Instalações da fábrica argentina de baterias de lítio | Foto: Reprodução

Com a inauguração da primeira fábrica nacional de baterias de lítio —prevista para setembro— a Argentina avança no desafio de passar de exportador de matérias-primas para essa indústria à condição de criadora de valor agregado, conforme avalia Roberto Salvarezza, presidente da Y-TEC e YPF Lítio, estatais que lidam com a industrialização a partir deste metal.

Localizada na capital da província de Buenos Aires, La Plata, a Planta Nacional de Desenvolvimento Tecnológico de células de bateria de íon-lítio (denominada UniLib) terá inicialmente capacidade para fornecer energia a até 2.500 residências. Será a primeira fábrica do gênero na América Latina.

Juntamente com a Bolívia e o Chile, a Argentina integra o chamado Triângulo do Lítio, região sul-americana que concentra mais de 65% das reservas mundiais desse metal. Depois da Bolívia, o país do sul é o segundo com maiores reservas do planeta, com 20 milhões de toneladas, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). No entanto, a industrialização do recurso até agora era uma tarefa pendente, a fim de aumentar o valor do produto.

Na avaliação do presidente Alberto Fernández, “o mundo está caminhando para os veículos elétricos com baterias de lítio ou com o uso de hidrogênio verde e a Argentina deve gradativamente entrar nesse caminho”. “Por isso implementamos incentivos. Tanto na incorporação da mobilidade sustentável, quanto na produção desse tipo de veículo e sua cadeia de valor, que começa com o lítio”, destacou.

A decisão oficial de priorizar a exploração do “petróleo do futuro”, utilizado na fabricação das baterias para a maioria dos equipamentos eletrônicos, de um automóvel até um celular, sendo um insumo básico da indústria nuclear, terá agora reconhecimento jurídico com a “Lei da Eletromobilidade”.

A usina com base em armazenamento de energia, que será inaugurada oferecerá uma capacidade anual de 15 megawatts-hora (MWh) por ano, o que —complementados com os 75 MWh que serão disponibilizados por outra planta em construção na província de Santiago del Estero (norte)— tornará possível atender a demanda para o armazenamento de energia de origem eólica e solar.

Também se busca produzir para a incipiente demanda por baterias para motocicletas elétricas, embora este ainda seja um mercado pequeno.

Para a realização do projeto, o Estado nacional comprou o lítio extraído em várias províncias do país, inclusive de mineradoras privadas. Esta aquisição foi o primeiro passo de um esforço conjunto entre a Universidade Nacional de La Plata, do Y-TEC —empresa de tecnologia da empresa estatal Yacimientos Públicos Fiscales (YPF)— e do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet).

“Estamos demonstrando que a Argentina tem capacidade para fabricar as células que compõem as baterias”, disse Roberto Salvarezza, presidente da Y-TEC e YPF Lítio, e ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação da Nação (2019-2021), ressaltando que o investimento na industrialização das riquezas minerais e a superação da dependência do exterior nessas questões é uma tarefa chave do Estado.

Com o crescimento da produção dos recursos como norte, Salvarezza considera que o desafio consiste em aprofundar os investimentos em desenvolvimento científico: “A Argentina tem que agregar inovação e tecnologia à sua produção industrial. Essa é a regra em todos os setores produtivos, mas especialmente no lítio”.

“Os países mais desenvolvidos e com maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita são aqueles que possuem sistemas de ciência muito importantes, capazes de gerar inovações, que são então captados por seu setor industrial e transformados em bens de maior valor”, assegurou o ex- ministro.

Embora a escala de produção seja notavelmente pequena em comparação com as fábricas que estão sendo desenvolvidas centralmente na China, Japão e Estados Unidos, a abertura da planta em La Plata é estratégica devido ao seu efeito de longo prazo, ao permitir o acesso a know-how crucial para o desenvolvimento desta tecnologia, assinalou.

“Isso faz parte de um projeto de pesquisa: ainda não está pensado tanto para competir com a venda de baterias, mas para testar a produção. Sem dúvida, é um marco muito importante em termos da aprendizagem tecnológica que isso implica”, considerou o pesquisador do Centro de Estudos Fundar, Víctor Delbuono.

Fonte: Papiro