Estela de Carlotto, coordenadora das Avós da Praça de Maio, saúda Miguel Tano e Julio Santucho, parentes do neto 133 | Foto: Bernardino Avila

As Avós da Praça de Maio, celebraram na sexta-feira (28) o resgate do neto 133, filho dos militantes Cristina Navajas e Julio Santucho, do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, como “um triunfo das políticas de Memória, Verdade e Justiça em meio ao avanço de um discurso negacionista”.

A coordenadora das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, disse, no ato realizado em Buenos Aires, que o jovem, nascido em 1977 no centro de detenção clandestino Pozo de Banfield, é neto de Nélida Navajas, uma referência para o movimento, que faleceu em 2012 sem poder conhecê-lo. “Ele já sabe quem é e de onde vem, uma pessoa muito doce e simpática, cuja vida está para mudar”, declarou.

Carlotto ressaltou que “o sobrenome Santucho é especial pela história familiar”, pois é de uma família dizimada durante a ditadura. Ela informou que o criminoso que se apropriou da criança “é um homem de 91 anos e será julgado”.

Em 13 de julho de 1976, Cristina foi sequestrada por uma patrulha genocida em um apartamento da família Santucho. Ela estava grávida de um terceiro filho, assim como sua companheira militante Alicia Dambra, cujo filho ainda está sendo procurado. Nesse dia, Manuela Santucho, cunhada de Cristina, também foi sequestrada. Julio Santucho encontrava-se então na Argélia cumprindo tarefas militantes.

HISTÓRIA EM DEFESA DA VIDA

O movimento começou em abril de 1977, em plena ditadura, quando 14 mulheres se reuniram na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede da Presidência, em Buenos Aires, para reivindicar por seus filhos desaparecidos, dando início a uma belíssima história em defesa da vida. Devido ao fato de muitas mães argentinas terem como hábito guardar a fralda de algodão dos bebês como recordação, passaram a usá-las como lenço nas cabeças com o nome dos filhos. Eram então chamadas pejorativamente pelo governo militar como as “loucas da Praça de Maio”, até que fizeram a verdade vir à tona.

Até o momento, foram encontradas 133 crianças raptadas entre 1975 e 1983 pela ditadura argentina, mas ainda estão sendo procuradas 400 netos e netas, com cerca de 45 anos, que seguem com sua identidade e história ocultas.

Segundo Carlotto, a nova descoberta fortalece a determinação para que o movimento continue até a recuperação do último neto e confronte aqueles que negam a verdade histórica. Afinal, ressaltou, há quem nas próximas eleições continui reivindicando os genocidas da ditadura, como a advogada Victoria Villarruel, candidata a vice-presidente de Javier Milei, da aliança de extrema-direita “A liberdade avança”, fã de Donald Trump. O deputado Milei “é uma farsa”, sintetizou.

Sobre a campanha oposicionista, a veterana combatente alertou: “Dizem que vão fazer tudo errado e ainda mais rápido. Fizeram o que queriam com o país, continuam mentindo e há quem ainda acredite neles”.

Para Carlotto, nas próximas eleições gerais argentinas, marcadas para 22 de outubro, “é preciso pensar no que postula cada um dos candidatos, quem fala em paz e quem fala em prisão”. Nesse sentido, considerou que “deve-se dizer à sociedade que pense bem e determine o que cada um propõe”, pois “alguns propõem um país para todos e outros o ameaçam”. Precisamos lutar, enfatizou, para que a consciência prevaleça e impeça “que as urnas não nos levem de volta para o inferno”.

Fonte: Papiro