a chegada da empresa gere cinco mil vagas de trabalho diretas e indiretas.
O início das operações está previsto para o quarto trimestre de 2024 — mil empregos devem ser criados nessa primeira fase. Ainda não houve confirmação oficial, o que deverá acontecer em breve, mas ao que tudo indica, a fábrica será instalada nas antigas dependências da Ford, fechada em 2021.
No rol de produção da BYD figuram itens como automóveis e caminhões elétricos, chassis de ônibus, empilhadeiras e módulos fotovoltaicos de energia solar. Em Camaçari, a empresa deverá ter três fábricas. Uma para carros elétricos e híbridos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades. A segunda será voltada para chassis de ônibus e caminhões elétricos e a terceira para o processamento de lítio e ferro fosfato para atender ao mercado externo.
A empresa está no Brasil desde 2015, quando inaugurou sua primeira fábrica de montagem de ônibus 100% elétricos em Campinas (SP). Dois anos depois, abriu a segunda fábrica para a produção de módulos fotovoltaicos na mesma cidade. Para abastecer a frota de ônibus elétricos, a empresa iniciou, em 2020, a operação de sua terceira fábrica no país, no Polo Industrial de Manaus (PIM). Além disso, é responsável por projetos de monotrilho em Salvador e em São Paulo.
Atuação governamental
“Trouxemos esse complexo tecnológico da BYD para a Bahia com muito trabalho, suor e dedicação. Todo o esforço, agora, se concretiza em cerca de 5 mil oportunidades de emprego, pesquisa e avanço científico, além do nosso desenvolvimento em equilíbrio com as questões ambientais”, disse o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, pelas redes sociais.
Como forma de garantir a viabilização da nova planta em Camaçari, foram estabelecidos incentivos no âmbito do governo estadual, como a isenção de 95% na cobrança do ICMS até 2032.
“Em termos de geração de ICMS, trata-se de uma produção nova que vai agregar imposto a mais e principalmente na geração de empregos — serão novas pessoas no mercado, com mais poder de renda, consumindo. Então, tem todo um efeito indireto. Esse efeito indireto é mais poderoso ainda porque a empresa tende a atrair novos empreendimentos”, explicou Manoel Vitório, secretário da Fazenda da Bahia, em coletiva nesta terça-feira, quando o anúncio da instalação da empresa foi feito.
Também foi oferecida a isenção de 100% no IPVA para carros elétricos de até R$ 300 mil produzidos na Bahia. “A minha intenção é que a gente possa enviar para a Assembleia Legislativa um projeto de lei para que, nos próximos cinco anos, a gente garanta uma isenção de 100% no IPVA de automóveis elétricos. Isso não diz respeito apenas à BYD, se outra empresa vier para a Bahia produzir veículos elétricos, também terá (a isenção)”, explicou o Jerônimo Rodrigues.
Em reunião no final de julho com Lula e o governador, a presidente da BYD para as Américas, Stella Li, solicitou incentivos federais tanto na produção quanto no consumo dos automóveis, o que está sendo analisado. Além disso, o porto de Aratu poderá ser usado pela empresa para importar matéria-prima e exportar sua produção.
Recuperação de empregos
Do ponto de vista da geração de emprego e renda local, a notícia é especialmente animadora, sobretudo após as demissões resultantes do fechamento da Ford em 2021. “O fechamento da montadora, com a demissão de quase oito mil trabalhadores diretos, gerou uma cadeia na Bahia de 50 mil desempregados indiretos. E impactou aqui na região metropolitana de uma forma terrível. Camaçari se tornou praticamente uma cidade fantasma. As pessoas saíram porque não tinha mais emprego. Foi traumático”, lembra Júlio Bomfim, coordenador do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari e então presidente da entidade.
Naquele momento, o fim das atividades da Ford também desencadeou um efeito dominó que prejudicou vários setores econômicos da cidade e a arrecadação municipal. Conforme noticiado, de acordo com estimativas divulgadas pouco tempo depois pela prefeitura, ao menos R$ 20 milhões deixariam de circular mensalmente na economia local advindos de trabalhadores da Ford. Quanto à arrecadação de tributos municipais, o cálculo da perda girava em torno de R$ 50 milhões por ano.
“Acredito que o retorno do processo produtivo de veículos possa ter impacto de absorção do operador direto, seja no segmento de autopeças ou na montadora, de 40% a 50% do número de demitidos. Deixando claro que isso não significa que os ex-funcionários do complexo Ford tenham emprego garantido na BYD”, diz Bomfim. O dirigente explica que o sindicato está tentando iniciar tratativas com a empresa para a “absorção, ao máximo possível” daqueles trabalhadores.
Para além da situação local, Bomfim avalia que a instalação da empresa é mais uma sinalização da retomada do processo de industrialização do país, que ficou estagnado nos últimos anos. “A questão da reindustrialização brasileira pelo governo Lula e da Bahia pelo governo Jerônimo é importantíssima porque pode estancar a onda de desemprego decorrente da gestão incompetente do ex-presidente Jair Bolsonaro”, finaliza Bomfim.